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Incêndios criminosos impedem regeneração florestal na Terra Indígena Marãiwatsédé (MT)

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Buscar alternativas eficazes e viáveis para a recuperação da Terra Indígena mais desmatada da Amazônia Legal é o maior desafio. O fogo criminoso tem impedido o processo de regeneração natural. Sem floresta, os Xavante enfrentam muitas dificuldades para manter suas tradições
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Os Xavante da Terra Indígena (TI) Marãiwatsédé, no leste mato-grossense, tentam manter as tradições que herdaram de seus antepassados, mas enfrentam desafios para conseguir os recursos da natureza para fazer suas casas, seu artesanato e para realizar seus rituais. A caça também está escassa e até água falta. Além disso, acredita-se que a água de alguns rios esteja contaminada com agrotóxicos.

Os desafios são enormes, talvez até maiores do que foi conseguir recuperar a posse da terra que era ocupada por seus antepassados. A desintrusão de não índios da TI Marãiwatsédé terminou em janeiro de 2013 (saiba mais sobre esse caso). E deixou como herança para os Xavante a TI mais desmatada da Amazônia Legal. Dos 165 mil hectares, localizados na região norte do Araguaia mato-grossense, mais de 104 mil hectares estavam desmatados na época da desintrusão. Os restantes 40% de floresta ficam longe da aldeia, estabelecida na área mais desmatada. (veja no gráfico abaixo o ranking do desmatamento de TIs)

Situadas em Terras Indígenas demarcadas, as aldeias Xavante quase não mudam de local. Sem caça e coleta suficientes para alimentar a todos, os índios sobrevivem com as míseras cestas básicas do governo, que trouxeram com elas o sedentarismo e muitas doenças. Mesmo assim a comida não é suficiente e também falta assistência, médica principalmente.

Para que a aldeia consiga o mínimo de suprimentos tradicionais, é necessária a recuperação dos mais de 100 mil hectares desmatados. Porém, a situação é crítica. “Desde 2013, houve mais devastação que regeneração”, diz Diego Schmith Gino, da Opan. É isso mesmo que você leu. Depois da desintrusão, milhares de incêndios, além de impedir a regeneração, estão devastando o que resta de mato da Terra Indígena. Somente em agosto de 2014, no auge da seca, os satélites do Inpe detectaram 1.200 focos de queimadas dentro da Marãiwatsédé, conforme análise feita pelo ISA (Instituto Socioambiental). (veja o gráfico publicado no boletim de Olho no Xingu).

O modo de vida dos Xavante

O pensamento difundido na sociedade de que existe pouca terra para muito índio nasceu devido a desinformação sobre a cultura indígena e com base em uma visão que prioriza o uso da terra para a produção agropecuária e o lucro econômico. Os Xavante utilizam a terra para extrair o alimento que consomem, não para produzir e vender.

De acordo com a indigenista da organização Operação Amazônia Nativa (Opan), Maria Nahssen, que trabalha com os Xavante, esse é um povo tradicionalmente seminômade. “É um povo caçador e coletor”, explica. Antes da colonização da região Xingu/Araguaia, os Xavante ocupavam uma área muito maior. As aldeias eram transferidas de local de tempos em tempos.

Dentro da organização social dos Xavante, os homens são responsáveis pela caça e proteção, pela manutenção dos rituais e cerimônias religiosas; as mulheres pelos afazeres familiares, coleta e plantio. Trabalhos bem definidos e uma rotina guiada pelas estações do ano e sustentada pelo que a natureza oferecia. Neste ritmo eles viviam, mudando de lugar, caçando e coletando.

As roças xavante são compostas por espécies que se mantêm no sistema florestal por longo prazo. Baseada em um manejo prolongado e agroflorestal, os Xavante são também agricultores, pois parte das espécies coletadas, como cará, inhames e batata doce, são domesticadas para a coleta.

Buscar alternativas eficazes e viáveis para a recuperação da Terra Indígena mais desmatada da Amazônia Legal é um desafio. E deverá acontecer por meio da regeneração natural com auxílio das técnicas existentes, como o plantio mecanizado de sementes florestais. Mas o fogo tem impedido a regeneração natural, a alternativa mais barata. “Se der uma cessada nas queimadas, a gente acredita que em poucos anos a floresta estará grande novamente”, diz Diego.

Os Xavante culturalmente põem fogo na mata para fazer roça e caçar. Mas é um incêndio controlado e se for praticado de tempos em tempos, alguns estudos indicam ser benéfico para o equilíbrio do Cerrado. Porém a quantidade e a constância dos focos na TI em processo de regeneração e fragilizada, traz um desequilíbrio que está matando o que sobrou da vegetação.

Para 2015, existe a expectativa de os Xavante ocuparem mais o território. Por enquanto, eles estão em apenas uma aldeia, que fica localizada em um extremo da TI, mas a dinâmica cultural Xavante possibilita que as aldeias se fragmentem à medida que elas incham. No caso de Marãiwatsédé, a aldeia permaneceu unida por causa do perigo dos invasores.

Com a ocupação, poderá haver maior controle do território com a diminuição das invasões e dos incêndios criminosos. Diminuindo os incêndios, enfim, a floresta pode se regenerar e oferecer uma perspectiva de vida diferente para as futuras gerações. Depois de conquistara terra, a luta dos Xavante continua.


Coleta de sementes é alternativa viável

Sem recursos naturais suficientes e com ajuda mínima do governo, os Xavante estão buscando alternativas de renda para suprir suas necessidades mais básicas. Só que isso precisa ser feito com respeito à sua cultura. Uma dessas alternativas foi a criação, em 2011, de um grupo de coletoras de sementes, que hoje totaliza 35 mulheres. Em 2014, a coleta rendeu apenas R$ 5.895,23. Parece pouco, mas foi mais que o dobro que o arrecadado em 2013, de R$ 2.273,54, tornando-se uma importante fonte de renda para as famílias.

A indigenista Maria Nahssen explica que a coleta só não é maior por conta da devastação, e também por falta de transporte. “As áreas de floresta ficam longe da aldeia e eles não possuem locomoção para fazer esse deslocamento”. Para o ano que vem está sendo planejada a realização de expedições para a coleta de sementes.

As sementes são entregues para a Associação Rede de Sementes do Xingu, com sede em Canarana/MT, que tem hoje 421 coletores associados espalhados pela região Xingu/Araguaia e que comercializou neste ano mais de 26 toneladas de sementes florestais para a recuperação de áreas degradadas em todo o Brasil.

Para o ano que vem, utilizando recursos do FAM (Fundo Amazônia), estão previstas a construção de um viveiro de mudas e de uma casa de sementes na aldeia, além da aquisição de kits de beneficiamento de sementes. Capacitações para melhorar a eficiência também estão sendo programadas.

De acordo com suas possibilidades, os Xavante já recuperaram um hectare de área degradada com o plantio de sementes a lanço. Até o final do ano estava previsto o plantio de mais três hectares. Com a coleta de sementes, os quintais das casas também estão cheios de árvores, principalmente frutas.

Para saber mais consulte o especial publicado pelo ISA sobre a retomada da TI Marawãtsédé .

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