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Reportagem: Oswaldo Braga de Souza e Tainá Aragão
Texto atualizado às 19:03 de 26/5/2021
Na manhã desta quarta-feira (26), lideranças Munduruku enviaram áudios de Whatsapp para organizações e advogados parceiros denunciando os primeiros passos de um ataque à pequena aldeia indígena Fazenda Tapajós, em Jacareacanga, no sudoeste do Pará.
De acordo com as informações, os garimpeiros armados incendiaram duas casas de lideranças indígenas contrárias ao garimpo ilegal e dispararam armas de fogo contra a aldeia. A ação seria uma represália à Operação Mundurukânia, que conta com a participação da Polícia Federal (PF), Força Nacional, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e Fundação Nacional do Índio (Funai) contra garimpos ilegais nas Terras Indígenas (TIs) Munduruku e Sai Cinza, na mesma região. A PF teria se deslocado pouco depois para garantir a segurança dos indígenas em aldeias na região.
“Chegaram na minha casa, vão queimar tudo aqui. Eles chegaram aqui, um grupo muito grande. Aciona todo mundo, que estou aqui super preocupada", apela, em áudio, Maria Leusa Munduruku, coordenadora da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn.
Logo cedo, garimpeiros realizaram uma série de protestos em Jacareacanga, chegaram a hostilizar parte da equipe de policiais federais que está no município e até tentaram expulsá-los do aeroporto, onde aguardavam para decolar em alguns helicópteros rumo às TIs. Os manifestantes tentaram invadir a base policial e depredar os equipamentos da corporação que estão no local. Afinal, a PF dispersou os manifestantes. Uma série de vídeos das manifestações também circulou pela manhã em grupos de Whatsapp.
“A informação da operação teria vazado entre os garimpeiros e agora [eles] estão ameaçando os indígenas, com tiroteios, incendiando casas, de lideranças Munduruku, no estado do Pará”, afirmou a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR). Ela fez a denúncia na sessão da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, pediu que o colegiado tomasse alguma providência e reforçou que as lideranças indígenas estavam pedindo a proteção da PF com urgência.
"A presença das Forças Nacionais, desde segunda (24), não inibe os garimpeiros, que seguem cometendo atos de violência para ameaçar e intimidar lideranças contrárias a atividade ilegal em terras indígenas", diz nota da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab). "Homens armados, que exibiam galões de gasolina, invadiram a aldeia da TI Munduruku onde se encontrava Maria Leusa Munduruku, coordenadora da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn (organização que vem sendo atacada por denunciar os garimpeiros) e incendiaram sua casa", completa o documento.
Em outra nota, do fim de abril, o Movimento Ipereg Ayuos, dos Munduruku, critica as tentativas de continuidade da exploração garimpeira na região. “Gostaríamos de avisar nossos parentes, os poderes públicos do município de Jacareacanga e as instituições de saúde indígena, que o garimpo em nossa Terra Indígena é ILEGAL, não somos nós que estamos agindo contra lei, nós estamos bebendo água com bicho, água podre”, diz o texto.
A Operação Mundurukânia investiga os crimes de associação criminosa, exploração ilegal de matéria-prima pertencente a União e delito contra o meio ambiente, entre outros crimes que venham a ser descobertos ao longo da investigação. Várias outras ações nesse mesmo sentido vêm sendo deflagradas na região ao longo dos últimos anos, como a “Operação Pajé Brabo”, em 2018, a “Operação Bezerro de Ouro”, em 2020, que teve duas fases, a “Operação Divita 709”, em 2021 e a “Bezerro de Ouro 709”, também neste ano.