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Realizado entre os dias 18 e 20 de outubro, o 3º Encontro Xingu + Diversidade Socioambiental no coração do Brasil promoveu discussões sobre proteção e gestão do território, fortalecendo a articulação entre os xinguanos.
Um a um, os representantes de cada povo foram se apresentando e marcando no mapa o local onde moram. São 28 milhões de hectares entre Mato Grosso e Pará que compõem o Corredor de Diversidade Socioambiental do Xingu.
“Quando você é um, uma comunidade, uma instituição, uma aldeia, você não tem muita força. Mas quando junta todo mundo, olha o tamanho da força que temos”, constatou Pedro Pereira, da Reserva Extrativista Riozinho do Anfrísio (PA), em um dos vários grupos de trabalho formados ao longo dos três dias de encontro.
O Xingu + acontece a cada dois anos e tem o objetivo de promover alianças e fortalecer as parcerias entre os povos do Xingu e seus aliados, para o desenvolvimento de atividades produtivas sustentáveis e a criação de estratégias integradas de gestão de seus territórios. “O Rio Xingu para nós é a nossa vida e a nossa sobrevivência, por isso estamos aqui juntos”, explicou Bepnhôti Atydjare, do povo Kayapó.
O Corredor, que abriga uma das maiores diversidades socioambientais do mundo, enfrenta ameaças que colocam em risco a integridade do território e os modos de vida de seus povos. “A nossa união se fortaleceu quando nosso rio ficou ameaçado”, lembrou Kanato Yawalapiti, fazendo referência à usina de Belo Monte.
A hidrelétrica faz parte de um conjunto de empreendimentos – de transporte, energia e mineração – que, com o desmatamento, os conflitos territoriais e a degradação ambiental, pressionam a região. Os xinguanos estão organizados e atentos.
Com o objetivo de monitorar as pressões e ameaças, o Observatório Xingu (OX) foi lançado durante o encontro. Ele está ancorado na Plataforma Colaborativa Xingu e acompanha a incidência de desmatamento, degradação ambiental, conflitos territoriais, focos de calor e empreendimentos (saiba mais abaixo).O Observatório, mais do que um banco de dados referência para o acompanhamento dessas ameaças, é uma importante ferramenta para os xinguanos, que podem acompanhá-lo em seus dispositivos e enviar mensagens por meio de um sistema de alerta. Os participantes do encontro o testaram e verificaram os conflitos existentes em suas áreas, além de compartilhar estratégias para seu enfrentamento. Para eles, é clara a importância de cobrar os órgãos governamentais responsáveis e estruturar soluções integradas entre as comunidades e o poder público.
O OX e suas demandas foram apresentados ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Fundação Nacional do Índio (Funai) e Ministério Público Federal (MPF). Para Felício Pontes, procurador da regional da República da 1ª Região, o monitoramento pode influenciar tanto o trabalho do Judiciário quanto as ações na ponta, de fiscalização. “As informações estão amadurecidas e prontas para que haja uma ação governamental eficaz para combater todas essas mazelas que afetam o Xingu”.
O desafio de mostrar a importância do Corredor do Xingu para o mundo e fortalecer a comunicação entre seus moradores foi bastante debatido nos dois encontros anteriores, em 2013 e 2015. O lançamento do OX na plataforma Xingu + consolida vem facilitar esse processo.
“É a casa do Xingu na internet”, explica Biviany Rojas, advogada e coordenadora do componente Monitoramento do Programa Xingu, do ISA. Com o objetivo de estruturar caminhos para que a troca de informações e o debate de estratégias aconteçam, a plataforma, que ancora o Observatório Xingu, foi construída de forma colaborativa com os parceiros xinguanos.
A estrutura do site tem informações preliminares sobre o Corredor e seus parceiros, traz um histórico da aliança do Xingu, das iniciativas produtivas existentes, acervo e o monitoramento em tempo real de pressões e ameaças sobre o território e seus povos. Além disso, comporta conteúdos específicos das áreas protegidas, agenda de eventos no Xingu e notícias socioambientais. A complementação de conteúdo e funções da plataforma Xingu + é parte dos trabalhos que os povos do Xingu definiram como encaminhamentos do encontro.
O 3º Encontro Xingu + promoveu também trocas e aprendizados sobre as iniciativas produtivas nos territórios do Corredor Xingu de Diversidade Socioambiental.
Indígenas, ribeirinhos e extrativistas debateram a construção de cadeias de valor de produtos da floresta. E demonstraram, em rodadas de apresentação, seus avanços na consolidação de alternativas econômicas. Em troca, receberam valiosos relatos de experiências produtivas.
"Falamos sobre a produção de mel, castanha, babaçu, pimenta, coleta de comercialização de sementes e as nossas formas de organização – como o Conselho Ribeirinho, a Rede de Cantinas e nossas associações", escreveram os participantes em carta, ao final do encontro. Leia a carta na íntegra.
As rodadas de conversa contaram com apresentações da Associação Floresta Protegida (AFP), da Associação Rede de Sementes do Xingu, da Associação Terra Indígena do Xingu (Atix), da Associação Yudja Mïratu da Volta Grande do Xingu (Aymïx), do Instituto Kabu, do Instituto Raoni e da Rede de Cantinas da Terra do Meio.
Foram discutidos detalhes da coleta e beneficiamento do cumaru e da castanha-do-Pará, a extração do óleo de copaíba e de pequi, a produção do mel, da pimenta, da manta de borracha e do artesanato.
Os detalhes de cada fase de produção, em destaque durante as exposições, mostraram que os povos envolvidos compartilham dificuldades por trabalhar em territórios sob constante ameaça. No entanto, reúnem um sentimento comum.
"Saímos inspirados e fortalecidos para continuar a luta na defesa do Xingu e seus povos", afirmaram, na carta.
Das cabeceiras, nas fazendas ao sul do Mato Grosso, à foz, nos pedrais do Pará, o Rio Xingu passa por 21 Terras Indígenas e dez Unidades de Conservação contíguas, moradas de centenas de famílias ribeirinhas e 26 povos indígenas.
“Somos povos diversos, mas temos um objetivo em comum, que é a proteção do Xingu. Temos que nos unir, levando em consideração as particularidades de cada um”, analisa Ianukula Kaiabi Suiá. Ele reforça a importância da governança nas bases, aldeias e localidades, para fortalecer a gestão do Corredor como um todo. “Afinal, o rio que passa na sua casa também passa pela minha aldeia”, diz.
Mais do que a troca de experiências sobre a proteção e iniciativas produtivas, o encontro é uma importante articulação entre os atores que compõem o Corredor. Cleo Francelino Aquino faz parte do Conselho Ribeirinho, iniciativa criada há menos de um ano que luta pelo reconhecimento dos direitos e retorno dos ribeirinhos expulsos por Belo Monte para a beira do rio. Foi a primeira vez que esteve em Brasília e promete voltar à Altamira com o compromisso de compartilhar seus aprendizados. “Volto com mais fôlego, com a certeza de que não estamos sozinhos e que vale a pena lutar pelo Xingu”.
Durante o encontro, foram apresentados os principais avanços do selo Origens Brasil, lançado em março de 2016. A iniciativa, realizada pelo Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) e o ISA, visa dar mais transparência às cadeias de produtos da floresta, assegurando sua origem e ajudando o consumidor a identificar empresas que valorizam e respeitam, em suas práticas, os Territórios de Diversidade Socioambiental, como é o caso do Xingu.
O selo Origens Brasil já figura em dez produtos da bacia do rio Xingu e garante o reconhecimento de seus valores agregados em centros urbanos. Estão envolvidos, ao todo, 371 produtores do Xingu (indígenas e extrativistas) e 10 organizações de apoio técnico local. Potencialmente, mais 2 mil pessoas podem ser beneficiadas. O sucesso do selo dá fôlego a uma expansão para outros territórios, como a Calha Norte, que está em fase inicial.
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