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Numa audiência pública realizada pelo Ministério Público Federal (MPF), na quinta passada (10/11), em Brasília, o movimento indígena voltou a denunciar o sucateamento da Fundação Nacional do Índio (Funai) e a paralisia nas demarcações de Terras Indígenas.
O presidente substituto do órgão indigenista, Agostinho do Nascimento Netto, tentou negar que a instituição esteja sofrendo com o corte de verbas. Ao contrário, insistiu que ela estaria sendo fortalecida pelo governo. Ele admitiu que o orçamento deste ano e o previsto para 2017 são baixos, mas disse que o Planalto estaria atendendo seus pedidos de mais recursos. Depois de questionado pela plateia, assumiu tom provocativo e foi vaiado. “O fundamental é menos discurso e demagogia e mais ação”, disse.
Um subordinado de Netto acabou o contradizendo depois dele deixar o evento. O diretor de Proteção Territorial da Funai, Walter Coutinho Jr., assumiu seu lugar na mesa e reforçou que a situação do órgão é crítica. Ele listou várias áreas que não têm recursos financeiros e humanos suficientes para continuar funcionando normalmente, em especial a responsável pelas demarcações. Há duas semanas, o ISA publicou um artigo denunciando o problema (saiba mais).
“Além do número de funcionários da Funai não ser suficiente hoje, existe a proposta de reduzir o quadro de pessoal e fechar Coordenações Técnicas Locais”, criticou Dinamã Tuxá, da coordenação da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib). Ele destacou que a paralisação das demarcações tem dado margem a mais conflitos de terras. Tuxá denunciou os ataques de milícias de fazendeiros contras comunidades e a criminalização de suas lideranças.
O líder indígena informou que o coordenador da Funai em Campo Grande (MS), Evair Borges, foi substituído pelo coronel da reserva do Exército e fazendeiro Renato Vidal Sant’anna. O militar teria sido indicado pelo deputado federal ruralista Carlos Marun (PMDB-MS), segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Depois de saber da notícia, índios ocuparam o escritório do órgão indigenista na capital sul-mato-grossense em protesto (saiba mais). Outros participantes criticaram a nomeação.
O clima na audiência ficou tenso quando índios Pataxó protestaram contra a presença do secretário de Justiça da Bahia, José Geraldo dos Reis Santos. Eles o responsabilizaram por conflitos em TIs no sul do Estado.
Os Pataxó trancaram a rodovia BR 367, entre Porto Seguro e Santa Cruz de Cabrália, por causa de uma decisão da Justiça Federal que determinou a reintegração de posse em defesa de fazendeiros e a retirada de cerca de 500 famílias da TI Coroa Vermelha.
O objetivo da audiência foi discutir o encaminhamento das recomendações produzidas pela relatora da ONU sobre os direitos dos povos indígenas, Victoria Tauli-Corpuz. Seu relatório foi apresentado no Conselho de Direitos Humanos da ONU, em setembro, em Genebra. O documento cobra a retomada das demarcações e o fortalecimento da Funai, entre outros pontos (saiba mais).
A maioria dos representantes de ministérios e órgãos do governo que foram ao evento apenas relatou ações que têm desenvolvido, mas não se comprometeu com nenhuma nova iniciativa específica relacionada às recomendações do relatório.
O coordenador da 6ª Câmara do MPF, procurador Luciano Mariz Maia, informou que a instituição pretende monitorar o encaminhamento dessas recomendações, inclusive envolvendo os procuradores da República que atuam localmente.
Pela manhã, cerca de 250 indígenas protestaram em frente ao Ministério do Planejamento contra cortes orçamentários na Funai e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55, que fixa um texto para os gastos públicos. Se aprovado o projeto, a situação do órgão indigenista tende a piorar.
Uma comitiva de 20 manifestantes foi recebida por representantes do ministério. Um dos encaminhamentos foi a criação de um grupo de trabalho para avaliar a situação orçamentária das políticas para os povos indígenas, com participação da Funai, do ministério e de indígenas.
“Não podemos pagar por essa crise. Não fomos nós que geramos essa situação, portanto não vamos pagar com redução dos nossos direitos”, disse Sônia Guajajara, da coordenação da Apib.