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Com nova variante, casos de Covid-19 disparam em São Gabriel da Cachoeira (AM)

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Contaminações aumentaram 2.988% em janeiro com a chegada da Ômicron; 54,3% da população da cidade completou o esquema vacinal
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Por Ana Amélia Hamdan

O município de São Gabriel da Cachoeira, no Noroeste do Amazonas, registrou nos últimos dias uma disparada de casos da Covid-19. Em janeiro, até o dia 26, foram 1.081 casos confirmados, com alta de 2.988% no comparativo com dezembro, que teve 35 casos.

Neste mês, não houve registro de óbitos e, conforme o boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), apenas uma pessoa precisou ser internada, sendo que já teve alta.
Órgãos de saúde afirmam que a crise sanitária foi provocada pela forte circulação da variante Ômicron e alertou que os casos devem continuar a subir nos próximos dias.



Ao todo, o município acumula 9.581 casos da doença, com 110 óbitos. Em janeiro de 2021, o município havia registrado 1.121 casos, porém, em um cenário bem mais desfavorável, pois a vacinação estava apenas começando e o estado atravessava a crise de oxigênio e de superlotação na rede de saúde.

Em janeiro, até o dia 15, São Gabriel registrou sete contaminados no mês. Apenas uma semana depois, no dia 22, esse número saltou para 509.

Segundo informações da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas – Drª Rosemary Costa Pinto (FVS-RCP), considera-se que a variante Ômicron tem transmissão comunitária em todo o estado, pois foi confirmada sua predominância em 93% nos casos confirmados de Covid-19 no Amazonas, entre aqueles submetidos a sequenciamento genômico.

Impactos imediatos

Esse cenário de alta contaminação já provocou uma série de impactos na cidade de São Gabriel da Cachoeira e no território indígena. Mesmo antes que decretos municipais restringissem o protocolo, instituições se mobilizaram e reduziram ou adiaram suas atividades.

O Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro (Dsei-ARN), que atua na região, orienta que eventos sejam suspensos nas comunidades e que os indígenas evitem se dirigir às áreas urbanas.

A movimentação na Unidade Básica de Saúde (UBS) Miguel Quirino, que é referência em São Gabriel da Cachoeira para casos da Covid-19, aumentou, com filas sendo registradas até do lado de fora. A Semsa organizou o serviço, colocando cadeiras inclusive no espaço externo.

Há relatos de pessoas que precisaram esperar até seis horas para serem atendidas. Dos 1.367 testes realizados até 25 de janeiro, 922 deram positivos e 445 foram negativos, ou seja, cerca de 70% das pessoas positivaram.

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Apesar de o município não ter registrado casos graves até o momento, a situação requer atenção. Conforme a FVS-RCP, com a disseminação da variante Ômicron para o interior do estado, é esperado que nas próximas semanas ocorra um aumento no número de casos nesses municípios.

“No entanto, é difícil estabelecer quantos casos e até quando se dará esse aumento, pois somente o comportamento da população em relação às medidas de prevenção e às restrições implementadas é que poderão fazer com que os números comecem a diminuir na capital e no interior do estado”, informa o órgão.

O pesquisador Felipe Naveca, virologista do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), disse que ainda não há como precisar até quando os casos da Covid-19 devem continuar aumentando, mas tudo indica que o pico ainda não foi atingido nem em Manaus, nem no interior. “Se seguir a lógica de outros países onde a Ômicron passou, teremos a redução na segunda quinzena de fevereiro”, disse.

Ele alerta ainda que casos graves podem ocorrer. “Estamos vendo o efeito da vacina nos salvando. Mesmo com menos casos, infelizmente, ainda veremos alguns casos graves”, afirmou Naveca.



Em São Gabriel da Cachoeira, no mês de janeiro (até o dia 26) houve uma internação por Covid-19, sendo que o paciente já teve alta. Já em Manaus, as internações estão aumentando.
O Governo do Estado informa que, em 25 de janeiro, havia 596 pacientes internados na capital, sendo 490 em leitos clínicos e 106 em UTI. Desses, 238 não são vacinados, 145 têm esquema vacinal incompleto e 127 têm esquema completo. Além disso, havia 140 pessoas internadas no interior.

Em 3 de janeiro, em Manaus havia 46 pacientes internados por Covid-19, sendo 27 em leitos clínicos e 19 em UTI. Outras 13 pessoas estavam internadas com suspeita da doença. Também havia 25 pacientes internados no interior.

Índice vacinal

Outro fator que preocupa é o índice vacinal completo – que evita que os casos se agravem – abaixo do recomendado pelos órgãos de saúde. Conforme levantamento da FVS-RCP, no município de São Gabriel da Cachoeira, incluindo área urbana e comunidades indígenas, 54,3% da população estava com o esquema vacinal completo até 25 de janeiro.

A FVS-RCP informou ainda que, na última semana, o Governo do Estado se reuniu com prefeitos e as secretarias municipais de saúde para que fossem tratadas das dificuldades encontradas para avanço na cobertura vacinal contra a Covid-19.

Alguns fatores citados incluem questões psicossociais e crenças em informações falsas, além de falta de conectividade à internet, acessibilidade/logística e qualificação de recursos humanos.

Durante a reunião foi solicitado que os gestores municipais tracem as melhores estratégias para que o Governo do Estado possa dar apoio de acordo com as necessidades de cada local.

A orientação dos órgãos de saúde é para que a população reforce as medidas preventivas. “Não temos outra solução”, explicou o virologista da Fiocruz Amazônia, Felipe Naveca.

Entre essas medidas, estão:

- Reduzir ao máximo o contato com pessoas fora do seu círculo familiar, ou seja, com pessoas que não moram na mesma casa

- Evitar locais fechados e com pouca ventilação

- Usar máscara sempre que não estiver só, preferencialmente as do tipo N95 e PFF2
Lavar as mãos várias vezes ao dia com água e sabão ou usar álcool em gel

- Se vacinar

Segundo o pesquisador, cabe ao poder público proibir qualquer evento de massa que possa ampliar o contágio, além de aumentar a divulgação da importância de se vacinar. “A população precisa contribuir, aderindo à vacinação e evitando aglomerações”, completou.

Falta de testes

Antes que houvesse decretos determinando restrições, instituições da cidade começaram a reduzir o atendimento devido ao adoecimento de colaboradores e como medida de prevenção à contaminação.

Entre essas instituições está a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e o próprio Instituto Socioambiental (ISA).

Instituições de ensino também tiveram que readequar suas atividades. O Governo do Estado já havia adiado a retomada do ano letivo de 7 para 14 de fevereiro. A Defensoria Pública no município também circulou informe divulgando a necessidade de redução do atendimento.

Como em outras partes do país, o município corre o risco de ficar sem testes, pois devido à alta demanda provocada pela variante Ômicron, os fornecedores estão com dificuldade de atender aos pedidos.

Adelaide Amorim, secretária municipal de Saúde de São Gabriel da Cachoeira, disse que o município está seguindo nota técnica do Governo do Estado e realizando testes somente nos sintomáticos. O órgão está se mobilizando junto a parceiros para tentar reforçar os estoques de testes, que já estão baixos.

Em 19 de janeiro, o município publicou decreto restringindo a circulação de não vacinados e autorizando o atendimento remoto nas escolas municipais.

Logo em seguida, no dia 24, foi publicado decreto municipal mais restritivo, cancelando os festejos de carnaval e exigindo a apresentação do cartão com o esquema vacinal completo nos mais diversos comércios.

Uso de máscara e oferta de álcool em gel são mantidos como obrigatórios. Eventos privados, como casamentos e formaturas, podem ser realizados desde com a presença máxima de 200 pessoas, com 50% da lotação total do espaço.

A Vigilância Sanitária e o Procon farão a fiscalização, assim como os órgãos de segurança.



Terras indígenas

O Dsei-ARN, que atua em comunidades indígenas em São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos, já divulgou ofícios com orientação a seus colaboradores e aos indígenas.
Conforme o órgão, a alta de casos em área urbana já começa a se refletir no território indígena. Casos da Covid-19 foram confirmados em janeiro em alguns polos-base, sendo que as contaminações são de pessoas que estiveram na área urbana. Em dezembro não havia tido registro de novos casos.

Dessa forma, o Dsei-ARN orienta aos indígenas aldeados que evitem seguir para as cidades nas próximas semanas. Em caso de necessidade, a comunidade deve eleger um representante para resolver as questões na sede do município e, ao retornar, que este cumpra o período de quarentena.

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Orienta-se ainda o uso de máscara, lavagem das mãos com água e sabão e isolamento familiar caso um integrante da família seja caso suspeito ou confirmado de Covid-19. Além disso, em nota foi orientada a não realização de eventos que causem aglomeração no território.

O Dsei Yanomami, que atua em comunidades no Amazonas (em área dos municípios de São Gabriel e Santa Isabel), informa que a alta de casos ainda não se refletiu na área indígena. Mas dois indígenas que se encontravam na cidade e retornaram às suas aldeias testaram positivo. Há preocupação com indígenas que se deslocam para as áreas urbanas principalmente em busca de benefícios sociais.

Desde o início da pandemia, São Gabriel da Cachoeira demanda atenção especial, já que o município concentra a maior população indígena do país. Conforme especialistas em saúde, esse grupo é mais vulnerável, pois é mais suscetível a doenças respiratórias e tem maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde.

Vacinação de crianças

A imunização das crianças de 5 a 11 anos ainda não teve início em São Gabriel, mas essa ação deve começar nos próximos dias. A FVS-RCP liberou, inicialmente, 280 doses da Pfizer destinadas a esse público. Essas doses chegarão ao município nesta quinta-feira, dia 27/1, em voo da Azul, que está trazendo gratuitamente as vacinas para São Gabriel da Cachoeira.

No caso do território indígena, a aplicação é feita pelos Dseis. Conforme o Dsei-ARN, o órgão ainda não tem data definida para começar a aplicar a vacina em crianças que vivem nas comunidades indígenas. O Dsei Yanomami informa que a imunização desse público deve ter início em fevereiro.

ISA