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Foi numa ensolarada manhã de sábado, em setembro último, que 67 jovens, de 16 a 29 anos, vindos de diversos bairros rurais de municípios paulistas e paranaenses da região do Vale do Ribeira ocuparam o auditório do Centro Cultural Kaigai Kogyo Kabushiki Kaisha (KKKK), em Registro. Acompanhados por familiares e pessoas de suas comunidades, estavam ali para a última etapa da formação de agentes socioambientais (FAS), processo que se iniciou dez meses antes, e que resultou na elaboração de 31 projetos e cinco campanhas de educação ambiental.
Na abertura do que foi chamado “Módulo Integrado”, Luiza Dulci, assessora especial de juventude do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), representando o ministro Patrus Ananias, ressaltou a importância das iniciativas propostas pelos jovens, mostrando a força da agricultura familiar no Vale do Ribeira. Franciene Araújo, analista do Ministério do Meio Ambiente (MMA), técnica responsável por acompanhar o desenvolvimento do projeto, destacou o empenho dos agentes e a qualidade das campanhas e projetos elaborados. O deputado federal Nilto Tatto, um dos idealizadores do projeto, quando ainda era coordenador do Programa Vale do Ribeira do ISA, elogiou os jovens por encararem um grande desafio da atualidade: manter o encantamento pela agricultura, buscando práticas de produção que dialoguem com a proteção aos recursos naturais.
O professor Marcos Sorrentino, da Esalq/USP, fez uma exposição em que valorizou o papel da educação ambiental popular para que a humanidade alcance a sustentabilidade. Apresentou cinco conceitos para o empoderamento da juventude: o diálogo (saber ouvir e saber comunicar); a identidade (sentimento de pertencer a algum lugar); a comunidade (acolhimento, apoio mútuo); a potência de agir (poder de transformar o mundo) e a felicidade (resultado da somatória dos quatro conceitos anteriores). Para Sorrentino, é necessário acreditar nos sonhos e na união entre as pessoas, para desenvolver tecnologias, trocar experiências e ter conexão entre as comunidades.
Após a palestra, os jovens apresentaram as campanhas elaboradas por cada turma e receberam o certificado de conclusão da formação. O grupo Batucajé do Vale encerrou as atividades do período da manhã, com poesias e músicas que evocam as riquezas dessa região. Em um momento de grande emoção, os jovens ocuparam de surpresa o palco do evento, exaltando sua alegria e gratidão pelo processo. Joyce Cardoso, caiçara da Enseada da Baleia, na Ilha do Cardoso, disse que a FAS lhe mostrou ser possível transformar o mundo a partir de sua comunidade. Vanessa de França, do quilombo São Pedro em Eldorado, emocionada, falou sobre a satisfação em ver despertar em seus colegas um sentimento de orgulho por serem quilombolas. Um agradecimento especial e comovido, foi feito em guarani por Tupã Werá Mirim, da Aldeia Pindoty, em Paranaguá (PR).
Projetos e campanhas serão executados nos próximos quatro meses
Em um dos salões do KKKK, pôsteres exibiam os projetos comunitários, enquanto os jovens explicavam aos presentes suas propostas de intervenção. Alessandra Rezende e Sérgio Rodrigo Cunha, de Porto Cubatão (Cananéia), estavam felizes ao falar sobre seu projeto, “Mangue é Vida”. A iniciativa surgiu da constatação sobre a grande quantidade de lixo existente nas áreas de mangue, localizadas na comunidade, e a necessidade de alertar a população e os turistas sobre os impactos negativos desse tipo de poluição. Os jovens planejam organizar mutirões de limpeza e oficinas voltadas às crianças, utilizando os materiais coletados.
Restaurar nascentes e matas ciliares é a proposta dos jovens Bruno da Silva, Leonardo Marinho, Lucas Soares e Luciele da Silva, do quilombo de Ivaporunduva, em Eldorado. Apesar da comunidade ter grandes remanescentes florestais, identificaram que áreas importantes para a proteção de rios estavam desmatadas, o que poderia gerar problemas no futuro próximo. Como o turismo de base comunitária é muito forte em Ivaporunduva, os jovens pensaram em incluir no roteiro de visitas as ações de plantio, para complementar os mutirões que a própria comunidade fará ao longo do projeto.
As iniciativas dos jovens entusiasmaram os presentes. Claudemir Marques, liderança do assentamento PDS Alves, Teixeira e Pereira (bairro Guapiruvu) e vereador em Sete Barras, disse que a comunidade estava muito satisfeita em ver a proposta desenvolvida por cinco de seus jovens e que as organizações de agricultores locais discutiram a possibilidade de viabilizar a implantação do projeto, cujo objetivo é reformar o barracão onde acontecem as atividades comunitárias, como reuniões, recepção de visitantes, festividades etc.
A assessora territorial do MDA no Vale do Ribeira, Tânia Silva, que acompanhou a formação como colaboradora, reforçou a importância das comunidades aprenderem a escrever seus próprios projetos, para pleitearem os recursos que são disponibilizados por meio de editais.
Doze dos projetos apresentados pelos jovens serão apoiados o que significa que receberão recursos financeiros e suporte técnico, até o final de janeiro de 2016. Veja aqui a relação dos projetos.
Os projetos serão implementados em sete municípios, e envolvem comunidades caiçaras, quilombolas, indígenas e agricultores familiares, em ações de valorização da cultura tradicional a partir do manejo de recursos naturais e da culinária, reaproveitamento de materiais descartáveis, implantação de fossas biodigestoras, capacitação para a produção orgânica, implantação de cisterna, restauração de matas ciliares, conservação de sementes de milho, confecção de aquecedores solares e formação de jovens.
No mesmo período, serão executadas cinco campanhas, que tiveram seus temas desenvolvidos por cada uma das turmas, pensando em situações comuns existentes em suas comunidades. São elas: proteção dos manguezais; produção agroecológica; conservação dos rios; contra agrotóxicos e plante sua comida. Os jovens criaram panfletos, que darão suporte às ações planejadas por eles, como visitas, palestras, intervenções públicas, entre outros.
O Instituto Socioambiental (ISA) realiza, desde junho de 2014, o projeto “Formação de agentes socioambientais de educação ambiental na agricultura familiar e implementação de projetos comunitários de educação ambiental”, (FAS) que tem por objetivo contribuir para a formação educacional e política de agentes locais que promovam o desenvolvimento socioambiental do Vale do Ribeira. Envolveu jovens entre 16 e 29 anos, quilombolas, indígenas, caiçaras, assentados e agricultores familiares, que foram divididos em cinco turmas com representantes dos municípios de Apiaí, Barra do Chapéu, Barra do Turvo, Cajati, Cananeia, Eldorado, Ilha Comprida, Iporanga, Pariquera-açu, Registro, Ribeira e Sete Barras, além dos paranaenses Bocaiúva do Sul e Paranaguá.
Ao longo de dez meses, esses jovens passaram por discussões a respeito de identidade local, valorização da agricultura familiar, acesso às políticas públicas voltadas ao campo, produção, comercialização e a juventude, gestão territorial, manejo agroflorestal, biodiversidade e legislação. Além disso, escreveram projetos comunitários e campanhas educativas, que serão implementados na próxima etapa desta iniciativa.
Este processo é apoiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente (FNMA/MMA), Goldman Environmental Foundation (GEF) e Jewish Community Federation (JCF). São parceiros na implementação do projeto o Centro Integrado de Estudos Multidisciplinares (CIEM/CPRM), Fundação Florestal, Funai, Itesp, ICMBio, Prefeitura Municipal de Registro, associações e cooperativas de agricultores familiares.
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