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Primeiro encontro foi realizado na Barra do Turvo, de 7 a 9 de novembro
Contribuir para a formação educacional e política de jovens entre 16 e 29 anos, moradores do Vale do Ribeira é o objetivo da Formação de Agentes Socioambientais (FAS). A iniciativa é do Instituto Socioambiental, que tem o apoio do Fundo Nacional de Meio Ambiente/Ministério do Meio Ambiente (FNMA/MMA), e atende 150 jovens de 14 municípios da região. A formação terá cinco turmas, que participarão de cinco módulos no total e deverá se encerrar em agosto de 2015.
Durante a capacitação, os agentes elaborarão projetos e campanhas baseados nas demandas locais, para o desenvolvimento rural sustentável, e cinco deles terão apoio técnico e financeiro para sua implementação.
Entre 7 e 9 de novembro foi realizado, na Barra do Turvo, o Módulo 1 da primeira turma, envolvendo também participantes de Cajati e Eldorado. Entre eles, um jovem professor Guarani M’bya, quilombolas, agricultores e filhos de agricultores.
Conhecer para valorizar
Os jovens fizeram reflexões a partir da história da região, conceitos em educação ambiental e ações que acontecem no Vale do Ribeira. Além das palestras, as rodas de conversa e discussões em grupo permitiram a troca sobre as diferentes realidades das comunidades de origem dos participantes.
A valorização do modo de vida dessas comunidades foi destaque na conversa sobre o contexto regional. O Vale do Ribeira é lembrado como a região mais pobre do Estado de São Paulo e do Paraná. No entanto, a percepção dos jovens sobre sua realidade mostra que riqueza e pobreza são conceitos que devem incorporar elementos muito além de indicadores econômicos.
Apesar das dificuldades em relação à renda, oportunidades de trabalho para os jovens permanecerem na região e gravidez precoce, a paixão e orgulho pelo Vale do Ribeira foram destacados pelos participantes. A identidade histórica e o conhecimento sobre a origem de suas comunidades foi debatida em roda de conversa.
Vilson Batista Moreira, 19 anos, é morador de Areia Branca, comunidade quilombola que tem parte de seu território em Bocaiúva do Sul (PR) e parte na Barra do Turvo (SP). Viveu um tempo em Curitiba, trabalhando na construção do estádio Arena da Baixada, junto com imigrantes haitianos, mas retornou à sua casa. Sua vida como agricultor familiar lhe traz mais satisfação e autonomia. É membro da Cooperafloresta, associação de agricultores agroflorestais, que comercializa produtos com certificação orgânica em mercados institucionais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), feiras e outros mercados. “Nossa comunidade é bem unida, e toda semana faz algum mutirão, para ajudar quem precisa”, diz Vilson, comparando essa situação com a frieza das relações pessoais na capital paranaense.
Iniciativas em educação ambiental realizadas na região também foram discutidas. Alan Kenedy Vieira Pereira, 17 anos, morador do Quilombo Sapatu, em Eldorado, participa do projeto Meninos Ecológicos. É desenvolvido pela Fundação Florestal, Idesc, Prefeituras de Eldorado e Pariquera-açu, com recursos da Elektro, e envolve cerca de 15 jovens na produção de mudas de espécies nativas para doação, palestras em escolas e para grupos, e atividades no Parque Estadual Campina do Encantado e Parque Estadual Caverna do Diabo. Alan gosta de participar do projeto, e diz já ter aprendido várias coisas novas, como produzir adubo a partir de fezes de galinha.
Projetos comunitários começaram a ser construídos
Além de músicas e poesias que estimularam as discussões e serviram de inspiração como instrumentos para campanhas e projetos, os jovens também assistiram aos vídeos “Saneamento Básico”, de Jorge Furtado, e “Marangmotxíngmo Mïrang – Das crianças Ikpeng para o Mundo”, de Natuyu Yuwipo, Karané e Kumaré Txicão. (Assista ao vídeo). O primeiro é uma comédia sobre uma comunidade numa pequena cidade gaúcha, que se reúne para reivindicar a construção de uma fossa para o tratamento de esgoto, e para isso precisa elaborar um projeto. O segundo é um vídeo-carta produzido por cineastas indígenas, onde quatro crianças apresentam a aldeia onde vivem, em resposta a vídeo feito por crianças de Sierra Maestra, em Cuba.
Os jovens tiveram a oportunidade de apresentar suas comunidades em diferentes atividades. Cada um elaborou um “mapa social”, desenho que representava o território e as relações sociais que mais se destacavam para eles. Em outro momento, compartilharam objetos que representavam o local onde vivem. A diversidade de artefatos levados foi grande: camisetas de grupos de cavalgada e grupos culturais, artesanatos em palha de banana, milho e madeira, alimentos como arroz e gengibre, músicas, entre outros.
Lucieli Santos da Silva, 19 anos, trajando vestido e turbante coloridos, até ensaiou alguns passos da dança tradicionalmente feita durante as celebrações à Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, no Quilombo de Ivaporunduva, em Eldorado, mostrando um pouco das tradições de sua comunidade.
Moradora do bairro Paraíso, na Barra do Turvo, Maria Cecília de Almeida, 21 anos, apresentou uma maquete que demonstrava a captação de água de chuva feita por um vizinho. A estudante de pedagogia era uma das mais empolgadas ao final do módulo, comentando que o aprendizado dos três dias contribuiria muito para sua comunidade e para sua vida profissional.
No retorno à casa, os jovens têm o compromisso de compartilhar com suas comunidades o aprendizado deste módulo, apresentando os objetivos da formação e a ideia inicial do projeto que querem desenvolver localmente. Para isso, deverão utilizar algumas das ferramentas vistas durante o módulo, como o mapa social, diagrama de Venn e a linha do tempo.
Até o dia 7 de dezembro, outras quatro turmas se reunirão em Iguape, Registro, Eldorado e Apiaí, para participar do Módulo 1.
Próximos passos
Os temas dos próximos módulos, que acontecerão de fevereiro a agosto de 2015, são políticas públicas e gestão territorial, legislação e adequação ambiental das propriedades, biodiversidade e manejo agroecológico, e elaboração de projetos e campanhas.
Espera-se com esta iniciativa o fortalecimento das comunidades atendidas, a formação de agentes locais motivados e críticos, a ampliação da participação da juventude nos espaços de construção de políticas públicas e a realização de projetos e campanhas que contribuam para o desenvolvimento e a valorização das comunidades rurais do Vale do Ribeira.
O projeto tem diversos parceiros, que contribuíram para a elaboração da proposta, mobilização dos participantes e realização dos cursos: Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Ribeira de Iguape e Litoral Sul (CBH-RB), Centro de Educação, Profissionalização, Cultura e Empreendedorismo (CEPCE), Centro Integrado de Estudos Multidisciplinares (CIEM/MME), Fundação Florestal, Fundação Nacional do Índio (Funai), Igreja Batista de Eldorado, Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto para o Desenvolvimento Sustentável e Cidadania do Vale do Ribeira (Idesc), prefeituras municipais de Apiaí, Barra do Chapéu, Eldorado, Iporanga, Jacupiranga e Registro, Rede Cananéia, Sindicato Rural de Cajati e Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Acompanhe o projeto em www.ciliosdoribeira.org.br