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Por Beto Ricardo
Quando o arcebispo anglicano Desmond Tutu esteve no Rio de Janeiro, em janeiro de 1987,
os organizadores incluíram na agenda uma visita ao Cedi (Centro Ecumênico de Documentação e Informação), situado em uma casa nos fundos do Colégio Sion, no bairro de Laranjeiras, cujo presidente era Paulo Ayres, bispo metodista, negro. O Cedi foi a organização que deu origem ao ISA, e que lutava por direitos humanos.
Com direito a limousine e batedores, Tutu, ganhador do Nobel da Paz em 1984, havia se tornado o mais potente adversário do regime de apartheid na África do Sul - política de segregação racial e discriminação imposta pelo governo de minoria branca contra a maioria negra na África do Sul entre 1948 e 1991. A rua das Laranjeiras foi tomada por ativistas dos movimentos negros, que carregavam faixas.
O bispo e sua comitiva entraram no teatro do colégio utilizando um portão nos fundos. Com isso a equipe do Cedi pode escolher um bom lugar para cobrir o evento. Murilo Santos posicionado no canto do palco registrou todo o evento em vídeo e fotos.
Olhando a plateia, percebi que o Beijoqueiro estava lá, aproximando-se sorrateiramente em direção ao palco. José Alves de Moura, o Beijoqueiro como ficou conhecido, é um personagem folclórico, que se notabilizou por tentar beijar celebridades onde quer que elas estivessem. Quando estava bem próximo do bispo, se lançou em sua direção. O publico presente já tinha visto o Beijoqueiro e gritava: "Beija, beija". Em inglês, Desmond Tutu perguntou a Paulo Ayres: "O que ele quer?" A resposta foi direta: "Ele quer beijar vc".
Acostumado a ser ameaçado de morte, Tutu abriu os braços para o céu e disse: "Deixa ele me beijar", e completou o gesto, para delírio da galera.