Essa é a versão antiga do site do ISA que ficou no ar até março de 2022. As informações institucionais aqui contidas podem estar desatualizadas. Acesse https://www.socioambiental.org para a versão atual.
Coletar as sementes nas árvores nem sempre se faz com os pés no chão. Por isso, os grupos de coleta do Parque Indígena do Xingu (PIX) e da Terra Indígena Panará agora podem coletar as sementes das árvores altas com mais segurança. Entre os dias 6 e 11 de julho, 21 coletores de 10 aldeias dos povos Ikpeng, Waurá, Kawaiwete, Yudja e Panará, participaram de uma oficina de escalada.
Além da segurança indispensável para o trabalho, com esta capacitação os coletores poderão planejar a coleta de algumas espécies antes de elas caírem no chão, melhorando a qualidade das sementes da Rede de Sementes do Xingu (RSX). Todas as aldeias receberam kits de escalada, com cordas, mosquetões e outros equipamentos.
“O pessoal adorou, o clima estava muito bacana e foi muito produtivo. Os instrutores se impressionaram com a habilidade e facilidade com que os indígenas aprenderam as técnicas para manuseio dos equipamentos”, disse o técnico do ISA, Dannyel Sá. Além dele, também participaram os técnicos Adryan Nascimento e Manuela Otero.
Victor Amaral, responsável técnico da Via de Reis, sediada em Minas Gerais, empresa que ministrou a oficina, parabenizou o foco, a inteligência e a prática responsável dos indígenas: “Interessante observar o quão incrível é ensinar algo interessante a quem está interessado. Todo mundo sobe em árvore quase como brincadeira, mas ninguém quer cair. Segurança é fácil de aprender. Nos deixaram imensamente orgulhosos e satisfeitos em diversos níveis e só fortalece quem somos”, disse.
Além da Via de Reis, a oficina contou também com instrutores indígenas que já haviam feito o treinamento em outras oportunidades. Tawaiku Juruna e Jurupiat Kaiabi participaram como instrutores. Eles já praticavam a escalada desde a primeira capacitação que aconteceu no Xingu e a partir daí trabalhavam com as técnicas como coletores. A participação de ambos como instrutores valorizou o trabalho que já desempenham, além do diálogo de indígena para indígena que eles têm e que facilita muito o aprendizado.
Tawaiku Juruna disse que com esse novo equipamento o trabalho fica mais seguro. “Juntou com o que nós já temos, a gente confiou mais, vai facilitar mais ainda o nosso trabalho. Quando voltar para nossa aldeia, nós já vamos coletar e com segurança. Isso que a gente vai ficar mais atento. Com o que eu aprendi aqui com essas novas técnicas, mais para frente eu posso ensinar outras pessoas com segurança, como é o jeito que usa o equipamento, cuidado com o equipamento, ter a segurança na hora de fazer uma atividade, todos nós, porque agora é a minha responsabilidade aqui dentro da minha comunidade”.
Jurupiat Kaiabi falou que o aprendizado adquirido vai ajudar no trabalho dos coletores. “A gente procurou essa ajuda para melhorar o nosso equipamento novo, está sendo bom para nós, está sendo bem seguro a gente fazendo o trabalho com ele. Tenho certeza que vai ajudar os coletores que somos nós, estar mais seguro lá em cima. Esse novo equipamento que está aqui dá mais coragem para trabalhar lá em cima”.
Para Dine Kegkrimpo Ikpeng a aula de alpinismo também vai auxiliar no trabalho das coletoras. “Porque as coletoras se arriscam para ajudar a nossa comunidade nas colheitas e nas outras coisas que possam talvez precisar no momento. Essa aula foi muito importante para mim, gostei muito, estou aprendendo pela primeira vez. Me sinto mais seguro porque o equipamento, a corda e demais outros equipamentos ajudam muito você a trabalhar lá em cima. Eles me fizeram me sentir seguro lá em cima”.
O presidente da AIMCI, Pytha Ikpeng, disse que a oficina vai trazer mais benefícios para a comunidade com o aumento da colheita de sementes das árvores mais altas. “Aqui são muitas etnias, do Alto, do Médio e do Baixo [Xingu]. Eu espero que os alunos dessa oficina aproveitem ao máximo para que eles desenvolvam para a sua comunidade o aumento da colheita de sementes”.
A oficina foi uma realização da Associação Indígena Moygu – Comunidade Ikpeng (AIMCI), da Rede de Sementes do Xingu e do ISA. O treinamento foi realizado no Polo Pavuru, no Médio Xingu.