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O governo brasileiro teve sua fala vetada na cúpula sobre mudanças climáticas da ONU que acontece hoje, (23), em Nova York, nos Estados Unidos. O Brasil não terá direito a voz porque, segundo a secretaria-geral da organização, não apresentou propostas que ampliassem a ambição dos compromissos já assumidos no tratado internacional sobre o tema. O mesmo ocorreu com outros países, como EUA, Japão e Arábia Saudita. O veto faz parte da série de desgastes políticos e diplomáticos decorrentes das posições do governo Bolsonaro na área ambiental.
O evento foi realizado às vésperas da Assembleia Geral da ONU, que acontece nesta terça (24), justamente para chamar a atenção dos líderes mundiais para o assunto.
Há grande expectativa para o discurso inicial da assembleia, que será feito pelo presidente Jair Bolsonaro. Faz poucas semanas que o aumento dos focos de queimadas na Amazônia chamou a atenção do mundo e acabou transformando-se numa das maiores crises diplomáticas vividas pelo Brasil, em décadas.
Mas o Brasil não ficou sem representantes na mesa de abertura do evento desta segunda-feira. Paloma Costa Oliveira, de 27 anos, foi escolhida entre mais de 130 jovens de todo o mundo para falar ao lado do secretário-geral da ONU, António Guterres, e de outros dois jovens: o indiano Anurag Saha Roy e a sueca Greta Thunberg, 16 anos. Roy falou sobre projetos científicos para a juventude e Thunberg é fundadora do movimento Greve Global do Clima, que vem levando milhões de pessoas às ruas de várias cidades do mundo, para cobrar de governos e empresas ações concretas imediatas contra as mudanças climáticas (veja vídeo e leia o discurso de Paloma abaixo).
“As pessoas estão sendo impactadas hoje. Já temos tecnologias e iniciativas de combate e adaptação às mudanças climáticas que já estão dando certo. O que precisamos agora é que gestores públicos nacionais e locais transformem essas soluções em políticas públicas”, diz Paloma, quando questionada sobre porque os jovens devem se engajar na questão das mudanças climáticas.
Em 2015, cursando Direito na Universidade de Brasília (UnB), ela tornou-se estagiária do escritório do ISA em Brasília. Em 2016, fez um intercâmbio para estudar, por um semestre, na Universidade Nacional do Chile, inclusive o tema de mudanças climáticas, e também estagiou na Corte Suprema do Chile. Em 2017, retornou ao ISA, ainda como estagiária, e foi convidada por dois colegas para integrar o Engajamundo, organização formada exclusivamente por jovens que atua mobilizando a juventude sobre as mudanças climáticas.
Em 2018, pelo Engajamundo, foi responsável por uma das instalações do Fórum Mundial da Água, que aconteceu em Brasília. Junto com o amigo João Henrique Alves Cerqueira, também criou o projeto Ciclimáticos, no qual fazem viagens de bicicleta para registrar e divulgar iniciativas sobre mudanças climáticas. Eles já pedalaram mais de 500 km em locais como a Serra da Cantareira (SP), o litoral do Paraná e o interior da Bahia. Também em 2018, foi contratada como assessora do ISA. Hoje, Paloma é uma das coordenadoras do Engajamundo e está terminando o curso de Direito.
Em julho, foi selecionada para participar da reunião preparatória sobre mudanças climáticas da ONU, realizada em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes. Depois disso, ajudou a secretaria-geral de Juventude da ONU a escolher os 100 jovens que participariam da nova reunião sobre o assunto, voltada apenas a jovens, que aconteceu no sábado, também em Nova York. Um dia antes, Paloma apoiou a cobertura do ISA e do Engajamundo da marcha realizada na cidade norte-americana como parte da Greve Global do Clima. Foi escolhida para falar na abertura da reunião da ONU de hoje em função dessa trajetória.
Obrigado, senhor Secretário-Geral.
Meu nome é Paloma Costa, e eu sou do Brasil.
Eu sou uma socioambientalista, cicloativista, educadora do clima e mobilizadora da juventude. Eu venho testemunhando como comunidades indígenas e tradicionais e outros grupos minoritários sofrem o impacto da crise climática.
Um grande líder indígena do Brasil disse recentemente que os povos indígenas têm resistido desde o início. E quanto a nós? Estaremos aptos a resistir? Bem, a juventude está mobilizada, nós não vamos trabalhar com indústrias que desmatam, nós não ficaremos em silêncio. Já mudamos nossos hábitos, e vocês não estão nos acompanhando. Os povos indígenas possuem tanto conhecimento e conexão com nossa Terra, e nós ainda não damos ouvidos a eles. Eles se unem para proteger sua terra, por que não podemos fazer a mesma coisa e proteger nosso lar?
Nas últimas semanas, o mundo viu com horror as chamas consumirem a Amazônia. Eu vi o mundo rezando por nossas florestas e vi nossos povos indígenas lutando pela sobrevivência. Nós não precisamos de orações, nós precisamos de ação. E a reação que vemos não é suficiente. Então eu me pergunto: precisamos ver a Amazônia em chamas para começar a fazer alguma coisa? Eu acho que não.
Desde minha primeira greve pelo clima com a Greta, na COP 24, meio bilhão de árvores foram destruídas na Amazônia. As pessoas ainda me perguntam se eu tenho medo de defender o meio ambiente, porque defensores ambientais vivem em grande perigo. Bem, eu NÃO TENHO! Tenho medo de morrer por causa da crise climática.
Estamos vivendo uma emergência climática que está afetando nossa segurança alimentar, nossa saúde e nossas vidas. E nós temos as soluções para resiliência e para mitigação.
Nós vivemos em um mundo dividido, enquanto temos aqui as melhores mentes ainda há pessoas fora daqui, e aqui dentro, se perguntando se a crise climática é real ou não. Bem, é.
O próprio Secretário-Geral lançou um desafio ao mundo, eu tenho trabalhado junto com a ONU para ajudar a realizar a Cúpula da Juventude para o Clima, no sábado, por meio do grupo de trabalho jovem. Eu sei que todos aqui estão prontos. Eu sei. Vocês vão parar de falar para que possamos transformar os compromissos em ação e solução? Ou vamos esperar nos encontrarmos ano que vem novamente aqui? Se eu posso pedir alguma coisa a nossos líderes eu diria que quero que todas as nações declarem emergência climática, para que isso se torne o primeiro item da agenda de todos os líderes. Minha demanda não é uma mera declaração simbólica, mas um compromisso genuíno com o meio ambiente e com os povos originários e tradicionais, que o protegeram por séculos e que ainda são oprimidos.
Eu continuarei a informar a juventude, a defender os direitos humanos e ambientais, a ouvir os jovens e os povos indígenas, para construir a agenda do clima no Brasil SEM desculpas. Eu não quero ouvir desculpas aqui. Agora é a SUA vez de fazer história e de tomar uma atitude urgente, para garantir um futuro seguro para todos nós. Vamos fazer isso juntos. Estamos aqui agora. É a nossa hora.