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Cerca de 40 yanomami, entre homens, mulheres, crianças e velhos, oriundos das comunidades Xikawa e Cachoeirinha se mobilizaram em torno da coleta da castanha. As atividades de apoio ao extrativismo indígena na região do Ajarani vêm sendo desenvolvidas desde 2010, fruto de uma parceira entre Hutukara, ISA e a Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami Yekuana (FPEYY) da Funai com o objetivo de construir alternativas econômicas sustentáveis que supram as demandas criadas pelo contato dos Yawaripë (grupo Yanomami) com a sociedade nacional e pela consequente desestruturação cultural e material dessas comunidades decorrente da construção da Perimetral Norte e a ocupação de seu território por fazendeiros.
Além disso, o apoio às atividades de coleta de castanha se insere em um conjunto mais amplo de ações destinadas também a garantir a proteção do Território Yanomami. (Saiba mais).
Afora a renda obtida com a venda dos produtos, um dos principais resultados do projeto tem sido o estímulo à ocupação de outras áreas da região, contribuindo tanto para a retomada do modelo de ocupação tradicional (plurilocal) quanto para abrandar os efeitos do confinamento territorial imposto pela ocupação não índígena na TIY.
A região do Ajarani, localizada no limite leste da TI Yanomami, foi uma das portas de entrada para a invasão do território Yanomami por não indígenas, sobretudo na década de 1970, durante a construção da rodovia Perimetral Norte. O contato com a sociedade nacional deixou profundas marcas nas comunidades da região, tanto por haver desorganizado o sistema produtivo e a vida aldeã desses grupos, quanto pelas baixas demográficas, resultado das sucessivas epidemias de gripe e sarampo, além da malária e da tuberculose.
Coleta e a comercialização da castanha
Para este ano os Yawaripë se organizaram em quatro grupos de coleta, constituídos por relações de afinidade e parentesco, e permaneceram por quase um mês acampados próximos aos castanhais. O bom ânimo e o entusiasmo demonstrado pelos Yawaripë são indicadores de como é importante estimular essa circulação, ainda que estes espaços sejam utilizados apenas por um período determinado do ano. Os Yanomami tradicionalmente possuem esta maneira de ocupação do seu território. É comum que comunidades inteiras passem longas temporadas em acampamentos de caça, por exemplo. (Veja abaixo o mapa com os castanhais dos Yawaripë).
Nos castanhais o trabalho se inicia com a limpeza do arredor das castanheiras e a coleta dos ouriços, que são empilhados para serem quebrado depois. Os Yawaripë, em sua maioria, quebram os ouriços sobre folhas de bananeira, apoiando-os sobre dois pedaços de pau. E, durante o processo de quebra, as crianças que acompanham seus pais ajudam retirando as castanhas dos ouriços recém-abertos, além de acender o fogo que espanta os ferozes carapanãs.
Os ouriços podem permanecer sem serem quebrados por dias, até que a sua castanheira de origem seja a próxima do circuito de quebra. Ao fim desse processo, as castanhas são colocadas em sacos de fibra e transportadas para o acampamento, onde são lavadas e colocadas para secagem. Além da mesa de secagem construída pelo ISA, os Yawaripë utilizam também lonas estendidas ao sol. Só para dar um exemplo, em meio dia de trabalho (das 8h às 12h) uma das duplas que trabalhava no castanhal, quebrou o equivalente a um saco de sessenta quilos.
Terminada a coleta nos acampamentos, toda a castanha retirada foi transportada para as aldeias e submetida mais uma vez ao processo de secagem. E, seis dias depois, com o auxílio de um caminhão, a produção foi levada para Boa Vista para ser vendida nas feiras da cidade. Além do apoio logístico, Hutukara e ISA participaram destas etapas discutindo também a adoção de boas práticas nos processos de seleção, transporte e armazenagem das castanhas.
O projeto encerrou-se nesse ano com o apoio nas compras em Caracaraí. A atividade foi realizada no dia 19/7/2013, com duas viagens entre as comunidades e Caracaraí. Entre outros produtos, foram comprados materiais que contribuam para o fortalecimento da autonomia econômica e territorial, como por exemplo, motor rabeta e ferramentas, vislumbrando, assim, a construção das bases para a mudança que se espera no bem viver dessas comunidades.