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Babaçu com cacau: a mistura que pode mudar a merenda no Pará

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Elaborado por indígenas, ribeirinhos e agricultores em parceria com a empresa Cacauway, produto fortalece comunidades da Terra do Meio (PA), região ameaçada por grileiros e pelo roubo de madeira
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Assista ao vídeo da marca Vem do Xingu, sobre os produtos da Rede de Cantinas da Terra do Meio (PA)

A farinha do coco babaçu está nas merendas de crianças de escolas municipais da região de Altamira (PA). A entrega de 4,5 toneladas do produto entre 2017 e 2018 para as prefeituras é um selo de qualidade para o trabalho de indígenas e ribeirinhos que vivem em comunidades nas áreas protegidas da Terra do Meio, pressionadas há décadas pela grilagem e pelo roubo de madeira.

Os bons resultados da entrada do babaçu na merenda, com a campanha Da Floresta para a Merenda!, que recebeu apoio do co-fundador do Instituto ATÁ, Alex Atala, da cozinheira Bela Gil e da nutricionista Neide Rigo, foi o primeiro passo para o desenvolvimento de um novo produto: a Mistura para bolo (ou mingau) de babaçu com cacau, que leva a marca Vem do Xingu e o Selo Origens Brasil®.

Com maior valor agregado e fácil de preparar, a ideia da mistura para bolo ou mingau nasceu de uma conversa com Daniele Damasceno, nutricionista do município de Vitória do Xingu (PA), que se entusiasmou com a possibilidade de oferecer para os alunos da rede municipal um produto pronto para as merendeiras, que poderiam trabalhá-lo facilmente, e para as crianças, que adoram chocolate.

A farinha de babaçu na receita é orgânica, sem glúten e conta com ferro, fibras e nutrientes que outros amidos não têm. O cacau é produzido pela Cacauway, marca da Cooperativa Agroindustrial da Transamazônica (Coopatrans), que implementou um tratamento diferenciado da matéria-prima: separa os lotes pela qualidade, grau de maturação e fermentação das amêndoas.



Foram acrescentados à receita o leite em pó e o açúcar mascavo. A preparação de um bolo requer apenas a adição de água, óleo, ovos e fermento. Para um mingau, é ainda mais simples: basta adicionar água.

Durante o evento Belém+30, realizado na capital paraense em agosto do ano passado, as crianças da Escola Municipal Miguel Pernambuco Filho, do bairro Jurunas, na capital paraense, experimentaram e aprovaram o novo produto.

"Realmente a alimentação deles é muito carente em nutrientes, interfere na aprendizagem", disse Gabrielle Machado, coordenadora da escola. "Quanto mais pudesse incrementar, valorizando o que a gente tem aqui, seria de grande valia. O babaçu é nosso, está aqui, e as crianças nunca tinham visto. Alguns aqui comeram castanha-do-Pará pela primeira vez."


A mistura para bolo chegou à cidade de Vitória do Xingu (PA), que adquiriu 300kg para a merenda escolar. As comunidades ribeirinhas e indígenas têm potencial para produzir cerca de 50 toneladas de farinha do coco babaçu por ano. No momento, porém, faltam bons contratos. Outras comunidades de áreas protegidas têm interesse de participar da produção, mas ainda não puderam pelo mesmo motivo.



“Apesar de ser uma farinha de primeira qualidade, o desconhecimento do babaçu pelo público geral o torna um ingrediente difícil de comercializar”, disse Leonardo de Moura, do Instituto Socioambiental. “Observamos isso no trabalho com as merendeiras que resistiam a utilizar o produto por não conhecê-lo.”

Tudo pode mudar com o desenvolvimento da mistura para bolo. "Em Belém o mingau foi testado na Escola Estadual de Ensino Fundamental Professora Palmira Gabriel para mais de 300 alunos com sucesso", afirmou Moura.

Você pode adquirir a Mistura para bolo (ou mingau) com cacau, bem como outros produtos de comunidades indígenas e extrativistas da Terra do Meio, no Pará, na loja online do Instituto Socioambiental (clique aqui), ou em contato direto com as associações extrativistas da Terra do Meio. Escreva para iririresex@gmail.com.

O babaçu em áreas de conflito




A farinha de babaçu com a marca Vem do Xingu é produzida pelas comunidades ribeirinhas das Reservas Extrativistas Rio Iriri, Riozinho do Anfrísio e Xingu, pelos agricultores do Projeto Sementes da Floresta e pelo povo Arara da Terra Indígena Cachoeira Seca, no Pará. Tantos as reservas extrativistas como a terra indígena sofrem impacto direto da construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, o roubo de madeira e do desmatamento ilegal.

A região foi palco de intensa grilagem entre os anos 1990 e 2000, e a estruturação das cadeias produtivas, como a do coco babaçu, é um importante mecanismo de valorização, manejo e proteção do território por parte das comunidades. A produção é, ainda, uma alternativa de renda frente às atividades ilegais.

Veja abaixo a localização das Terras Indígenas e Unidades de Conservação da Terra do Meio (PA).

Segundo dados do sistema de monitoramento SiradX, foram desmatados 37.359 hectares de florestas no mosaico de áreas protegidas da Terra do Meio em 2018.

Somente nos dois primeiros meses de 2019, foram registrados mais de 100 hectares de novas aberturas ilegais dentro da Terra Indígena Cachoeira Seca. Em 2018 foram contabilizados 5.466 hectares desmatados no interior da Terra Indígena.

O roubo de madeira e a intensificação a grilagem são as principais causas do avanço do desmatamento. Desde 2009, 19.474 hectares de floresta foram derrubados, fazendo da Terra Indígena Cachoeira Seca a mais desmatada do Brasil.

[Veja o avanço do desmatamento no site De Olho no Xingu]

Roberto Almeida
ISA
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