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A explosão de casos de malária, em especial do tipo mais letal causado pelo plasmodium falciparum, em São Gabriel da Cachoeira (AM), alerta as autoridades sanitárias do Amazonas. Uma equipe da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM) viajou domingo (04/10) ao município para elaborar um diagnóstico situacional do surto da doença no Alto Rio Negro e propor medidas emergenciais de controle.
Depois da crise enfrentada em 2018, São Gabriel volta a liderar o ranking de malária no Brasil em 2020, seguido por Cruzeiro do Sul, no Acre. Dos 7,4 mil casos de malária em São Gabriel esse ano, 31% são do tipo Falciparum, somando 2.164 casos. O número está muito acima do considerado aceitável na Amazônia Legal, que é de até 10% das ocorrências da doença serem do tipo falciparum, explicou Myrna Barata, coordenadora estadual do programa de malária da FVS-AM.
Igualmente preocupante é constatar que, além de São Gabriel da Cachoeira, os municípios vizinhos de Santa Isabel do Rio Negro e Barcelos também figuram entre os 10 com mais casos de malária em 2020 no Brasil.
Marivelton Barroso, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), do povo Baré, afirmou que o panorama é insustentável na região e exige esforços urgentes das instituições públicas responsáveis. “Quando isso [malária] aumenta fora de controle e São Gabriel volta a ter alto índice, fica demonstrado que os serviços não estão bons. Temos que ter busca ativa intensiva. O governo precisa assumir responsabilidade conjunta entre estado e município para garantir o bem-estar da população, sobretudo dos povos indígenas do Rio Negro”, disse.
Myrna apontou que o problema mais grave de São Gabriel é o diagnóstico tardio da doença por falta de ações de controle. Nesta semana, a equipe da FVS está visitando áreas mais afetadas para elaborar um inquérito hemoscópico -- uma ação de busca ativa para fazer a lâmina (testagem) de 100% da população e detectar pacientes sintomáticos e assintomáticos.
O objetivo é tratar imediatamente os doentes. “O SUS oferta diagnóstico e tratamento a todo paciente de malária de forma gratuita. Então, o que avaliamos é que a fragilidade do município está no diagnóstico tardio. E isso é muito perigoso diante da malária falciparum, que é a forma mais grave da doença e que pode matar se não for diagnosticada e tratada em tempo oportuno”, ressaltou a coordenadora.
Em algumas localidades, como a comunidade indígena de Boa Esperança, situada no km 7 da estrada BR-307, via de ligação da área urbana com as Terras Indígenas do Balaio e Yanomami, os casos de malária falciparum chegam a 66% do total registrado.
No lugar, que fica em frente ao tenebroso lixão da cidade, dos 199 moradores, 151 tiveram malária em 2020, sendo 95 do tipo Falciparum (F), 51 do Vivax (V) e cinco do tipo misto (F+V), de acordo com dados da FVS-AM.
Para Elder Figueira, chefe do Departamento de Vigilância Ambiental da FVS-AM, a situação de São Gabriel é muito preocupante e traz a necessidade de se retomar o Comitê Municipal de Crise da Malária para monitoramento dos casos da doença. Em 2018, São Gabriel também passou por um surto da doença e foi necessária uma intervenção da FVS-AM na saúde municipal e a implantação de um gabinete de crise em São Gabriel, sediado no DSEI-ARN (Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena).
“Desde 2007 fazemos um esforço muito grande no Amazonas para combater a malária e São Gabriel da Cachoeira é o único município que não consegue ter sustentabilidade nas ações de controle da doença”, alertou Figueira, chamando atenção para a necessidade de se estabelecer um plano plurianual voltado ao combate à malária, assim como ações integradas juntando Secretaria municipal de Saúde e DSEI-ARN. Diferente da situação de São Gabriel, o Amazonas registrou queda de 20% nos casos de malária em 2020 (dados contabilizados até setembro). Em 2019 foram registrados 50.342 casos, contra 40.263 em 2020.
O secretário de Saúde de São Gabriel da Cachoeira, Fábio Sampaio, também acredita que a demora no diagnóstico da doença é o principal causador do aumento de casos. Ele atribui igualmente à pandemia de Covid-19 uma maior dificuldade para implementar as ações de controle da malária. “Sabemos que a pandemia prejudicou os trabalhos e agravou os casos de várias outras doenças no município, não só a malária”, disse.
Com a chegada da equipe da FVS-AM, a Secretaria de Saúde de São Gabriel está direcionando esforços para ter uma ação integrada com o DSEI-ARN de controle do surto da doença. Fábio contou que uma sala de situação para monitorar o surto será montada na secretaria e que passará a emitir boletins públicos quinzenais sobre os casos de malária no município.
Além disso, ele informou que a Secretaria adquiriu quatro voadeiras com motor 40HP e duas vans para reforçar as estruturas de combate à malária e dengue. “Também vamos aumentar a busca ativa e ampliar o horário de funcionamento para diagnóstico e tratamento da malária nas unidades de atendimento. A gerência municipal de endemias vai passar a funcionar 24 horas”, sublinhou o secretário.
O município fará licitação para adquirir mosquiteiros impregnados com inseticidas contra o mosquito, assim como telas protetoras. E também investirá em ações de treinamento das equipes de saúde para trabalhar educação e conscientização da população. Para Sampaio, parte do problema também se deve ao fato de muitos pacientes com malária abandonarem o tratamento antes do tempo. Com isso, além de se reinfectarem, acabam causando a proliferação da doença, que se transmite a partir do mosquito fêmea que pica uma pessoa infectada.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 430 mil pessoas morrem anualmente por conta de malária no mundo, sendo que 70% delas são crianças com menos de cinco anos de idade e 90% das mortes ocorrem na África subsaariana.
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sao_gabriel.xlsx_-_plan1.pdf | 38.79 KB |