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Reunidos entre os dias 5 e 12 de agosto na ilha de Duraka, Terra Indígena Médio Rio Negro I, em São Gabriel da Cachoeira (AM), 15 integrantes da Rede Wayuri de Comunicação Indígena participaram da III Oficina de Formação da Rede para trabalhar técnicas de audiovisual com foco na prática de reportagens e documentários.
Durante a oficina, os comunicadores, falantes de cinco línguas diferentes (Baniwa, Hup, Nheengatu, Tukano e Yanomami) produziram o primeiro vídeo documentário que conta sobre o trabalho precursor deste coletivo de comunicadores indígenas no rio Negro.
Com o propósito de contar suas próprias histórias, os comunicadores indígenas produzem mensalmente desde novembro de 2017 o boletim de áudio Wayuri, um podcast que dá notícias sobre a cultura, educação, saúde, eventos e trabalhos das comunidades ligadas à Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN).
Divulgado principalmente pelo WhatsApp e compartilhamento via aplicativos como ShareIT, o boletim de áudio está em sua edição número 27 e conta com a participação de correspondentes em várias comunidades distribuídas entre os municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, todas no Amazonas.
A diversidade cultural é uma qualidade da Rede, que conta agora com comunicadores dos povos Baré, Baniwa, Desana, Hup’dah, Tariano, Tukano, Piratapuia, Tuyuka, Yanomami e Wanano. Os áudios são gravados muitas vezes nas línguas originais dos povos e também traduzidos para o Português para que sejam entendidos por falantes de outras línguas da própria região.
Assim, o vídeo documentário que apresenta a Rede é narrado em cinco línguas indígenas e em português.
Assista abaixo ao documentário Somos a Rede Wayuri!
Durante a oficina, os comunicadores construíram uma linha do tempo destacando momentos importantes da Rede Wayuri de 2017 até os dias de hoje, como as coberturas de edições Acampamento Terra Livre em 2018 e 2019, em Brasília, e seleção para participação no Programa Profissão Repórter.
Os comunicadores também pensaram planos para o futuro, e inseriram sonhos e desejos para os trabalhos da comunicação nessa linha do tempo. Esse exercício de recapitulação serviu de base para a construção do roteiro do vídeo documentário e em seguida para a construção coletiva das locuções feitas pelos comunicadores.
Após exercícios de voz, cinco comunicadores gravaram trechos dos áudios nas línguas Tukano, Hup, Nheengatu, Yanomami e Baniwa. Vários planos foram captados pelos comunicadores durante a oficina seguindo as orientações do roteiro, incluindo o uso de câmeras de celular, DSLRs (Digital Single Lens Reflex) e drone.
Imagens de arquivo da Rede Wayuri/Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e do Instituto Socioambiental (ISA), que assessora os trabalhos da Rede, também foram usadas na edição finalizada durante a oficina. A primeira exibição do vídeo foi feita na própria comunidade anfitriã da atividade e cenário das cenas gravadas pela Rede Wayuri.
Para Adilson Joanico, comunicador Baniwa da comunidade de Acariquara, em Santa Isabel do Rio Negro, a comunicação é fundamental para desenvolver os trabalhos nas terras indígenas. Morador da TI Jurubaxi-Téa, Joanico ressaltou que no passado muitas pessoas batalharam para que os jovens indígenas hoje pudessem atuar como comunicadores e contarem suas próprias histórias.
Segundo ele, portanto, os jovens de hoje devem valorizar o passado e plantar para que outros venham colher frutos dos trabalhados semeados agora. “Temos que nos manter fortes e unidos nessa Rede para conseguirmos ir além”, frisou durante roda de conversa de avaliação da atividade.
Joanico pretende construir uma Casa da Comunicação em sua comunidade para que possa produzir áudios, vídeos e montar também uma rádio poste comunitária. Assim, ele pretende envolver outros jovens na área, como o seu irmão, Everaldo, que foi levado por Adilson a participar da Rede Wayuri nesta terceira oficina e se destacou como locutor no vídeo documentário.
Atualmente, Adilson também atua no projeto de pesca esportiva de base comunitária realizada em terra indígena e vê a comunicação como peça fundamental para fortalecimento das atividades na região.
Aproveitando a rádio comunitária de Duraka, comandada pelo comunicador Piratapuia da Rede Wayuri, Hélio Brazão, os comunicadores treinaram fazer um programa ao vivo. Liderados pela comunicadora Cláudia Ferraz Wanano, que é radialista em São Gabriel da Cachoeira há seis anos e também atua no Wayuri, cada um dos 15 comunicadores deu informes ao vivo com notícias de suas comunidades ou sobre a experiência de estar participando da terceira oficina de formação.
A partir desses áudios feitos ao vivo, os comunicadores orientados pela jornalista do ISA, Letícia Leite, que produz semanalmente o podcast Copiô Parente, gravaram áudios para a produção do 27 boletim Wayuri, editado pela Cláudia Ferraz, com apoio do comunicador da Foirn, Ray Baniwa, durante o encontro. A oficina foi focada na prática, no “aprender fazendo”, com a produção de áudios e vídeos construídos coletivamente com os comunicadores indígenas e editados na sequência. Assim, cada comunicador saiu da oficina com vários materiais para divulgar a Rede e fortalecer o seu trabalho de comunicação feito nas próprias comunidades.
Ouça abaixo os boletins da Rede Wayuri!
Para os próximos boletins, os comunicadores definiram pautas importantes e estratégicas para a região, como a produção e consumo de energia nas comunidades, e também as iniciativas de turismo de base comunitária em terra indígena que estão ocorrendo com sucesso na região. Tiveram a oportunidade de assistir a série Floresta Iluminada e discutir também sobre o assunto da geração de energia sustentável na Amazônia.
As vésperas da realização do seminário sobre Protocolo de Consulta para os povos indígenas do Rio Negro, a oficina possibilitou aos comunicadores uma conversa sobre o tema, assim como a exibição de seis filmes que falam sobre a construção de Protocolos, como do povo Kayapó-Menkrãgnoti.
Os comunicadores indígenas farão a cobertura do seminário que ocorrerá na Maloca da FOIRN em São Gabriel da Cachoeira entre os dias 19 e 21 de agosto, produzindo áudios e vídeos que serão divulgados para suas comunidades e público em geral.
Esses Protocolos são as regras que detalham de que forma povos indígenas e povos tradicionais devem ser consultados antes que seja tomada qualquer decisão pública (legislativa ou administrativa) que possa afetar seus direitos. Construção de obras, novas leis, formulação de políticas públicas, por exemplo, devem passar por um processo de consulta. O documento diz como, quando, porque e com quem deve ser feita a consulta.