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Editorial do ISA: Mourão e os Yanomami

Para cumprir suas promessas ao povo Yanomami e decisão da Justiça, o Vice-Presidente da República deve agir agora e retirar os garimpeiros da terra indígena
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Para cumprir suas promessas ao povo Yanomami e decisão da Justiça, o Vice-Presidente da República deve agir agora e retirar os garimpeiros da terra indígena

Nesta sexta (3/7), o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República e presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal (Conamaz), recebeu Dário Kopenawa Yanomami, vice-presidente da Hutukara, associação que representa os índios Yanomami e Ye'kuana da Terra Indígena Yanomami (AM e RR). Dário estava acompanhado pela deputada federal Joênia Wapichana (Rede/RR), coordenadora da Frente Parlamentar em Defesa dos Povos Indígenas e que havia solicitado a audiência.



A reivindicação básica dos Yanomami para o governo é a retirada imediata dos garimpos ilegais de ouro instalados no território indígena. A garimpagem nessa região é promovida por empresas clandestinas, ligadas ao contrabando e ao crime organizado, que vêm ampliando as suas atividades graças ao aumento de preço do ouro e do desemprego, que multiplicam o seu lucro e facilitam arregimentar garimpeiros, além das insistentes sinalizações do próprio presidente da República, Jair Bolsonaro, favoráveis a atividades predatórias e contrárias à demarcação de terras indígenas. Além de desmatar e poluir os rios com mercúrio, o garimpo ameaça os indígenas de várias formas, inclusive através da contaminação pela Covid-19, entre outras doenças e violências.

O avanço do coronavírus representa uma grande ameaça aos indígenas. Apesar do seu relativo isolamento, cinco yanomami já morreram e pelo menos 188 estão infectados. Invasões garimpeiras já provocaram a morte de milhares de índios no passado, e há claras indicações de que a Covid-19 - e outras doenças, como a malária - avança principalmente nas comunidades que vivem mais próximas dos garimpos, como na região do rios Uraricoera e Mucajaí.

Mourão demonstrou conhecer a localização específica dos principais focos de invasores. Prometeu que serão tomadas providências pelo governo e que serão remontadas as barreiras físicas de proteção ao território e mantê-las permanentemente ativas. Mourão afirmou à deputada Joênia Wapichana que há parlamentares de Roraima, “principalmente senadores”, que dão suporte ao garimpo ilegal e se beneficiam dele. Joênia pediu que o governo divulgue os nomes dos parlamentares envolvidos para que eles respondam pelos seus atos.

Mourão incentivou Dário a lhe cobrar pelas providências prometidas que, segundo ele, não tardarão. E é essa mesma a intenção dos dirigentes da Hutukara, que esperam há meses pela desintrusão da área e estão alarmados com a expansão das enfermidades nas aldeias. Mais do que isso, a esperada ação do governo estará amparada por decisão judicial. Há uma liminar nesse sentido já concedida pela Justiça Federal e se espera um posicionamento do Supremo Tribunal Federal para breve.

Dário entregou ao Mourão mapas, textos e documentos que disponibilizam informações detalhadas do monitoramento feito pelos próprios indígenas sobre o avanço do garimpo. Entregou, inclusive, a petição da campanha yanomami #ForaGarimpoForaCovid, pela retirada dos garimpeiros, com mais de 320 mil apoiadores.

A situação no território yanomami passou dos limites e a sua solução não pode mais esperar. Só a ação vigorosa e imediata do governo pode evitar mais um genocídio indígena e uma tragédia para toda a Humanidade. Esperamos que, com essa ação urgente, se evite também mais um golpe - talvez fatal - a já combalida imagem externa do Brasil.

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