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Realizada em 21 e 22 de março, a expedição percorreu mais de 475 km, entre os rios Ajarani e Mucajaí, no limite Leste da TIY, em Roraima. Foram visitados sete assentamentos de reforma agrária e duas Unidades de Conservação e constatou-se importante redução no processo de invasões no Ajarani, apesar do crescimento de novos vetores de pressão
Desde 2012, Hutukara, ISA e Funai têm trabalhado em conjunto nas ações de proteção territorial do limite Leste, sobretudo na região do Ajarani, uma das áreas mais impactadas por invasões a Terra Indígena Yanomami. Nas expedições passadas foi registrado o crescimento de estradas ilegais e identificados diversos pontos de invasão, o que subsidiou ações da Funai de instalação de placas e sinalizações nos trechos mais vulneráveis da linha demarcatória.
Assim, a expedição de 2014 teve como objetivo monitorar a expansão da malha viária no entorno da TIY, e verificar o impacto do trabalho de fiscalização que vem sendo desenvolvido nos últimos anos. (Saiba mais)
Nos caminhos do limite Leste
A expedição desse ano teve início em uma vicinal que liga a Perimetral Norte (BR-210) ao igarapé Trinta, no limite da TIY com a Estação Ecológica de Caracaraí (Esec). Trecho frequentemente citado pelos yanomami como um dos focos de invasão de pescadores. Apesar de ser uma Unidade de Conservação de Proteção Integral, foram identificadas pelo menos quatro famílias sitiadas dentro da Esec, uma delas localizada às margens do igarapé, ou seja, limítrofe a TIY.
Esta mesma estrada continua, na direção contrária, margeando a Terra Indígena, por dentro de um assentamento do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária). Nesta região, a TI é adjacente ao fundo dos lotes do assentamento, mas combinando o levantamento de campo com análises de imagem satélites, constata-se que os limites da TIY neste trecho estão sendo respeitados.
Já ao norte da península do Ajarani, vicinais apontam em direção a TI, e foram identificados três pontos de grande risco de invasão. A expedição visitou novamente os locais que foram contemplados na edição passada, onde foram afixadas placas e sinalizações. Nos três pontos, a invasão por ocupantes parece ter cessado. Embora tenhamos encontrado apenas uma placa intacta, os moradores do assentamento disseram que as ações de repreensão da Polícia Federal do ano passado inibiram o movimento de ocupação registrado pela expedição de 2013. Uma das estradas que entra pela TI, por exemplo, está sendo tomada pela floresta e em breve deve se transformar em um simples varadouro. Todavia, ela parece se oferecer ainda como um presente para madeiros e invasores.
Outro importante vetor de ameaça é uma vicinal que se expande paralela ao Rio Repartimento, a oeste da península. Nela, reproduz-se um modelo de ocupação onde a migração é incentivada ou facilitada por políticos locais, na medida em que a atribuição de lotes nas frentes pioneiras é um meio eficaz de construir uma base eleitoral. Entretanto, seguindo o padrão regional, é bem provável que, terminado o período de eleições que ocorrem neste ano, todas estas famílias permaneçam sem nenhum acesso aos serviços básicos prometidos.
Foram também percorridas outras três vicinais que partem das proximidades da Vila Campos Novos em direção ao Rio Apiaú. Neste trecho o que se observa é uma sistemática substituição de colonos por fazendeiros, que depois de anos de abandono pelo poder público, acabam vendendo suas propriedades para produtores de gado, que leiloam, em uma só tacada, vicinais inteiras. A Vila de Campos Novos é agora o centro do chamado “arco da produção”, que vem recebendo grandes investimentos do governo estadual, sobretudo, no que diz respeito a melhorias na infraestrutura viária, e isso tem esquentado o mercado de terras na região.
Do “arco da produção” a viagem seguiu para a Floresta Nacional de Roraima, onde estavam localizados os últimos pontos a serem visitados. Na expedição de setembro do ano passado, foi encontrado no limite da TIY com a Flona, uma ocupação de pelo menos 30 hectares, que parecia ter a sua origem relacionada a possíveis estradas que atravessariam a Unidade de Conservação.
Com esta suspeita, a expedição percorreu todas as vicinais que partiam dos assentamentos em direção à Flona, para averiguar se alguma delas prosseguia em um varadouro até a área Yanomami.
Identificamos na imagem satélite três vicinais, e com a ajuda do GPS visitamos uma a uma. Para a nossa (grata) surpresa, atestamos que nenhuma delas sequer chega a invadir a Flona, descartando assim a nossa hipótese inicial. Com efeito, provavelmente as invasões que registramos ano passado devem ter a sua origem no Rio Mucajaí, ou em alguma trilha que parte do fundo das últimas fazendas desses assentamentos. Mas para verificar isso será preciso outra empreitada.