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De bispo a cacique: Rede Wayuri dá voz à diversidade do Rio Negro em cobertura eleitoral

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Coletivo de comunicadores indígenas e rádio FM O Dia se uniram para cobrir as eleições municipais em São Gabriel da Cachoeira (AM); parceria inédita gerou o programa semanal “Papo da Maloca”
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Pela primeira vez na história de São Gabriel da Cachoeira (AM), município mais indígena do Brasil, as eleições municipais contaram com uma cobertura especial. Comunicadores indígenas da Rede Wayuri fizeram podcasts e entrevistas em vídeo com os candidatos a prefeito e também cobriram ao vivo a votação em uma parceria inédita com a rádio FM O Dia, ligada ao grupo A Crítica, de Manaus — o maior grupo de mídia do Amazonas. A cobertura foi destaque no jornal da TV Cultura.

Sany Brasil, radialista da rádio FM O Dia em São Gabriel, parceira da Rede Wayuri, ressaltou a importância do coletivo de mídia para os indígenas, a cidade e o estado. “Ainda há muito desconhecimento sobre a nossa cultura e diversidade. Mesmo dentro do nosso estado as pessoas não sabem quais línguas são faladas no Rio Negro, não conhecem os rios dessa bacia. Precisamos ter as vozes daqui contando essas histórias”, afirmou.

A primeira cobertura das eleições municipais da Rede Wayuri se transformou em uma grande oficina para os comunicadores. Ao longo de 30 dias, e com a assessoria do Instituto Socioambiental (ISA), eles mergulharam no fazer jornalístico. “A gente se sente nervosa quando começa a entrevista, ou diante das câmeras, mas depois começamos a nos acostumar. Foi muito importante acompanhar as eleições e perceber como as pessoas aqui são carentes de informação”, contou Daniela Patrícia, do povo Tukano, repórter Wayuri.



Daniela e Cláudia Ferraz, do povo Wanano, entrevistaram os candidatos à Prefeitura de São Gabriel. O material foi veiculado por meio da rádio FM do município, de áudios de WhatsApp e do canal de YouTube da Rede Wayuri. Clóvis Curubão (PT), do povo Tariano, foi reeleito com 50,36% dos votos (total de 11.197 votos). Em segundo lugar ficou o candidato da coligação Podemos, com seis mil votos (26,99% do total).

No dia das eleições, uma equipe de três comunicadores Wayuri saiu às ruas para enviar entrevistas em tempo real à rádio FM, onde estavam Cláudia e Sany. Falaram à população nomes como o Bispo da Diocese de São Gabriel, Dom Edson Damian, e o cacique Luiz Laureano, do povo Baniwa, importante mestre da cultura rionegrina.



Além dos áudios gravados por Daniela e enviados ao estúdio da rádio, os cinegrafistas Moisés Baniwa e Álvaro Socot, do povo Hup’dah, gravaram entrevistas em vídeo com vários eleitores, retratando a diversidade étnica da São Gabriel que foi às urnas. “Nós estivemos em todos os seis colégios eleitorais da sede. Vimos a movimentação e testemunhamos que a eleição foi bem calma e organizada em nosso município”, comentou Moisés.

Para Cláudia, a cobertura das eleições pelo time de locutores, repórteres de rua e produtores mostrou a importância do trabalho em equipe. Todo o processo contou com reuniões da Rede Wayuri e das assessorias dos candidatos para entrevistas e definição de regras.



Inicialmente, a rede pretendia promover um debate entre os seis candidatos, mas, por falta de condições de segurança, o juiz eleitoral do município recomendou que não acontecesse ao vivo. A alternativa encontrada foram entrevistas individuais. O prefeito eleito será entrevistado pela Rede Wayuri para contar quais são seus planos para o segundo mandato e os principais desafios de sua gestão.

Papo da Maloca

A parceria entre a Rede Wayuri e a Rádio FM A Crítica, única rádio FM local a operar no município, já deu o primeiro fruto. Neste sábado (21/11), estreou o programa “Papo da Maloca”, conduzido por Cláudia e Elizângela da Silva, do povo Baré. As duas comunicadoras comandam duas horas ao vivo com entrevistas, músicas indígenas e temas importantes para o Rio Negro e povos indígenas. A estreia teve como tema “Como os povos indígenas do Rio Negro estão enfrentando a pandemia de Covid-19?”.



A iniciativa contou com apoio do Internews Rapid Response Fund, que visa construir uma rede global de comunicadores voltados às questões de saúde. A Rede Wayuri tem especial atenção aos desafios da área de saúde pública, sempre produzindo informações nas línguas e adaptadas ao contexto cultural da região. O coletivo foi fundamental para transmitir informações na crise da malária, em 2018, e agora faz a diferença também na pandemia de Covid-19. Os comunicadores indígenas fizeram uma cobertura transmídia, com foco na mobilização social para a promoção da saúde, usando do carro de som ao áudio de WhatsApp.

Juliana Radler
ISA
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