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A vacinação contra a Covid-19 começou esta semana na Terra Indígena Yanomami, a maior do Brasil e a mais vulnerável à Covid-19 na Amazônia. Segundo a Hutukara Associação Yanomami, agentes de saúde nas comunidades de Kudatanha e Waikás, na região de Auaris, já estão aplicando a CoronaVac -- vacina do laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. De acordo com documento repassado pelo Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye'kwana (Condisi-YY), 20 polos-base na Terra Yanomami receberam doses da vacina e estão aptos a vacinar a população local. O documento não traz detalhes sobre o número de vacinados, impedindo o acompanhamento da situação da vacinação.
No entanto, o momento de esperança é marcado pela denúncia da morte de nove bebês com sintomas de Covid-19 nas comunidades Waphuta (4) e Kataroa (5), na região do Surucucu, em Alto Alegre, norte de Roraima. A Rede Pró Yanomami e Ye’kwana, um coletivo de pesquisadores e apoiadores, emitiu uma nota ontem exigindo a apuração do caso e denunciando o descaso sistemático das autoridades com os indígenas.
Segundo reportagem publicada nesta quinta-feira (28/01) pelo G1, um ofício do Condisi-YY, assinado pelo presidente do órgão, Júnior Hekurari Yanomami, foi mandado ao Ministério da Saúde com a denúncia das mortes e um pedido de envio de profissionais de saúde. De acordo com Júnior Yanomami, os postos de saúde na região onde os bebês morreram estão fechados há dois meses. O documento também cita que há pelo menos outras 25 crianças indígenas com sintomas de Covid-19 e em estado grave.
Como sublinhou a Rede Pró Y-Y no comunicado, a falta de atendimento médico adequado na Terra Yanomami não é uma novidade e contribuiu para piorar a pandemia de Covid-19 no território. “A diminuição do número de profissionais de saúde na TIY e a consequente ausência de ações continuadas para controle sanitário e prevenção de doenças nas comunidades, sobretudo nas mais distantes dos postos de saúde, contribuem para o aumento da mortalidade infantil, malária, doenças respiratórias, entre outras”, diz o documento.
AInda segundo o grupo, índices epidemiológicos publicados pelo Dsei-Y nos últimos anos revelaram que o baixo peso das crianças gerava “desnutrição aguda” e “sintomas clínicos como diarreias, facilmente tratáveis”, o que abria caminho para doenças “mais severas e gripes comuns”, que por vezes se transformam em pneumonias.
A Rede Pró-YY monitora o avanço da Covid-19 na Terra Yanomami desde o início da pandemia. Segundo os últimos dados, 1.641 casos foram confirmados até agora, dentre eles 16 óbitos. Outros 14 óbitos foram registrados como suspeitos, sem a inclusão dos nove bebês. Em dezembro, a organização preparou em parceria com o Fórum de Lideranças Yanomami e Ye'kwana o relatório “Xawara: rastros da covid-19 na Terra Indígena Yanomami e a omissão do Estado”, revelando que, até o fim de outubro de 2020, as principais vítimas do novo coronavírus eram em sua maioria idosos e bebês. O estudo também revelou que, em um período de três meses, o vírus avançou 250% nas comunidades.
“Além de denunciar o atual descontrole da pandemia na Terra Indígena Yanomami, o estudo (...) apresentou em detalhes como ela avançou na maior Terra Indígena do Brasil devido à omissão do Governo”, afirma a nota. “Com a virada do ano, o que vemos é mais do mesmo - omissão e descaso - e os casos confirmados de Covid-19 continuam aumentando. Mesmo com o início da vacinação entre os Yanomami e Ye'kwana na TIY, a Covid-19 ainda é uma forte preocupação para os indígenas que ainda sofrem com o aumento vertiginoso da malária, principal comorbidade que tem acometido essa população”.