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Por Evilene Paixão
Lideranças dos povos Yanomami e Ye'kwana realizaram uma manifestação pelas ruas de Boa Vista, capital de Roraima, na quarta-feira, 8 de setembro. O protesto, que incluiu uma intervenção no Monumento ao Garimpeiro, no centro da cidade, incluiu a entrega de cartas às autoridades e órgãos públicos denunciando a escalada da invasão garimpeira na Terra Indígena Yanomami e o colapso no atendimento à saúde da população indígena do território.
A mobilização é resultado do II Fórum de Lideranças da Terra Indígena Yanomami, realizado na região da Tabalascada, município do Cantá, ao norte de Roraima. Durante quatro dias de debates, os participantes deram depoimentos e denunciaram o aumento da violência decorrente da invasão garimpeira, do surto de doenças, mortes e o total abandono do poder público. Indígenas de diversas regiões da Terra Indígena Yanomami (Maturacá, Marauiá, Demini, Novo Demini, Haxiu, Maloca Paapiu, Palimiu, Awaris,, Ajuricaba, Missão Catrimani, Surucucu,, Alto Mucajaí, Baixo Mucajaí e Uraricoera) produziram dois documentos, referentes ao colapso da saúde e ao garimpo.
“Antes era tudo lindo, tudo limpo. Agora, nesse ano, a água virou lama. O garimpo ilegal está se espalhando na nossa terra. Ele chegou em lugares onde a gente não pensava que ia chegar. Agora o peixe não enxerga nada. Agora ficamos preocupados porque o peixe tem mercúrio e não queremos envenenar nossas crianças e adultos. Agora o garimpo está expulsando nossa caça”, diz um trecho da carta sobre garimpo ilegal. Leia a carta na íntegra.
“Estamos muito revoltados com a presença dos garimpeiros que aliciam alguns dos nossos parentes com falsas promessas, destruindo e roubando nossa riqueza, nosso futuro. Os garimpeiros se fingem de amigos, mas depois envenenam as pessoas com drogas da cidade e estupram nossas mulheres e crianças. Os nossos parentes estão ficando viciados e a floresta foi desmatada”, descreve o texto.
Mulheres yanomami relatam que estão desesperadas com a falta de medicamentos básicos que poderiam salvar a vida dos seus filhos. O documento sobre a saúde traz informações sobre óbitos de mais de 40 crianças ocorridos entre o ano passado e esse ano, vítimas de diarreia, pneumonia e malária. E alerta para regiões completamente desassistidas, como no caso do Xitei, em que não há registros atualizados da situação sanitária da população.
“Onde tem garimpo, a saúde é ainda pior. O mercúrio está contaminando os rios e nossas famílias. No Palimiu já nasceram crianças com má formação. A saúde parou de atender no Palimiu e no Kayanau, porque os garimpeiros chegam armados ameaçando a vida de nossos parentes. Em outros lugares, como no Parima, tem funcionário atendendo garimpeiros e vendendo medicamentos por ouro, enquanto nossos parentes sofrem doentes e sem tratamento”, relata trecho da carta sobre a saúde. Leia a carta na íntegra.
A maior Terra Indígena do Brasil, localizada na divisa dos estados do Amazonas e Roraima, com mais de nove milhões de hectares, está invadida por mais de 20 mil garimpeiros. Dados do Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal na Terra Indígena Yanomami mostram que 463 hectares de floresta foram destruídos de dezembro de 2020 a junho de 2021, o que representa um aumento de 21% em relação ao acumulado em dezembro de 2020. A área impactada pelo garimpo soma-se hoje a um total acumulado de 2.702 hectares devastados.
Após três dias de debates no Fórum de Lideranças e como forma de chamar a atenção das autoridades e sociedade roraimense os Yanomami e Ye’kwana se pintaram de preto, como símbolo de luta nas suas tradições culturais e com seus com arcos, flechas e faixas pretas com dizeres “Nossa luta é pela vida” e “Fora Garimpo, Fora Xawara” (doença na língua yanomami), se concentraram em frente ao Monumento ao Garimpeiro, no centro de Boa Vista.
O grupo de cerca de 70 lideranças caminhou em marcha até as sedes do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami e Ye’kwana (Dsei-YY), da Fundação Nacional do Índio (Funai), e do Ministério Público Federal (MPF) em Roraima para entregar os documentos. Apesar de terem solicitado formalmente serem recebidos naquela data, a comitiva não foi recebida pela coordenação do Dsei-YY. Em resposta, a sede foi ocupada por alguns instantes pelos indígenas que foram até a sala do coordenador Rômulo Pinheiro de Freitas, que não se encontrava no local. Em seguida caminharam até a sede regional da Funai. Mesmo resistente, o coordenador Osmar Tavares, recebeu os manifestantes e a documentação.
Por fim, as lideranças indígenas chegaram à sede do Ministério Público Federal (MPF), onde foram recebidos e entregaram cópias dos documentos ao procurador do 7º Ofício, Alisson Marugal. O procurador escutou as demandas das lideranças indígenas e se comprometeu a continuar fazendo o possível para garantir a integridade à saúde e a retirada urgente dos garimpeiros da Terra Indígena Yanomami.
Sete associações da Terra Indígena Yanomami assinam os documentos: Hutukara Associação Yanomami (HAY), Associação Wanasseduume Ye’kwana (Seduume), Associação das Mulheres Yanomami Kumirayoma (AMYK), Associação Kurikama Yanomami (AKY), Associação Yanomami do Rio Cauaburis e Afluentes (AYRCA), Texoli Associação Ninam do Estado de Roraima (TANER), Hwenama Associação do Povo Yanomami de Roraima (HAPYR) e ainda o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kwana (Condisi-YY).
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