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Por Evilene Paixão
A Terra Indígena Wai Wai, localizada a 350 km de Boa Vista (RR), é terreno fértil para a castanha da Amazônia, ou do Pará, como é conhecida em algumas regiões do Brasil. Grandes conhecedores desses frutos, os indígenas Wai Wai buscam com sua comercialização geração de renda e proteção do território.
No entanto, o transporte da castanha, realizado por “atravessadores” de cidades próximas à Terra Indígena, vinha custando caro aos indígenas. Reféns dessa dinâmica, as comunidades buscaram o apoio do mandato da deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR).
Neste sábado (02/10), a parlamentar se encontrou nas comunidades de Xaary e Anauá com lideranças Wai Wai e de outros povos para celebrar a entrega de um trator e outros itens essenciais, conquistados via emenda parlamentar.
A Associação dos Povos Indígenas Wai Wai do Xaary (APIWX), que apoia os coletores na organização da cadeia da castanha, negocia e contrata empresas para o escoamento e comercialização do produto. Um dos contratos da APIWX é com a Wickbold, maior fabricante de pães do Brasil. “Essa máquina é de todos. É de vocês [indígenas]. Vamos nos organizar para cuidar e fazer a manutenção”, comemorou o presidente da APIWX, Valdeci Noro Wai Wai.
Na cerimônia, a deputada Joênia Wapichana ressaltou que o projeto da castanha demonstra que o discurso de que as terras indígenas são improdutivas é falso. “Aqui vocês são os grandes produtores da castanha, com venda para a maior fabricante de pães. Então, as terras são produtivas, sim, o que falta são políticas públicas para apoiar as comunidades indígenas. Essa é minha segunda emenda parlamentar e estou bastante feliz”, destacou.
Felipe Reis, assessor do Instituto Socioambiental (ISA), que apoia as comunidades Wai Wai na organização da cadeia da castanha, destacou que o fim da necessidade de atravessadores vai provocar benefícios diretos e imediatos. “Para cada saco de castanha cobram de R$ 10 a R$ 15. Ou seja, mil sacos custam no mínimo R$ 10 mil. Então, esse trator veio para realmente beneficiar essas comunidades. Quero agradecer todo o esforço das lideranças e deixar aberto o nosso trabalho à deputada Joênia”, disse.
Juvino Luiz Alba, representante da Fundação Nacional do Índio (Funai), afirmou que o maquinário vai fortalecer a produção de alimentos e proporcionar mais autonomia aos indígenas. “Graças aos parceiros, temos conseguido resultados importantes de apoio aos povos indígenas com as atividades produtivas. Não é fácil você andar dentro da mata com um saco de castanha [de, em média, 50 kg] nas costas por vários quilômetros. Quem compra a castanha acha cara, mas experimente colher!”, brincou.
O Tuxaua da Comunidade Xaary Zacarias Zakahai Wai Wai conduziu a solenidade, que contou com a presença de lideranças das Terras Indígenas Wai Wai e Trombetas Mapuera, do líder indígena e xamã Davi Kopenawa Yanomami e de convidados como o coordenador do Conselho Indígena de Roraima (CIR), Edinho Batista, o vice-prefeito de São João da Baliza, Sebastião Pereira e representantes do Instituto Insikiran de Formação Superior Indígena da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
Os Wai Wai são originários também da Terra Indígena Trombetas Mapuera, na divisa do Amazonas com o Pará, onde vivem oito comunidades, próximas ao município de Caroebe. Lideranças do território viajaram para a cerimônia de entrega e apresentaram suas demandas à deputada Joênia Wapichana.
O presidente da Associação dos Povos Wai Wai (APIW), Geovane Wai Wai, disse que os povos indígenas precisam de investimentos. “Trabalhamos para o consumo próprio e temos o suficiente. Mas, para um trabalho coletivo, precisamos de investimento, precisamos comprar equipamentos. Somos produtores da castanha, da farinha de mandioca, da banana e não temos transporte para escoar a produção e vender na cidade. Precisamos desse apoio também”, sublinhou.
Pela primeira vez na Terra Indígena Wai Wai, Davi Kopenawa denunciou durante sua fala a presença de dezenas de milhares de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami. As invasões já devastaram 463 hectares de floresta de dezembro de 2020 a junho de 2021 e levaram doenças e violência para as populações. No total, 2.702 hectares já foram devastados.
A liderança pediu atenção da Funai ao abandono sofrido pelas comunidades indígenas no território e indicou à deputada a importância da instalação de internet para facilitar a comunicação e contribuir para a proteção territorial.
“A situação da devastação da terra, da saúde, dos invasores, tudo aconteceu há muito tempo e agora está retornando de novo, como 500 anos atrás. As comunidades Yanomami necessitam de internet para facilitar a comunicação, a radiofonia muitas vezes não funciona. Já pedi à Funai, mas não atendem. Vamos fazer barulho de novo, mostrar nossa coragem para proteger o Planeta Terra”, avisou.