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Estiagem incomum neste início de 2015 e aumento do consumo, aliados a sistemas trabalhando no limite, colocam cidades do Mato Grosso em risco de sofrer racionamento de água. Diminuir o consumo, fazer investimentos e recuperar e manter a floresta são alternativas para evitar a crise hídrica.
A maioria dos mato-grossenses assiste indiferente a falta de água que assola os moradores do Sudeste. As preocupações são outras como a falta de rodovias e outras infraestruturas. Grande parte deles nem imagina que muitos municípios do Mato Grosso podem estar à beira de um colapso no abastecimento de água.
Pesquisa feita pelo ISA (Instituto Socioambiental) no site do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia), que tem uma estação do 9º Distrito de Meteorologia de Mato Grosso, localizada a 9 km da cidade de Canarana, verificou que as chuvas estão abaixo da média no atual período. Nas últimas 14 temporadas (que se estendem de junho a maio), a média tem sido de 1.841 mm de chuva. Somando as chuvas que caíram de junho do ano passado a janeiro deste ano, o total é de 1.123 mm em Canarana. seriam necessários ainda 718 mm de fevereiro a maio para alcançar a média, lembrando que na maioria dos anos a chuva cessa no início de abril.
As poucas chuvas deixaram o nível dos rios, em pleno período chuvoso, parecido com os níveis do período da seca. Para Ildo Gromann, responsável de rede da CAB (Companhia Ambiental de Canarana), empresa privada de abastecimento de água, o Rio Tanguro que abastece a cidade e se localiza a 7 km do centro, está menos de um metro acima do nível registrado no período da seca. Ele afirma que se os níveis do rio baixarem muito e as bombas não conseguirem captar água, uma solução seria barrar o Tanguro.
Além disso, apesar de a cidade ter cerca de 500 poços, rasos e artesianos, que não sobrecarregam a CAB, muitos estão secando em plena época chuvosa. Gromann avalia que na seca muitos desses poços estarão sem água e quase toda cidade utilizará o sistema, que terá de captar mais água do Tanguro e não se sabe qual será o seu nível nos meses de seca. Ele lembra que a adutora que traz a água para cidade já está operando com sua capacidade máxima. E, além disso, a cada dia, em média, é feita uma nova ligação de água na cidade,, que está em pleno desenvolvimento.
A colonização da região Araguaia Xingu começou na década de 1970 por sulistas que tinham um perfil agrícola. Seu Natalício Djalmo Kuhn chegou a região em 1976 para trabalhar na agricultura e está assustado :“Em quase 40 anos de Mato Grosso, eu nunca vi uma estiagem como essa”, disse.
Somando-se a chuva abaixo da média, os poços secando, o crescimento populacional e sistema operando no limite, o futuro pode trazer problemas. “Racionamento acho difícil, mas não está descartado”, diz o representante da CAB. Tudo depende de como irá se comportar o tempo e as chuvas até o mês de maio, quando se encerra o período chuvoso. Os institutos de meteorologia, entretanto, não preveem muita chuva até lá.
Abundância não livra o Mato Grosso de uma possível crise hídrica
Conforme notícia publicada em novembro do ano passado no jornal A Gazeta de Cuiabá, o maior de Mato Grosso, o estado pode passar por uma crise de falta de água semelhante à que ocorre em São Paulo em menos de 10 anos. Segundo o periódico, alguns municípios mato-grossenses enfrentam racionamento desde 2013 (saiba mais).
Além da falta de água, há problemas com sua qualidade por conta da contaminação por esgoto, fertilizantes e defensivos agrícolas. “Hoje, Mato Grosso é exportador de água, mas a continuar nesse ritmo de degradação, em menos de 10 anos sofreremos com graves problemas de falta de água, em uma situação idêntica à de São Paulo.
Com o crescimento das cidades e a impermeabilização dos solos, os lençóis freáticos não absorvem a quantidade necessária da água da chuva. Somado às mudanças climáticas e à poluição dos rios, o cenário é preocupante”, avaliou Décio Siebert, presidente do Comitê do Rio Seputuba e especialista em recursos hídricos.
Para evitar racionamento, em primeiro lugar é preciso de água e para ter água é preciso de chuva. Mas outras medidas podem ser tomadas para ajudar. Uma delas é conscientizar a população a economizar. Em Canarana, a média de consumo diário de água por pessoa, ultrapassa os 250 litros. A ONU considera que uma pessoa pode viver bem com menos da metade, com 110 litros de água por dia.
Edson Prado, secretário de Saneamento e Serviços Urbanos de Querência, cidade vizinha de Canarana, concorda que a população da região precisa urgentemente se conscientizar que a água é um bem finito. A companhia de água da cidade, administrada pela prefeitura, tem estrutura para atender até 35 mil habitantes, quase o triplo da população atual. A situação em Querência, abastecida com a água de sete poços artesianos, é tranquila no momento, mas Prado lembra que os moradores da região precisam começar a economizar. Também precisam ser levados em consideração os investimentos.
Com o crescimento das cidades mato-grossenses, os sistemas de algumas cidades, diferentemente de Querência, estão trabalhando no limite de sua capacidade. Em Canarana, por exemplo, trata-se da construção pela Companhia Ambiental de mais uma adutora para trazer água do Rio Tanguro e que estará concluída este ano.
A proteção da floresta e a recuperação das matas ciliares também são primordiais para a água. É com isso que há mais de 10 anos a Campanha Y Ikatu Xingu (Salva a água boa do Xingu) vem trabalhando, na proteção e recuperação das nascentes do Rio Xingu, na região de Canarana. Estima-se que já foram desmatados quase seis milhões de hectares de vegetação nativa nesta bacia (33% da cobertura vegetal original), causando assoreamento dos rios afluentes do Xingu. Até o momento, já foram restaurados mais de dois mil hectares de matas ciliares que se encontram em diferentes estágios de crescimento.