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Neste final de semana, mais de 700 mil pessoas manifestaram-se contra a mudança climática, às vésperas da Conferência do Clima de Paris (COP-21). Ocorreu um total de 2,3 mil eventos organizados em 170 países diferentes, desde Melbourne a Johanesburgo, passando por cidades como Londres ou São Paulo.
Desta vez, o cômputo internacional superou o sucesso da marcha de setembro de 2014, em Nova York, considerada a maior mobilização sobre mudança climática da história, com 400 mil pessoas (saiba mais).
A mobilização foi o resultado de um ano intenso de preparativos por parte da sociedade civil, liderada pela Coalition Climat 21, rede de mais de 130 ONGs, movimentos sociais, indígenas ou sindicatos, entre as quais 350.org, Avaaz, Greenpeace, WWF e Oxfam, entre outras. Sob o lema geral “mudemos o sistema para mudar o clima”, mensagens variadas convergiram na demanda de um maior compromisso por parte dos governos perante a urgência do problema: “O clima está mudando, quando mudaremos nós?”, na Índia, “A justiça climática, não tem escusa”, em Paris, “100% energias renováveis” em Madrid (veja fotos e depoimentos sobre as marchas ao redor do mundo).
Estado de emergência climática em Paris
Um tapete de uns 22 mil sapatos foi colocado aos pés da Marianne, estátua da Praça da Republique que simboliza os valores franceses de liberdade, fraternidade e igualdade. Entre eles estavam os sapatos do Papa Francisco e do secretário geral de Nações Unidas, Banki-moon (veja galeria de fotos ao final da reportagem).
Foi um ato coordenado pela organização Avaaz sob o slogan “os nossos sapatos marcharão por nós”, que pretendia simbolizar os passos de todos aqueles cidadãos que viram frustrados seus desejos de sair à rua em Paris por causa do estado de emergência, decretado após os atentados de 13/11 (leia mais).
Apesar das restrições de segurança e do medo geral que ainda se respira na capital francesa, mais de 30 mil pessoas, entre franceses e estrangeiros – muitos deles na cidade por causa da COP – deram-se as mãos formando uma corrente humana “por um clima em paz”. A manifestação ocupou quase três quilômetros ao longo do Boulevard Voltaire, lugar onde aconteceram os ataques terroristas.
“Hoje, mais do que nunca, precisamos de uma expressão cidadã. É muito importante que esta corrente humana e todas as outras mobilizações ao redor da COP21 sejam um sucesso, pois os cidadãos conhecem as soluções para a mudança climática, porém, falta os governos apropriarem-se deste desafio”, afirmou Celia Gautier, membro da Coalition Climat 21.
“Eu entendo a reação [do governo francês], mas acho que estão fazendo um mal uso do estado de urgência. O estado de urgência hoje é climático e humanitário, pois estamos ultrapassando o limite do razoável”, disse uma das participantes da corrente humana, que preferiu não se identificar.
“Se não podemos nos manifestar perdemos nosso direito de expressão”, disse a brasileira Morgane Simas, que reside na França e que levantava uma faixa contra a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que pretende dar ao Congresso brasileiro a última palavra sobre os limites das Terras Indígenas.
Distúrbios
Por volta de meio dia, quando a corrente humana estava sendo finalizada, a polícia começou a retirar os sapatos e formar um cordão policial. Diferentes grupos de manifestantes formaram-se aos gritos de “estado de emergência, estado policial”. Os distúrbios espalharam-se e quase 300 pessoas foram detidas.
Enquanto os confrontos aconteciam em Paris, 24 lideranças ecologistas e ativistas permaneciam em prisão domiciliar, como medida de segurança do governo francês. “A policia entrou em casa com fuzis e bombas”, informou uma ecologista, que na quinta (26/11), foi detida na sua casa de Rennes e permanece com controle domiciliar da polícia.
Para Celia Gautier, a prisão desses militantes passa uma má imagem do pais sede da COP-21. “O governo confunde as prioridades. Os policiais que estão vigiando os ecologistas seriam mais úteis em outros lugares e nós precisamos desses ativistas”, diz ela.