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Extrativistas da Terra do Meio (PA) terminam curso de Gestão Territorial e debatem futuro

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Com o sexto módulo encerrou-se o processo iniciado em 2011, cujo objetivo foi melhorar a interlocução das famílias extrativistas com a sociedade na busca por seus direitos. Propostas foram elaboradas com base em análises sobre as regiões de Altamira e da Bacia do Xingu
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Depois de três anos o curso de Gestão Territorial com os extrativistas da Terra do Meio encerrou-se com a realização do sexto módulo, na Reserva Extrativista (Resex) do Rio Iriri, entre 9 e 23 de novembro do ano passado. O curso foi realizado pelo ISA em parceria com a Fundação Viver, Produzir e Preservar (FVPP), com apoio do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e financiamento do Fundo Vale, envolvendo extrativistas das Resex do Rio Iriri, do Rio Xingu e do Riozinho do Anfrísio, localizadas na Terra do Meio, no Pará. Participaram do curso 36 estudantes no primeiro módulo, 19 no segundo, 13 no terceiro, 17 no quarto, 16 no quinto e 26 no sexto e último módulo.

Nesse módulo ocorreram rodas de conversa aprofundando e debatendo informações sobre o contexto atual da Terra do Meio e da Bacia do Xingu já trabalhados em módulos anteriores ea elaboração de planos de futuro, onde os estudantes utilizaram diferentes linguagens e habilidades trabalhadas transversalmente durante o curso: a escrita, a cartografia e a audiovisual.

Foram retomadas e debatidas informações presentes no Sistema Nacional de Unidades de Conservação - Snuc, que regulamenta as Reservas Extrativistas, destacando o Plano de Manejo, documento que trata do desenvolvimento e gestão dessas unidades.. O Plano de Manejo foi trabalhado de maneira que os estudantes pudessem ter clareza de seus elementos e conteúdos para que possam contribuir de forma cada vez mais ativa em sua revisão, que deverá ocorrer neste ano de 2014.

O técnico do ISA, Juan Doblas apresentou por meio de mapas os diversos vetores de pressão que incidem sobre o Mosaico Terra do Meio e a Bacia do Xingu, onde estão as três Resex, chamando a atenção para um quadro cada vez mais preocupante de avanço sobre as Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Este módulo também contou com a participação do antropólogo e professor da Unicamp, Mauro Almeida, que tratou da história da luta dos seringueiros desde o Acre e ressaltou a importância do modo de vida dos povos tradicionais e suas lutas como essenciais aos processos de defesa de seus direitos e de gestão destas UCs.

Almeida compartilhou com os extrativistas sua experiência na criação do conceito de Reserva Extrativista, na década de 1980, no Acre, destacando o papel que tiveram os seringueiros na conquista de seus territórios.

Entender como se deu esse processo de conquista das Resex pelos seringueiros do Acre nas palavras de alguém que participou dele foi essencial para os estudantes, seus familiares e vizinhos. “Eu achei muito importante a conversa que a gente teve com o professor Mauro Almeida. Ele começou contando a historia dele e a história que viu e viveu também, como a história do Chico Mendes. Eu fiquei muito emocionado na hora que o Mauro se emocionou!!!”, relatou um dos participantes do curso, Denilson dos Santos Machado.

Para estruturar os planos de futuro os estudantes elaboraram textos individuais e coletivos, mapas e vídeos, tendo como roteiro desde as demandas pessoais e familiares até as coletivas/regionais. A visão de futuro inclui o incentivo à construção de princípios de relacionamento das famílias com empresas interessadas na comercialização dos produtos que extraem e beneficiam. Esse processo está sendo tocado pelo ISA em parceria com as famílias das Resex e com o apoio do Imaflora.

Durante o módulo também foram realizadas atividades para o melhor entendimento do uso de filmadoras, desde técnicas de filmagem até tipos de filmes. Daí resultaram quatro filmes elaborados pelos estudantes, que contaram com a orientação dos cineastas Rafael Salazar e Andrea Benedecci. Rafael e Andrea também captaram imagens para um documentário sobre as Resex, que deve sair ainda esse ano.

A construção dos Planos de Manejo

Entre os principais resultados do último módulo do curso está uma compreensão mais clara do que é Plano de Manejo e que habilidades e conhecimentos são necessários para construí-lo. . Além disso, existem perspectivas de que os Planos de Manejo sendo elaborados pelos próprios moradores tenham uma melhor aplicação pelas famílias na gestão do território, não descartando que ações futuras de melhor compreensão deste instrumento sejam fomentadas/realizadas.

O curso incentivou ainda uma aproximação maior com os povos indígenas da região, como aliados na luta pela proteção do território. “Pra gente ser unido e ter mais força, a gente precisa se unir com os índios e trabalhar junto. A gente divide muita coisa com eles então podemos lutar junto com eles. Hoje falta conversar, marcar encontro com cada liderança de cada comunidade para criar um pacto de trabalho junto”, afirmou Francisco Bandeira dos Santos, um dos participantes.

Ao final desses três anos de trabalho é possível verificar alguns estudantes melhor preparados para o diálogo com a cidade, sabendo como se dá o acesso a direitos e se firmando como tradutores para as famílias dos processos que se dão de fora pra dentro além de se transformarem em referência na construção de ações para atender as demandas locais. (Outros resultados podem ser visualizados no quadro ao final do texto).

A ideia é que nos próximos anos a continuidade da formação dos moradores das Resex tenha como enfoque as habilidades e os conhecimentos necessários para que a revisão dos Planos de Manejo possa ser realizada pelos próprios moradores. Para André Villas-Bòas, coordenador do Programa Xingu do ISA, o processo formativo em curso nas Resex pretende contribuir para que suas populações possam entender e dialogar com a expectativa da sociedade brasileira quanto a seu papel na manutenção e sustentabilidade futura dos serviços socioambientais gerados nessas unidades. de conservação. “Neste sentido, essa formação assegura condições mínimas para que ocorra uma participação ativa por parte da população local na atualização dos planos de manejo de cada unidade”.


Alguns resultados indiretos

:: 6 estudantes nas diretorias das associações
:: 3 estudantes agentes de saúde e microscopistas
:: 15 estudantes participando de projetos com castanha manejada, borracha, copaíba e a mini-usina de óleos
:: 8 estudantes frequentando aulas nas escolas instaladas nas Resex
:: 6 estudantes que integram os conselhos deliberativos das UCs
:: 2 estudantes assumiram cargo de assessor das associações de moradores das Resex
:: 2 estudantes assumiram trabalho de cantineiros (compra de produtos não madeireiros beneficiados e venda de produtos industrializados)
:: 65 % (11 estudantes) da turma tem mais de 75% da frequência dos módulos
:: Realização de reuniões comunitárias com maior autonomia dos moradores, sobretudo no Riozinho

Cristiano Tierno
ISA
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