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Tatuagem e tecnologia a serviço da identidade do povo Kawaiwete

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Leticia Leite

A última etapa da Formação em Gestão Territorial e Serviços Socioambientais no Xingu teve início nesta quarta-feira (8), no Polo Diauarum, no Parque Indígena do Xingu (PIX), e vai até o dia 24. O curso é conduzido pelo ISA e pela Associação Terra Indígena do Xingu (Atix) e dele participam 32 indígenas vindos de várias regiões do PIX, que irão apresentar seus trabalhos de conclusão de curso (TCC).
Um desses alunos é o cacique Pirasī Kaiabi que escolheu como tema de seu trabalho as pinturas corporais de seu povo ou Jupot como são chamadas as tatuagens na língua Kawaiwete.

Os Kawaiwete ou Kaiabi, como também são chamados, são a etnia mais populosa do Parque Indígena do Xingu (PIX) e poderão ser em breve a mais tatuada. Isso se depender dos esforços do cacique Pirasī. No mês de agosto ele articulou a vinda de uma tatuadora profissional à sua aldeia, a Ilha Grande. que marcou para sempre os rostos de 40 indígenas. Os homens receberam o mesmo desenho que o cacique, linhas que lembram o prolongamento do sorriso e as mulheres um desenho diferente logo abaixo do queixo. Conheça um pouco mais da história do cacique Kaiabi.

As descobertas de Pirasï

Em suas pesquisas, Pirasï descobriu que a tatuagem estava relacionada a uma das festas mais simbólicas de seu povo: a Jowosi, que havia muitos anos não se realizava e estava se perdendo na memória kaiabi. Aos 40 anos e desde que iniciou a formação há três anos, ele já organizou duas festas. O Jowosi era o momento em que se comemoravam as antigas disputas por território e se exibia a cabeça do inimigo.

Hoje, o cacique busca outros símbolos, que não a morte, para manter viva a festa tradicional, como os cantos, as comidas e, principalmente, a pintura corporal. Ele afirma que a Jowosi atualmente marca a passagem dos jovens para a vida adulta. Durante a festa os padrinhos da mesma etnia tatuam seus afilhados que após terem os corpos marcados também recebem um novo nome. Ele percebeu que os jovens não queriam mais tatuar os rostos e os velhos tatuados já estavam morrendo. Tatuagem para ele é cultura e coisa séria. “Cultura tem que ser viva. Sem cultura nós não somos nada”.

Pirasī explica que procurou a tatuagem do branco porque os mais novos não queriam passar pelo ritual feito com espinho e tintas extraídas de árvores tradicionais e poucas pessoas na aldeia dominam a técnica ancestral de fazer a tatuagem. O cacique também explica que a árvore tradicional de onde é extraído o líquido da tatuagem Kaiabi não é encontrada no Xingu, somente nas margens do Rio Teles Pires. Os Kawaiwete são originários da região do Alto Teles Pires e foram trazidos ao PIX pelos irmãos Villas-Bôas na década de 1960. Hoje, estão espalhados por diversas aldeias localizadas na região do Polo Diauarum, no PIX.

Em agosto deste ano, Pirasī perguntou a seu povo se interessava deixar ser marcado por um tatuador branco que utilizaria máquina e agulha em vez de espinho e a tinta extraída de árvores. Com a concordância das pessoas, chamou uma tatuadora profissional, branca, que seguiu as regras definidas pelos anciões da aldeia. Somente maiores de 17 anos poderiam receber a pintura e durante a semana não poderiam comer farinha para que a tatuagem não ficasse fraca.

Ao ser perguntado se tatuagem com máquina é tradicional, Pirasï respondeu:

“É tradicional sim. É nossa! Não foi ela [a tatuadora] que inventou este desenho. Por isso eu considero que a tatuagem é do povo Kawaiwete. Ela não pegou este desenho numa revista. Está no rosto do nosso povo que existe ainda. Aparelho que ela usa é só tecnologia”.Até ser tatuado Pirasï era chamado de Siranho e como ele, os 40 indígenas tatuados também mudaram de nome. Este mês, o cacique iniciou a articulação para um curso de capacitação. Quer ver os mais novos aprenderem a tecnologia usada pela tatuadora Jordana Lara e quem sabe os padrinhos possam usar essa técnica para tatuar seus afilhados na próxima festa Jowosi.

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