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O 3º Encontro Xingu +, Diversidade Socioambiental no coração do Brasil, vai reunir cerca de cem lideranças indígenas e ribeirinhas, parceiros e poder público para debater a gestão do Corredor Xingu, formado por Terras Indígenas e Unidades de Conservação. A atividade será realizada em Brasília entre os dias 18 e 20 de outubro e tem como pauta a proteção do Xingu e a integração dos diversos atores que vivem no território.
Com 28 milhões de hectares de extensão, o “corredor de diversidade socioambiental do Xingu” enfrenta ameaças que colocam em risco a integridade do território e os modos de vida de seus povos. A hidrelétrica de Belo Monte, por exemplo - cuja construção se iniciou em 2011 e em 2015 obteve Licença de Operação, suspensa no momento - já deixou um legado de destruição que impacta a vida de indígenas e ribeirinhos que ali vivem. Remoções forçadas, alteração na dinâmica do rio, diminuição do pescado, inflação dos centros urbanos próximos fazem parte do cotidiano de centenas de famílias que ainda lutam pelo reconhecimento destes impactos.
O Território Indígena do Xingu (TIX), que engloba o Parque Indígena do Xingu e três Terras Indígenas adjacentes, enfrenta a ocorrência de incêndios descontrolados provocados pelo avanço do desmatamento – nos últimos 30 anos 44% das florestas do entorno foram desmatadas. No ano passado, 221.394 hectares (8 % da área total) foram queimados trazendo inúmeras consequências para os 16 povos que habitam a região. Iniciativas vem sendo realizadas junto aos povos indígenas para barrar o avanço do fogo.
O evento acontece em um momento crucial para os indígenas e populações tradicionais, no qual seus direitos são colocados em risco por conta de projetos de lei que podem afetar suas vidas em diversas esferas: diminuição das áreas protegidas, aval para projetos de mineração e geração de energia, abertura de estradas, flexibilização da legislação ambiental e sucateamento das organizações de apoio. É um momento único para os povos do Xingu e seus parceiros estruturarem estratégias de enfrentamento frente a estas ameaças e fortalecem a governança conjunta do território.
A despeito desses cenários de ameaças, existem várias iniciativas em curso de sucesso e resistência.
A Castanha dos Mebengokrê, óleo de pequi dos Kïsêdjê, óleo de copaíba e farinha de babaçu dos extrativistas da Terra do Meio, pimenta dos Wauja, óleo de babaçu dos Xikrin são alguns exemplos de produtos da floresta cujas cadeias produtivas serão apresentadas e trabalhadas no Encontro.
Mais do que geração de renda, a estruturação e o fortalecimento das cadeias dos produtos da floresta é uma importante ferramenta de articulação dos povos do Xingu.
A Rede de Cantinas da Terra do Meio, por exemplo, existe na região da Terra do Meio desde 2011. Mais do que espaços de compra e venda de produtos, as cantinas trazem segurança e transparência para os arranjos produtivos e parcerias comerciais. Hoje são 20 cantinas que trabalham principalmente com a castanha, borracha, óleo de copaíba, babaçu e seus produtos associados.
No TIX, o trabalho com o mel está crescendo e se fortalecendo cada vez mais. Hoje são 100 apicultores de 39 aldeias dos povos Yudja, Kĩsêdjê, Kawaiwete e Ikpeng. A Associação Terra Indígena do Xingu (Atix) recebeu recentemente o Prêmio Equatorial da ONU, importante reconhecimento de iniciativas que trabalham pelo desenvolvimento sustentável ao redor do mundo (saiba mais).
Em 10 anos, a Associação Rede de Sementes do Xingu já comercializou 175 toneladas de sementes nativas, gerando 2,3 milhões de reais de renda para indígenas, ribeirinhos, agricultores familiares e urbanos. Hoje são 450 coletores que trabalham com mais de 200 espécies de sementes. A Rede se consolidou como um exemplo de negócio inovador de produção comunitária de sementes nativas. Representantes destas iniciativas estarão no encontro para compartilhar suas experiências – desafios e vitórias – e fortalecer conjuntamente as iniciativas produtivas do corredor.
O desafio de como criar mecanismos para garantir uma boa interlocução entre os diferentes grupos que vivem num território tão extenso foi um tema debatido extensamente nos encontros passados. Com o objetivo de estruturar caminhos para que a troca de informações e o debate de estratégias possam acontecer, foi criada a Plataforma Colaborativa Xingu +.
O Corredor de Diversidade Socioambiental tem aproximadamente 28 milhões de hectares de extensão, incluindo 21 Terras Indígenas e dez Unidades de Conservação contíguas. A região, localizada no Pará e Mato Grosso, incide sobre 40 municípios e é a morada de centenas de famílias ribeirinhas e 26 povos indígenas.
O site será lançado no evento e os xinguanos acessarão em primeira mão o conteúdo. A Plataforma tem informações sobre o Corredor e seus parceiros, histórico da aliança do Xingu, iniciativas produtivas existentes, acervo de imagens e documentos, o monitoramento em tempo real de pressões e ameaças sobre o território e seus povos, além de conteúdos específicos das áreas protegidas, agenda de eventos no Xingu e notícias socioambientais.
Com o objetivo de monitorar as pressões e ameaças, será lançado o Observatório Xingu (OX), plataforma online ancorada no site Xingu +, que acompanha a incidência de desmatamento, degradação ambiental, conflitos territoriais, focos de calor e empreendimentos (transporte, energia e mineração). O observatório, mais do que um banco de dados referência para o acompanhamento dessas ameaças, é uma importante ferramenta para os xinguanos, que podem acompanhar o OX em seus dispositivos e enviar mensagens por meio de um sistema de alerta.
O evento é fechado para convidados. Para mais informações entrar em contato com assessoria de imprensa: Isabel Harari (11) 999607068 / isabelharari@socioambiental.org