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Na fronteira com a Colômbia, São Gabriel da Cachoeira recebe primeiro vestibular indígena da Unicamp

Universidade paulista viajou para o município mais indígena do Brasil para aplicar a prova, que teve 610 inscritos
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Considerada a melhor universidade da América Latina pela revista britânica Times Higher Education, a Unicamp realizou no domingo (2/12) o primeiro vestibular indígena da instituição. São 72 vagas. O curso mais procurado é o de Enfermagem, com 96 candidatos por vaga. A prova foi aplicada no no município brasileiro com o maior percentual de população indígena no Brasil: São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, onde 90% dos habitantes pertencem às 23 etnias do Rio Negro. A realização da prova no município foi uma conquista do movimento indígena, através de reivindicações feitas pelos departamentos de Jovens e de Educação da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn). Segundo a Unicamp, os alunos indigenas aprovados terão moradia, transporte e alimentação.




“Sinto que existe necessidade de ter gente bem formada na área econômica na minha comunidade e por isso optei em fazer vestibular para Ciências Econômicas”, comenta João da Silva, do povo Baniwa, que prestou prova ontem no colégio São Gabriel, na sede do município. Os Baniwa estão envolvidos na produção de produtos da floresta, como a pimenta Baniwa e o artesanato. João quer ampliar seus conhecimentos com os números para aplicá-los na sustentabilidade da sua comunidade no Rio Içana, Terra Indígena Alto Rio Negro, na fronteira com a Colômbia.

O mesmo pensa a jovem Paula Sampaio Azevedo, de 18 anos, da etnia Tukano, que optou pelo curso de Administração. Nascida na comunidade de Matapi, no Rio Tiquié, TI Alto Rio Negro, Paula pretende administrar negócios sustentáveis. Embora muito concorrido, Paula disse que se preparou bem para a prova e saiu otimista com o seu desempenho. Já Carlos Orjuela, do povo Tuyuka, de 23 anos, deseja se tornar enfermeiro para trabalhar na saúde indígena em São Gabriel, um dos locais que mais necessita de profissionais com conhecimento da região e dos aspectos socioculturais. “Ninguém melhor do que nós mesmos para trabalhar na saúde indígena. A gente conhece as nossas doenças, falamos a nossa língua. Mas, precisa abrir mais vaga porque somente duas para enfermagem é muito pouco”, ressaltou Orjuela, que pretende unir os tradicionais benzimentos indígenas ao conhecimentos da “medicina dos brancos”.



Comunicadores indígenas em ação

A Rede de Comunicadores Indígenas do Rio Negro está participando ativamente do primeiro vestibular indígena da Unicamp em São Gabriel da Cachoeira. Além de três jovens da Rede estarem prestando o vestibular, os integrantes estão envolvidos na divulgação do vestibular indígena, participando das entrevistas e apoiando a equipe da Unicamp na produção local. Daniela Patrícia, do povo Tukano, de 23 anos, é uma das comunicadoras da Rede que ontem fez o vestibular para o curso de Comunicação Social/Midialogia. Dani, como é conhecida, gosta de audiovisual, fotografia e tecnologias da informação. Ela espera conseguir uma das duas vagas para a graduação e depois de concluir seus estudos, voltar para São Gabriel e trabalhar pelo fortalecimento da sua cultura, produzindo documentários e reportagens.



A Unicamp fez uma reportagem especial com um podcast sobre a Rede de Comunicadores Indígenas do Rio Negro. Veja aqui.

Para Adelina Sampaio, do povo Desana, coordenadora do Departamento de Jovens da Foirn, a realização do vestibular em São Gabriel da Cachoeira amplia as chances de acesso dos indígenas ao ensino superior na melhor universidade do Brasil. “A gente sempre lutou pela democratização do acesso à universidade pública. Muitos indígenas daqui nunca teriam a oportunidade de ir até Campinas para fazer a prova. Mesmo em Manaus fica difícil, pois estamos a mais de 800 quilômetros de distância da capital. O movimento indígena através de sua luta pela educação indígena soma mais essa vitória. Teremos ainda as provas da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos) e da UnB (Universidade de Brasília) em São Gabriel”, comemora Adelina.

O coordenador executivo do vestibular da Unicamp, José Alves de Freitas Neto, disse que foi surpreendente a concentração de estudantes de São Gabriel da Cachoeira que se inscreveram para o concurso. O professor informou que ainda não são todos os cursos da universidade com vagas reservadas aos indígenas, mas que esse primeiro vestibular foi importante para apontar a enorme demanda das comunidades para determinadas áreas, como de saúde e de ciências humanas, com preponderância para administração e pedagogia.

Resultado do Vestibular indígena da Unicamp

A prova do vestibular indígena da Unicamp realizada ontem em São Gabriel também ocorreu em Campinas, onde fica a universidade, em Dourados (MS), Recife (PE) e em Manaus (AM). A prova foi em língua portuguesa, composta de 50 questões de múltipla escolha e uma Redação, dividida da seguinte maneira: Linguagens e códigos (14 questões); Ciências da Natureza (12 questões); Matemática (12 questões); Ciências Humanas (12 questões); e uma Redação. O resultado será divulgado no dia 29 de janeiro de 2018, a partir das 18 horas, pelo site www.comvest.unicamp.br.

Juliana Radler
ISA
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