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A repressão violenta da PM ao protesto pacifico de indígenas, no final da manhã de hoje (22), nos arredores da Câmara, em Brasília, deixou três pessoas feridas e outras dez passando mal, em virtude do gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha.
Um jovem de 26 anos, do povo Sapará, de Roraima, foi atingido por balas de borracha no torso e bombas de efeito moral nas costas. Chegou a ser hospitalizado no Hospital de Base de Brasília, mas, segundo exames, não tem lesões internas mais graves. De acordo com o último informe médico, está com contratura muscular, muitas dores e vista embaçada. Foi liberado e agora está sob cuidados médicos no Acampamento Levante pela Terra (ALT), mobilização indígena instalada ao lado do Teatro Nacional, há três semanas.
Uma senhora do povo Guarani Kaiowá, de Mato Grosso do Sul, foi atingida por estilhaços de bomba e desmaiou durante o ataque. Ela foi resgatada pelo serviço médico móvel de urgência e atendida no local. No momento encontra-se bem e sem necessidade de cuidados médicos.
O terceiro ferido, do povo Xokleng, da Região Sul, foi atingido pelo impacto de uma bomba de efeito moral, tendo sido muito exposto ao gás lacrimogêneo. Chegou ao acampamento com muita dor de cabeça e sangramento nasal. Foi atendido e, no momento, também encontra-se em bom estado.
Outras dez pessoas que participavam do protesto apresentaram irritações nas vias aéreas, com dificuldades para respirar, em virtude do gás lacrimogêneo. Todas foram atendidas no acampamento e agora também se encontram bem.
Segundo o relato dos atingidos, foi difícil defender-se durante o ataque da polícia, pois não sabiam de onde vinham as bombas, e, por isso, não conseguiram se abrigar de forma segura.
Os indígenas protestavam pacificamente, no estacionamento do Anexo 2 da Câmara, contra a votação do Projeto de Lei (PL) 490/2007, quando foram reprimidos de forma violenta pela PM, com balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e efeito moral. Crianças e idosos estavam entre os manifestantes.
Eles vieram em marcha pacífica pela Esplanada dos Ministérios. Em seguida, por volta do meio-dia, ao entrarem na via que atravessa os fundos da Esplanada e aproximarem-se da Câmara, foram atacados, a partir de uma barricada montada pelo Batalhão de Choque, na entrada do Anexo 2. Não houve ação ou incidente da parte dos indígenas que justificasse a reação violenta. Segundo informações dos manifestantes, estavam no local equipes das polícias Legislativa, Militar e Batalhão de Choque, com forte aparato de repressão, inclusive cavalaria e um "caveirão", carro blindado da tropa de choque.
A marcha indígena faz parte do ALT, que está instalado ao lado do Teatro Nacional, há três semanas. Os cerca de 850 indígenas que participam da mobilização, de 48 povos diferentes de todas as regiões do Brasil, foram ao local para acompanhar a votação do projeto na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, onde o PL 490 poderia ser votado, a partir das 13h.
O PL 490 é uma bandeira ruralista e bolsonarista e, se aprovado, na prática vai inviabilizar as demarcações, permitir a anulação de Terras Indígenas e escancará-las a empreendimentos predatórios, como garimpo, estradas e grandes hidrelétricas. De acordo com organizações indígenas e indigenistas, a proposta é inconstitucional.