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Especialistas em botânica afirmam que o Cerrado tem em torno de 12 mil espécies de plantas identificadas e que as ainda não identificadas seriam de mais 12 mil. Conhecer tais espécies é fundamental para os coletores de sementes. Atenta a isso, a Rede de Sementes do Xingu, mais do que uma rede de coleta, está formando coletores para que ampliem seus conhecimentos sobre a flora do Cerrado e da Amazônia.
“Dominar a flora local não pode ser um privilégio dos cientistas. Isso é um patrimônio brasileiro e todos têm o direito de dominar esse conhecimento”, defende a professora de botânica da Universidade Estadual de Mato Grosso (Unemat), campus de Nova Xavantina, Beatriz Schwantes Marimon. A coletora Herta Ehrleich, que mora em Canarana, elogiou o curso: “Gostei muito, porque têm muitas sementes que a gente não conhece e aqui estou aprendendo a identificá-las. Esse é um dos melhores cursos que já fiz até hoje. Aprendi, por exemplo, que as sementes da copaíba do mato e do Cerrado são idênticas, mas o que as diferenciam é a árvore”.
Já D. Odete Severino Barbosa, coletora no Projeto de Assentamento Macife II, em Bom Jesus do Araguaia, quer aumentar sua produção de sementes: “Eu trouxe num caderno as folhas de árvores que a gente não conhece. Na minha terra tem um bocado de árvore que dá um mundo de semente que a gente não conhece. Agora que estou aprendendo, vou poder aumentar a coleta”.
Durante as atividades da oficina, foram surgindo pautas diferentes e os coletores expuseram as dúvidas que enfrentam no dia a dia. A diretora da Rede, Cláudia Araújo, disse que os participantes falaram sobre algumas sementes que eles não conseguem germinar. “Por exemplo, a embaúba e a gameleira eles não estão conseguindo fazer germinar e apresentaram isso aos professores da Unemat, que irão ajudar a gente nesse aspecto”, explicou.
Se o curso ajuda os coletores a identificar as espécies e possibilita uma coleta de mais espécies e mais garantia ao produto, difundir o conhecimento da flora local também auxilia na conservação da nossa biodiversidade. Mas não é só isso. A professora Beatriz Schwantes acredita também que os coletores poderão ajudar no descobrimento de novas espécies.
“Os coletores, agora, vão sair com os olhos um pouquinho diferentes daqui e quando forem olhar a planta, verão detalhes diferentes e, fotografando, os especialistas podem descobrir se é uma espécie nova”, avalia Beatriz. “O descobridor pode ser um coletor da Rede, tranquilamente, porque são eles que estão lá no dia a dia. Quem sabe daqui a 50 anos teremos uma grande Rede de Coletores e de Especialistas”.
Em 2015, foram comercializadas 17 toneladas de sementes florestais de 120 espécies por 420 coletores da Rede de Sementes do Xingu. As próximas formações devem aprofundar os conhecimentos em identificação botânica e qualidade das sementes.