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Pico da Neblina, o mais alto do Brasil, reabre para turistas em janeiro

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Ainda há vagas para expedição inaugural de reabertura da visitação ao projeto — gerido diretamente pelo povo Yanomami e que beneficia cerca de 800 indígenas
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Por Juliana Radler

Com seu plano de visitação aprovado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) e pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), os Yanomami comemoram a reabertura do Pico da Neblina para a visitação pública. “É um sonho que estamos realizando. O ecoturismo do povo Yanomami vai guiar os visitantes até o ponto mais alto do Brasil”, diz José Mário Góes, presidente da Associação Yanomami do Rio Cauaboris (Ayrca).



O projeto Yaripo, como os Yanomami chamam o Pico da Neblina, que significa a “Montanha do Vento”, vem sendo discutido desde 2015 pela Ayrca com os parceiros do Instituto Socioambiental (ISA), Funai, ICMBio, Exército e Secretaria de Turismo de São Gabriel da Cachoeira (AM).

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Situado dentro do Parque Nacional do Pico da Neblina em sobreposição à Terra Indígena Yanomami na parte do Amazonas, o Yaripo é o ponto mais alto do Brasil, com 2.994 metros de altitude, na fronteira com a Venezuela, em São Gabriel da Cachoeira, no Noroeste Amazônico.



Depois de várias etapas para a construção do plano de visitação, foram realizadas melhorias de infraestrutura na trilha e na comunidade, e firmadas parcerias comerciais com operadoras de turismo. A reabertura da visitação estava prevista para acontecer em abril de 2020, mas com a chegada da pandemia de Covid-19 foi necessário aguardar o avanço da vacinação.

Primeira expedição

Dia 23 de janeiro sairá a primeira viagem que marcará a reabertura do Pico da Neblina ao público, após mais de cinco anos fechado. Ainda há vagas, com valor promocional de R$ 13.870. Os interessados podem entrar em contato com a operadora parceira dos Yanomami, Ambiental Viagens e Turismo, que estará à frente da primeira expedição.

As outras duas operadoras parceiras, Amazon Emotions e Roraima Adventures, também já estão recebendo reservas para viagens futuras. As três operadoras vão se revezar nas expedições.



Os valores acordados para a expedição são de R$ 13.870,00 por pessoa para grupos de 10 pessoas (máximo), partindo de São Gabriel da Cachoeira. Para grupos com 6 pessoas, o valor é de R$ 20.033 por pessoa. Os valores para grupos de sete a nove viajantes também variam. O projeto Yaripo prevê a realização de no máximo duas expedições por mês, sempre com o limite de 10 visitantes por viagem.

O tempo total da viagem é estimado em 15 dias, dos quais 8 dias são para subir e descer do Pico da Neblina até a comunidade de Maturacá, na TI Yanomami. A subida não requer conhecimento específico de montanhismo ou técnicas de escalada e no ataque ao cume final foram instalados degraus para segurança dos visitantes.

A viagem, no entanto, requer ótimo preparo físico, pois, além da altitude, a trilha é bastante irregular e está numa região de calor intenso, muita umidade com chuvas frequentes, insetos e também frio durante a noite, em especial na parte mais alta do percurso. Recomenda-se preparação e avaliação física prévias para encarar o desafio.

O turista terá a oportunidade de penetrar na floresta amazônica e atingir o ponto mais alto do Brasil sendo guiado pelos Yanomami. Com sorte avistará animais silvestres, encontrará pássaros e plantas exclusivos daquela região, e poderá aprender palavras e cantos dos yanomami, além de ouvir suas histórias.

Awei katehe tëmi harika

Com um orgulhoso “muito obrigado” a todos em Yanomami, José Mário apresentou o projeto Yaripo durante o I Encontro de Turismo Indígena de Base Comunitária, que foi realizado entre os dias 10 e 12 de dezembro, na ilha de Duraka, em São Gabriel da Cachoeira.



José informou que o projeto Yaripo beneficia indiretamente cerca de 800 Yanomami e diretamente em torno de 80. Os Yanomami trabalham no projeto como coordenadores do empreendimento, barqueiros, artesãos, cozinheiros, guias, serviços gerais e carregadores.

O ecoturismo ao Pico da Neblina é visto como uma alternativa de renda importante para a comunidade, ameaçada pelo garimpo ilegal, embora em menor escala do que as localizadas no estado de Roraima. Além do pagamento aos Yanomami envolvidos no projeto de ecoturismo, parte da renda será revertida a um fundo comunitário para benefício de toda a comunidade de Maturacá.

“Para subir o Yaripo tem que receber benção dos pajés Yanomami para que dê tudo certo na viagem e as pessoas fiquem com saúde e satisfeitas”, conta José Mário. Segundo ele, nos últimos meses os “pajés fizeram muitas sessões invocando os Hekura” (espíritos que ajudam a curar doenças) para que sumissem com a Covid-19 e logo os Yanomami pudessem guiar “em paz” os visitantes ao topo do Brasil.

ISA
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