Essa é a versão antiga do site do ISA que ficou no ar até março de 2022. As informações institucionais aqui contidas podem estar desatualizadas. Acesse https://www.socioambiental.org para a versão atual.
Quase metade da destruição ocorreu em florestas públicas federais, mostram dados do Imazon
O desmatamento na Amazônia em 2021 é o maior dos últimos 10 anos! É o que revela o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) em levantamento divulgado no início deste ano. Os dados mostram mais de 10 mil quilômetros de mata nativa devastadas no ano passado — um crescimento de 29% em relação a 2020.
Nessas áreas, a destruição aumentou 21% em comparação com 2020. As unidades de conservação federais também foram devastadas pelo desmatamento, com um aumento de 10% em relação ao ano anterior.
O estado do Pará é a região com mais desmatamento da floresta, com 39% da devastação registrada em toda a Amazônia em um ano. Os estados do Acre, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins também tiveram as maiores áreas de floresta destruídas em 10 anos.
Segundo nota técnica elaborada pelo Instituto Socioambiental (ISA) em dezembro de 2021, a partir de dados do programa Prodes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o salto no desmatamento em Terras Indígenas também foi alarmante, de 138% em comparação entre a média dos três anos do governo atual (2019 a 2021) com os três anos anteriores (2016 a 2018).
O crescimento do desmatamento em áreas protegidas mostra que as falas do atual governo incentivam a ideia de que a boiada pode seguir passando em Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Os recordes de desmatamento na Amazônia revelam um cenário de destruição que é impulsionado pelas políticas anti-ambientalistas implementadas pelo atual governo.
Dados do Cadastro Ambiental Rural (CAR) apenas reforçam a urgência de mudança nos rumos da política socioambiental no Brasil. Entre 2018 e 2020, os registros irregulares no CAR em sobreposição a áreas protegidas aumentaram 56% e justamente nesses registros irregulares, o desmatamento aumentou 63% nos últimos dois anos.
Em um ano eleitoral, é importante ficarmos atentos a esse modus operandi e escolher representantes que proponham, na prática, saídas para esse cenário de devastação.
Em 24 de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro sancionou o orçamento do ano de 2022. Apesar de ter mantido o fundo partidário de R$4,9 bilhões e valor de R$ 1,7 bilhão para reajuste de servidores, foram vetados R$3,18 bilhões de recursos que haviam sido aprovados. Os vetos, que atingiram principalmente os Ministérios do Trabalho e da Educação, representam cortes para áreas de pesquisas científicas e políticas públicas voltadas para populações indígenas e quilombolas, além de incidirem sobre projetos de consolidação de assentamentos rurais, reforma agrária, regularização fundiária e políticas de igualdade e enfrentamento à violência contra as mulheres.
Conexões entre desmatamento e roubo de terras em áreas protegidas e florestas públicas e não destinadas foram apontadas pelo ISA em 2021. O que se vê é a continuidade de um processo de apropriação ilegal de terras da União. Grileiros e madeireiros seguem invadindo e cadastrando ilegalmente as áreas desmatadas no Cadastro Ambiental Rural.
O atual Código Florestal restringe o percentual da propriedade privada que pode ser utilizada, de acordo com o bioma que o imóvel está inserido. Em áreas localizadas na Amazônia Legal, 80% da propriedade deve ser registrada como Reserva Legal. Esse registro é feito pelo proprietário do imóvel, no órgão ambiental de sua região através do CAR.
Florestas públicas não destinadas pertencem ao estado (na instância federal ou estadual), e são áreas que ainda não possuem uso definido. Essas áreas, que deveriam ser destinadas à conservação ou ao uso por populações tradicionais e originárias, sofrem grande pressão de grileiros.
Veja imagens que mostram o antes e depois da invasão de terras na região de Altamira, revelando como invasores desmataram além do limite estabelecido pelo Código Florestal.
Faleceu aos 95 anos, no dia 14 de janeiro, o poeta e jornalista amazonense Thiago de Mello.
Em sua trajetória, ele resistiu à ditadura militar com sua arte, por meio de poemas. Foi membro da Academia Amazonense de Letras e recebeu o destaque de Personalidade Literária do Prêmio Jabuti em 2018.
Conhecido como o "poeta da floresta", sempre ressaltou a importância da preservação da Amazônia e difundiu as problemáticas da região nas suas obras. Sua obra deu nome a última Bienal de São Paulo: “Faz escuro, mas eu canto”.
Abaixo, um trecho do poema "Os estatutos do Homem":
(...)
Artigo Final.
Fica proibido o uso da palavra liberdade.
a qual será suprimida dos dicionários
e do pântano enganoso das bocas.
A partir deste instante
a liberdade será algo vivo e transparente
como um fogo ou um rio,
e a sua morada será sempre
o coração do homem.
Santiago do Chile, abril de 1964
Publicado no livro Faz Escuro Mas Eu Canto: Porque a Manhã Vai Chegar (1965).
Em uma cena simbólica e emocionante, Davi Seremramiwe, indígena Xavante de 8 anos, foi a primeira criança vacinada no Brasil contra a Covid-19. Ele é natural do Mato Grosso mas está morando em Piracicaba desde de 2021, pois realiza seu tratamento de saúde no Hospital das Clínicas. As crianças indígenas estão no grupo prioritário da etapa da vacinação infantil contra a Covid-19, assim como as quilombolas.
A Vacina é um ato de honra aos nossos ancestrais!
Hoje foi um dia simbólico na Luta Pela Vida. Vacinamos o primeiro parentinho, uma criança indígena imunizada contra o vírus e todo o projeto de morte do governo Bolsonaro.
Estamos há um ano em campanha pelo #VacinaParente. pic.twitter.com/4zho9tlUdY— Apib Oficial (@ApibOficial) January 14, 2022
Ainda que a vacinação de Davi e outras crianças indígenas traga esperança, lideranças indígenas cobram mais políticas focalizadas na saúde. Para a Folha de S.Paulo, a líder Txai Suruí disse que ficou muito feliz ao saber a notícia.
“A gente deveria ter começado a vacinar crianças há muito tempo e a gente sabe por que isso não aconteceu", afirmou Txai.
A vacinação continua sendo a forma mais eficaz de frear a contaminação, uma ferramenta fundamental para o controle da pandemia.