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Representantes de 20 povos indígenas receberam, nesta semana, os certificados de conclusão do curso de Formação em Mudanças Climáticas e Incidência Política, promovido pelo ISA e a Rede de Cooperação Amazônica (RCA) com apoio da Rainforest Foundation da Noruega (RFN). A atividade, realizada em Brasília, contou com a participação de 25 lideranças e foi espaço de aprendizado e troca de experiências sobre mudanças do clima e instrumentos para atuação política.
O curso foi dividido em três módulos, realizados em diferentes momentos dos dois últimos anos. Na formação, os alunos tiveram aulas com professores universitários e pesquisadores das mudanças do clima e assuntos relacionados, como os impactos sobre a biodiversidade e as águas, por exemplo. Além disso, o encontro permitiu a troca de experiências entre os próprios indígenas, que falaram sobre as percepções das alterações no clima global e as experiências relacionadas em seus territórios.
“As mudanças climáticas já estão aí. E as terras e os povos indígenas têm um valor muito importante nessas questões”, lembra Estêvão Bororo, do Mato Grosso. Ele faz parte do Comitê Indígena de Mudanças Climáticas (CIMC) e frisa a importância dos povos e das terras indígenas na discussão acerca do aquecimento global. “As terras indígenas prestam um serviço ambiental para toda a sociedade, em vista da conservação da floresta e da preservação da biodiversidade”, aponta.
“O curso me deu a oportunidade de ver a questão das mudanças climáticas tanto no viés acadêmico quanto no viés do mundo indígena”, diz Toya Manchineri, liderança do Acre. Isso, segundo ele, o qualifica para atuar com mais subsídios no âmbito da Comissão Nacional para iniciativas de Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, Conservação e Manejo Sustentável de Florestas (REDD+), da qual participa.
A última etapa do curso, encerrada nesta semana, também contou com uma formação em comunicação, onde foram compartilhadas técnicas para aprimorar as narrativas visando a incidência política em espaços formais de participação.
Na terça-feira (03/10), os indígenas foram até a Câmara dos Deputados para um seminário organizado pelo deputado Nilto Tatto (PT-SP), presidente da Comissão de Meio Ambiente. O foco do evento foram as percepções e experiências indígenas sobre as mudanças do clima global.
O evento começou com palestras iniciais de Davi Kopenawa Yanomami e Ailton Krenak, lideranças históricas do movimento indígena, e contou também com depoimentos dos participantes do curso. Eles trouxeram suas percepções sobre o aquecimento global, os impactos das mudanças do clima em seus territórios e fizeram duras críticas ao modelo de desenvolvimento capitalista e ao modo como o governo Temer e a bancada ruralista vêm atacando os direitos dos povos indígenas (assista abaixo ao vídeo da audiência).
Davi Kopenawa considera que, com a formação, “o Yanomami, o Macuxi e outros [povos] ficam sabendo daqui pra frente o que realmente vai acontecer, que vai chegar a poluição. Poluição é fogo que mata a caça, que mata as árvores, que mata as frutas que a gente come, a castanha, o açaí, o buriti, o roçado que a gente planta…”.
Já Ailton Krenak, em conversa com os alunos após a audiência, disse que estava “com o coração cheio de esperança” por ver novas lideranças ativas na luta do movimento indígena.
“A gente conseguiu não ter um curso só para repassar informações, mas um momento de reflexão, que partiu muito do conhecimento e da vivência dos próprios indígenas, em diálogo com o que tem sido discutido de modo geral”, avalia Luis Donizete, secretário executivo da RCA.
Para Adriana Ramos, coordenadora do Programa de Política e Direito Socioambiental do ISA, os índios têm muito mais a contribuir com o debate das mudanças climáticas do que o que os espaços de participação formal permitem. Ela conta que o curso é o seminário na Câmara tiveram o objetivo de estimular a incorporação do conhecimento indígena nessa discussão.