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A ciência até hoje não sabe dizer se um cogumelo é comestível ou não. Os Yanomami sabem e, em três anos, identificaram e coletaram 8 toneladas de cogumelos nativos da Amazônia para comercialização.
A venda de cogumelos gerou até agora uma renda de cerca de R$ 250 mil, inteiramente revertida para 21 comunidades Sanöma, subgrupo Yanomami da região de Awaris, no noroeste da Terra Indígena Yanomami. O projeto é gerido pela Hutukara Associação Yanomami, que representa os coletores e faz a comercialização.
Veja abaixo a localização da Terra Indígena Yanomami:
A área sofre com a escalada do garimpo ilegal de ouro. Em carta e vídeo publicados no fim de abril, lideranças Yanomami e Ye’kwana reafirmaram sua posição contra o garimpo e a mineração em seu território. (Saiba mais.) Estudo da Fundação Oswaldo Cruz, realizado em 2014, já mostrava o alto índice de contaminação por mercúrio entre os Yanomami.
A região de Awaris, onde o projeto é realizado, é uma das mais isoladas da Terra Indígena Yanomami, o que torna difícil o acesso às ferramentas necessárias para realização de atividades básicas para sua organização social como abertura de roças, pesca, caça e utensílios de uso doméstico (panelas, facas).
O projeto de comercialização do Cogumelo Yanomami tem permitido adquirir esses bens como facões, machados, facas, panelas, linha de pesca, anzol e também produtos de higiene, garantindo a autonomia e a gestão dos recursos em função das suas estratégias de reprodução social.
Além disso, nos últimos tempos, as comunidades vêm discutindo a compra coletiva de bens e a incorporação de novas tecnologias como motor para ralar mandioca, barcos, painéis solares e radiofonias que melhoram a qualidade de vida do povo Sanöma.
Ao mesmo tempo, pesquisa realizada em junho deste ano pelo Datafolha mostra que 86% dos brasileiros são contra a entrada de empresas de mineração em Terras Indígenas. São estimados, hoje, 10 mil garimpeiros atuando ilegalmente na Terra Indígena Yanomami.
O Cogumelo Yanomami recebeu o selo Origens Brasil, que promove relações comerciais éticas e transparentes entre quem produz e quem compra, e conquistou chefs do Brasil e do exterior. Motivo de orgulho entre os indígenas, ele é vendido em mercados e empórios espalhados pelo país, nos Estados Unidos e na França.
“Foi preciso construir o projeto do zero, uma vez que no Brasil não temos tradição de consumir cogumelos nativos, e não tínhamos nada em que nos inspirar para criar o produto, que depois foi concebido em parceria com o Instituto ATÁ”, relembra Moreno Martins, antropólogo do ISA responsável pelo projeto.
O livro Ana amopö: Cogumelos Yanomami, fruto da pesquisa inicial sobre os cogumelos envolveu indígenas e não-indígenas, e venceu o Prêmio Jabuti na categoria Gastronomia em 2017. Para os índios, o cogumelo é base de suas dietas e consumido como proteína para substituir a carne não há caça disponível. São 15 espécies encontradas em seus roçados, base do sistema agrícola Yanomami.
O trabalho contou com o apoio de Keisuke Tokimoto, do Instituto de Micologia de Tottori, no Japão, e de Noemia Kazue Ishikawa, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, especialistas em cogumelos comestíveis. Nelson Menolli, do Instituto de Botânica de São Paulo, trabalhou na identificação das espécies.
O Cogumelo Yanomami inteiro concentra as espécies macias. Elas se comportam como cogumelos asiáticos, com sabor é muito semelhante ao shiitake, um dos cogumelos mais conhecidos no mundo.
Já as espécies do Cogumelo Yanomami em pó são de espécies que não tem paralelo no mundo: é neles que o consumidor vai encontrar sabores inéditos.
Assista ao vídeo que conta essa história:
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