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Quem vê Alessandra Munduruku hoje, mal consegue imaginar que ela um dia já foi tímida e quieta. Sempre em movimento pela sobrevivência do seu povo, ela parece não esmorecer ou recuar jamais. Mas foi vendo seu território ser invadido e destruído por grandes empreendimentos que ela começou a tomar a palavra, participar das discussões políticas e despontar como uma das protagonistas da resistência indígena no Brasil.
“Muitas vezes nos falavam que nós mulheres não éramos capazes, que nós mulheres não podíamos estar na luta, que não podíamos ficar falando. Mas de repente dissemos: as mulheres têm coragem”, ela conta para o InfoAmazônia.
Da timidez, não resta nem sombra. Alessandra foi a primeira mulher a presidir a Associação Indígena Pariri, que representa mais de dez aldeias do Médio Tapajós. Em 2019, chegou a discursar para mais de 270 mil pessoas no Portão de Brandenburgo, em Berlim, e recebeu, em 2020, o Prêmio Robert F. Kennedy de Direitos Humanos, um reconhecimento de sua força e coragem para proteger seu território e defender direitos.
Recentemente, esteve em Brasília para exigir o respeito à Consulta Livre, Prévia e Informada no processo de concessão da Ferrogrão, atualmente travado pela Justiça. “Não adianta fazer audiência pública com tudo pronto, querendo só que o povo diga sim,” explica ao Mongabay. “E todo o mundo tem voz, até as crianças”.
Mas o protagonismo não veio sem ameaças. Sob os holofotes, Alessandra acabou atraindo também a atenção de quem não a quer bem: em 2019, invadiram sua casa em Santarém e levaram documentos, pastas e um cartão de memória. “Eu fiquei bem assustada no começo, [mas] tive que continuar”, diz ao Portal Catarinas. “Não conseguiram me matar naquele tempo; não é agora que vão me calar”.
“A gente precisa de floresta, a gente precisa preservar o território para os nossos filhos, para os nossos netos ou tataranetos,” comenta, ao Brasil de Fato. “A gente vai resistir para continuar vivo.”