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Estradas ilegais, explosão do garimpo, queimadas, invasões, grilagem de terras e avanço da agropecuária marcaram o ano na bacia do Xingu. Quase 40 mil hectares foram desmatados ilegalmente em Terras Indígenas e Unidade de Conservação
No ano passado 168.110 hectares foram desmatados na bacia do Xingu, área maior do que o município de São Paulo, em um ritmo de seis árvores derrubadas por segundo. O avanço da atividade agropecuária, grilagem de terras, garimpo, queimadas e sensação de impunidade explicam as altas taxas.
Quase 40 mil hectares foram desmatados ilegalmente dentro de Áreas Protegidas do Corredor Xingu, o conjunto de Terras Indígenas e Unidades de Conservação da bacia, um aumento de 52% em relação ao ano de 2018. “O avanço do desmatamento dentro dessas áreas é resultado da redução das ações de fiscalização e do desmantelamento das políticas indigenista e ambiental no país”, explica Ricardo Abad, especialista em sensoriamento remoto do ISA.
Os dados são do 16º boletim Sirad X, o sistema de monitoramento de desmatamento da Rede Xingu +, uma articulação de indígenas, ribeirinhos e seus parceiros que vivem ou atuam na bacia do Xingu. [Acesse aqui a publicação].
Em 2019, três Terras Indígenas (TI) sofreram intenso processo de invasão de grileiros e madeireiros no norte da bacia do Xingu. Apesar das operações de fiscalização realizadas na região em outubro, as TIs Cachoeira Seca do Iriri, Apyterewa e Ituna/Itatá foram as mais desmatadas em novembro e dezembro de 2019. As três lideram o ranking das mais desmatadas na Amazônia, superando mais de 7 mil hectares de floresta destruídos no ano passado. [Saiba mais]
Em quarto lugar, a TI Trincheira Bacajá, morada do povo Xikrin, teve 3.969 ha desmatados em 2019, superando em 95% todo o desmatamento ocorrido em 2018. Três frentes de invasão ativas explicam as altas taxas. Em um intervalo de apenas seis meses, entre junho e janeiro de 2020, uma estrada ilegal foi reativada nas TIs Apyterewa e Arawete/Igarapé Ipixuna, cujo traçado expandiu 40 km para dentro do território dos Xikrin em sua porção sudoeste.
Uma pista de pouso clandestina foi reaberta em um dos afluentes do rio Fresco, no sudeste da Terra Indígena Kayapó. No último bimestre de 2019 houve um aumento de 25% no desmatamento detectado em comparação aos dois meses anteriores, consequência da expansão do garimpo ilegal.
Quase 90% de todo desmatamento detectado em Unidades de Conservação entre novembro e dezembro aconteceu dentro da APA Triunfo do Xingu, no Pará. No topo do ranking do desmatamento entre todas as Áreas Protegidas no Brasil, a região contabilizou 36 mil hectares de floresta destruídos em 2019, o equivalente a 82 árvores derrubadas por minuto. A APA ganhou mais um recorde: em seu interior foi registrado o maior polígono de desmatamento em 2019, com cerca de 4.900 ha hectares.
A UC é vizinha de outras Áreas Protegidas - Estação Ecológica (Esec) Terra do Meio, Parque Nacional (Parna) Serra do Pardo e Terra Indígena Kayapó. “O crescente desmatamento na APA e a baixa fiscalização fizeram com que atividades ilegais que historicamente aconteceram dentro dessa UC virassem um problema regional que ameaça todas as Áreas Protegidas de seu entorno”, pondera Elis Araújo, advogada do ISA.