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Morre o antropólogo Patrick Menget (1942-2019)

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Um dos primeiros etnógrafos dos Ikpeng partiu no último sábado (13/4). A antropóloga Oiara Bonilla, orientada por Menget na Universidade Paris Nanterre, recupera sua trajetória e presta a ele sua homenagem

Ainda o vejo subindo as escadarias de madeira da Sorbonne, com sua maleta de couro num ombro, e um monte de livros na outra mão. Na mesa de um café no 14º arrondissement de Paris, lendo Le Monde. Em alguma paisagem carioca, entre o Museu Nacional e a beira do mar, tomando uma caipirinha, falando de política e antropologia com humor e sagacidade.

Patrick Menget faleceu no último dia 13 de abril, em Budapeste, na Hungria. Seu coração, imenso, sucumbiu. Foram anos de vida intensamente dedicados à antropologia, com afeto e generosidade. Antropólogo, professor desde a década de 1970, na Universidade de Paris X-Nanterre (1970-1995) e depois na École Pratique des Hautes Études (EPHE), de 1996 a 2011, onde ocupou a cadeira que fora de Marcel Mauss.

Era um professor "de verdade", no sentido da expressão como ela é usada, às vezes, por nossos amigos indígenas quando falam de "gente de verdade". Formou e orientou várias gerações de antropólogos e antropólogas e, mais do que isso, ensinou antropologia com cuidado, paixão e uma erudição impressionante. Sempre acessível e acolhedor. Sem pompa. Nesse sentido, sua influência vai muito além de suas publicações e contribuições acadêmicas.

Em 1977, defendeu sua tese sob orientação de Claude Lévi-Strauss. Foi a primeira etnografia do povo Ikpeng, recentemente contatado, e cuja população estava reduzida a menos de uma centena de pessoas. Quando chegou no Xingu em 1967, os Ikpeng acabavam de ser transferidos para a área do Parque Indígena do Xingu (MT), onde vivem até hoje. Marcada pelo estilo analítico do Harvard Central Brazil Project, ao qual ele esteve ligado através de sua relação acadêmica com David Maybury-Lewis, com quem estudou entre 1965 e 1967, sua tese ampliou a paisagem etnográfica da época abrindo-a para a região amazônica e o conjunto das terras baixas da América do Sul. Sua obra está associada à origem do americanismo tropical: em 1976, participou da discussão sobre a necessidade de transformação da linguagem analítica da disciplina para dar conta das sociocosmologias indígenas. Publicou uma quantidade de artigos em torno de questões que, até hoje, são centrais para a disciplina: parentesco, onomástica, couvade, guerra e dinâmicas de captura, etnohistória, ritual e política, assim como estudos sobre a história da antropologia.

Além do trabalho etnográfico pioneiro, suas reflexões teóricas foram essenciais para o desenvolvimento das questões ligadas às funções constitutivas da guerra e da inimizade na paisagem sociológica amazônica, fundamentos para os desdobramentos teóricos posteriores em torno da questão da construção social e ritual dos corpos indígenas, e da predação ontológica como axioma de base.

Sempre conectado com a atualidade brasileira e com seus amigos indígenas, Patrick Menget conciliava trabalho acadêmico e engajamento político. Incansável batalhador pelas causas indígenas, cofundou a sede francesa da ONG Survival International, da qual foi diretor por muitos anos. A última vez que conversamos foi por telefone, em janeiro deste ano. Ele estava muito preocupado com a situação política do Brasil, e principalmente, com a dos povos indígenas que agora, mais do que nunca, estão na mira de um governo truculento e anti-indígena. Que a memória de sua trajetória de força, conhecimento, alegria e generosidade forme um caminho possível e nos guie nestes tempos sombrios que temos de atravessar.

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