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Quilombolas do Ribeira coletaram mais de meia tonelada de sementes da Mata Atlântica em 2020

Sementes coletadas e comercializadas pela Rede de Sementes do Vale do Ribeira contribuem para o reflorestamento do bioma e para a geração de trabalho e renda nas comunidades
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A Rede de Sementes do Vale do Ribeira realizou em setembro mais uma entrega de sementes da Mata Atlântica. Com a ação, um total de 590 kg de sementes, de 80 espécies diferentes, foram comercializadas pelos quilombolas da Rede desde o início do ano. As sementes contribuem para a restauração de um dos biomas mais ameaçados do planeta e para a geração de renda e trabalho nas comunidades quilombolas participantes.



João da Mota, do quilombo Nhunguara, explica que o trabalho com as sementes é uma alternativa de renda para os jovens da comunidade. “O trabalho da Rede na Mata Atlântica é bom porque a gente está preservando a mata sem fazer estrago e está ajudando outros lugares que não têm a semente. A gente se sente feliz com isso, porque a gente está tentando ajudar o Brasil que vamos ter amanhã”, complementou.

As sementes coletadas são utilizadas em projetos de reflorestamento com plantio de muvuca ou vendidas para viveiros que produzem mudas, principalmente no estado de São Paulo, onde a Rede tem tido atuação importante na popularização da técnica da muvuca (saiba mais no box). As atividades da Rede começaram em 2017 e, hoje, já são 32 famílias quilombolas trabalhando na coleta e comercialização das sementes em quatro comunidades do Vale do Ribeira: Nhunguara, André Lopes, Maria Rosa e Bombas.

Juliano Nascimento, assessor do Programa Vale do Ribeira do ISA, acredita que os impactos do trabalho vão desde “desde estimular uma observação mais sensível da mata e seus ciclos, como o aprendizado e a troca de conhecimentos sobre coleta, beneficiamento e armazenamento das espécies florestais” até o incremento de renda das famílias participantes.



Para Malvina de Almeida Silva, quilombola da comunidade de Nhunguara, um dos principais pontos positivos do trabalho com a Rede é poder “encontrar e conhecer vários tipos de sementes e recuperar riquezas que estão sendo perdidas”.

A importância do trabalho da Rede se destaca diante dos dados da situação na Mata Atlântica: hoje, menos de 12% da cobertura florestal do bioma ainda está de pé. Este é um dos biomas que mais correm risco de extinção no planeta. Um quinto do que restou da Mata Atlântica está localizado no Vale do Ribeira, onde as comunidades quilombolas têm cerca de 80% de cobertura vegetal preservada.

A técnica da muvuca

A muvuca é uma mistura de sementes de diferentes espécies, que podem ser plantadas de uma vez para formar florestas produtivas, agroflorestas, sistemas agrosilvipastoris e para a recuperação de áreas degradadas. Foi no início de 2018 que a Rede de Sementes do Vale do Ribeira apresentou pela primeira vez a muvuca com espécies da Mata Atlântica.

A técnica, reconhecida internacionalmente como semeadura direta, possui baixo custo e alto grau de eficácia na restauração e já é utilizada com sucesso pela Rede de Sementes do Xingu, com 600 coletores e mais de dez anos de atuação no Mato Grosso. Saiba mais sobre a muvuca do Vale do Ribeira e a apresentação das sementes em 2018.

O geógrafo José Bonilha Garcia Júnior, proprietário da empresa de restauração florestal Da Serra Ambiental, teve contato com a Rede de Sementes do Vale do Ribeira em 2018. Em fevereiro do ano passado, fizeram o primeiro plantio com muvuca e, no final do ano, o segundo. “As sementes vêm com muita boa qualidade e uma diversidade enorme. É muito difícil encontrar coletores de sementes tão qualificados”, contou Bonilha. A Da Serra Ambiental está preparando a terceiro plantio com muvuca, de três hectares, para o final de 2020.

Caminhos da Semente

Para ajudar a mapear as iniciativas de semeadura direta e disseminar a técnica no Brasil, um grupo de pessoas e organizações se reuniu em 2019 em torno da Iniciativa Caminhos da Semente. Foi criado um Plano de Ação no ano passado, que elenca os objetivos e as ações da Iniciativa, que conta com participação da Rede de Sementes do Vale do Ribeira. A iniciativa é coordenada e executada pela Agroicone, com parceria técnica do ISA e apoio técnico e financeiro do Partnerships For Forests.

Dividido em cinco pilares -- Capacitação, Novos Plantios, Sementes, Normas e Difusão do Conhecimento -- o Plano de Ação estabelece a necessidade de ampliar o número de técnicos capacitados na semeadura direta, prestar assistência técnica e acompanhamento de novas áreas com o método, disponibilizar sementes para atender a demanda por restauração, garantir uma legislação que contribua para o avanço da semeadura direta e divulgar informações confiáveis sobre a técnica.

As ações do Instituto Socioambiental com a Rede de Sementes do Vale do Ribeira contam com apoio da União Europeia e da Good Energies.

Victor Pires
ISA
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