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Cerca de 500 ativistas climáticos de diversos setores – ONGs, movimentos sociais, sindicatos, grupos religiosos, associações de jovens, grupos indígenas, camponeses e feministas – se encontraram entre 2 e 4 de outubro, na Universidade de Créteil, em Paris, para organizar as próximas mobilizações pela justiça climática, com vistas ao acordo que será firmado durante a COP-21.
Além de uma agenda de ações pelo clima – entre as quais se destaca especialmente a marcha mundial pelo clima que se realizará em 28 e 29 de novembro –, o resultado desse encontro foi a reafirmação do movimento climático internacional, que aparece como ator político nas discussões do Acordo de Paris.
(Saiba mais sobre os antecedentes do movimento climático internacional).
A pressão a ser exercida sobre o processo de negociações foi um dos principais itens discutidos. “Hoje se alguém me pedir um prognóstico direi que nada está ganho para a COP, mas tudo é possível”, afirmou recentemente o presidente francês François Hollande, na Assembleia Geral da ONU. (Saiba mais).
“O evento da sociedade civil e de movimentos sociais em Paris é fundamental porque é um passo para o estabelecimento de uma grande articulação mundial contra o modelo [fóssil] hegemônico”, disse Iara Pietricovsky, da ONG brasileira Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), presente ao encontro.
Para Alix Mazounie, da Climate Action Network e da Coalizão francesa pelo clima (Coalition Climat 21) Paris será um importante ponto catalizador da ação climática”. A Coalizão francesa pelo clima (Coalition Climat 21) é a atual plataforma de coordenação do movimento climático internacional, que reúne mais de 130 organizações. Recebeu o bastão da articulação durante a COP-20, realizada em Lima, no Peru, em 2014, e o passará para o Marrocos depois da Conferência. O Marrocos sediará a COP-22. (Saiba mais)
“Sem mobilização da sociedade civil não tem pressão e sem pressão os governos são incapazes de agir além dos seus próprios interesses”, diz Juliette Rousseau, uma das responsáveis da Coalizão francesa.
Sociedade civil unida
O encontro mostrou uma sociedade civil unida que destacou o caráter pacífico de suas ações e a diversidade de seus integrantes. Entre as causas que a articulação defende destacam-se o direito ao acesso aos recursos naturais de qualidade, como água, terra, alimentos, e o compromisso de uma revolução energética 100% renovável, que, além de ser limpa precisa ser socialmente justa para todos.
“Tem gente atualmente que trabalha em processos poluidores e não podemos deixá-los de lado. O papel dos sindicatos é perseguir a ambição [nos compromissos climáticos], mas também ter solidariedade [com os trabalhadores] no processo de transição”, disse a líder sindical argentina, Anabella Rosemberg, da Confederação Internacional Sindical. Ela contou que o conceito de “transição justa” já está no texto base da negociação, e espera-se que seja confirmado no acordo de Paris.
Marcha global pelo clima 28 e 29 de novembro e outras ações
De Paris até Sidney, de Johanesburgo até São Paulo, as grandes cidades do mundo inteiro estão se organizando para a marcha global pelo clima. “Este é o momento de construir um movimento forte pela justiça climática. A nossa proposta é que as mobilizações globais do 28-29 de novembro sirvam para que na abertura da COP-21 cada governo saiba que a sociedade civil do seu país está aí, em pé e vigilante”, afirmou Christophe Aguiton, militante da ATTAC (Associação para a Taxação Financeira e Ajuda aos Cidadãos) e também integrante da coordenação da Coalizão francesa pelo clima.
Em alguns países, a marcha global pelo clima será no sábado 28/11 e em outros no domingo, 29/11. Pretende-se que todas as ações das diferentes cidades do mundo estejam conectadas umas com as outras e compartilhem uma mesma mensagem sobre o fim das energias fósseis e de um mundo movido 100% por energias renováveis, ao mesmo tempo em que se possa mostrar a diversidade das lutas climáticas de cada lugar.
As marchas estão sendo planejadas com chamadas e apelos conforme a realidade de cada país. No Líbano, por exemplo, o foco será a crise dos refugiados sírios; em Johanesburgo, na África do Sul, a ação terá início no local onde o líder Nelson Mandela foi preso pela primeira vez. Já na República Democrática do Congo, onde as manifestações não estão permitidas, as marchas serão substituídas por várias atividades de sensibilização em centros educativos.
“O sentido da mobilização social neste momento é que para poder alcançar os objetivos ambientais devem acontecer mudanças no sistema e para isso necessitamos de todo o mundo, de pessoas comprometidas”, afirmou Lasse Bruun, coordenador de mobilização global para a Climate Action Network (CAN) em São Paulo.
Além da marcha mundial, haverá mais uma ação em Paris. Será em 12 de dezembro, dia em que se encerra a COP-21. O mote será a “última palavra” da Conferência, onde a sociedade civil vai lembrar ao mundo que somente os processos de negociação não resolvem o problema de justiça climática, e que é necessário uma sociedade civil forte e ativa, disposta a continuar a luta.
A sociedade civil está organizando espaços de debate e de encontros abertos ao público em geral, na chamada “Zona de Ação Climática (ZAC)” que se instalará no Centro Cultural Centquatre (104) em Paris entre 7 e 11 de dezembro. Nos dias 5 e 6, a sociedade civil também organiza o festival Cidades Alternativas, que abrigará em Montreuil, subúrbio de Paris, o Fórum do Clima e um mercado dos produtos da terra. Calcula-se que cerca de 40.000 pessoas visitarão esses espaços.
Brasileiros se preparam para marchar pelo clima
Na marcha internacional pelo clima que acontecerá em diversas cidades do mundo, destaca-se a mobilização em São Paulo A ideia dos organizadores é que se faça uma concentração no vão livre do Masp, na Avenida Paulista. Em clima de muita festa, blocos carnavalescos representando temas como energia, florestas, resíduos, cidades, apresentarão soluções. “No caso da energia, as soluções serão a eólica e a solar. No caso das cidades, entra a galera da bike, no caso dos resíduos, os próprios catadores de lixo”, explica Raquel Rosenberg, da ONG brasileira Engajamundo, que participa ativamente da organização das marchas. Dali, os blocos seguem em passeata, acompanhados por uma bateria de escola se samba, até o Auditório do Parque do Ibirapuera, onde se realizará um grande show ao ar livre.
As marchas devem acontecer não só em em São Paulo mas em quase todas as capitais brasileiras. Já aderiram à mobilização cidades como Fortaleza, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba, Florianópolis e Manaus entre outras. Para a brasileira Iara Pietricovsky todos os países e povos devem estar atentos e buscar caminhos alternativos “O Brasil deve fazer o mesmo: reunir seus movimentos e cidadãos para mudar o estado das coisas e se conectar com o movimento mundial. O Brasil tem um papel fundamental nessa luta”.
- 28-29 novembro: Marcha Internacional pelo clima em várias cidades do mundo.
- 5-6 dezembro: Cidade das Alternativas. (Veja em https://alternatiba.eu/village-mondial-alternatives)
- 7-11 dezembro: Zona de Ação Climática (ZAC) no “Centquatre”. (Veja em http://www.104.fr/)
- 12 dezembro: mobilização em Paris denominada “ultima palavra” para exigir maior ambição pelo clima.