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A partir de uma reflexão participativa com jovens de comunidades rurais e indígenas do Xingu Araguaia, durante a I Gincana Cultural da Rede de Sementes do Xingu, realizada em novembro de 2015, foi elaborado um plano de ação composto por quatro eixos de atividades (formação, comunicação, investigação e mobilização), transversais ao tema dos efeitos das mudanças climáticas na produção de sementes e na vida comunitária. Esse processo será amparado com subsídios de formação e difusão de experiências interculturais por meio de um curso modular denominado Sementes Socioambientais.
Na segunda quinzena de abril, 15 jovens coletores indígenas e de comunidades rurais da Rede de Sementes do Xingu, participaram do primeiro módulo do curso, em Porto Alegre do Norte (MT). Para fazer parte desse processo, cada núcleo que compõe a Rede de Sementes do Xingu indicou representantes de suas comunidades: são 15 jovens pesquisadores que representam diferentes núcleos.
As atividades da pesquisa intercultural levam em conta diretrizes propostas por eles, que contemplam a dimensão artística, profissionalizante, tecnológica, intercultural e socioambiental. No primeiro módulo, os jovens se aproximaram e se apropriaram do tema das mudanças climáticas, discutindo de forma interativa e lúdica os ciclos socioecológicos (que vinculam a natureza com as pessoas) e fenológicos (que dizem respeito à reprodução das plantas). A fenologia de espécies florestais foi abordada, buscando a compreensão de como se dá a produção de sementes e qual a sua relação com o clima.
Integração dos jovens garante futuro da Rede
Os jovens puderam aguçar os sentidos para perceber os sinais da natureza, provocando a curiosidade para a realização da pesquisa entre módulos em suas comunidades. “A ideia é que os jovens, ao retornarem para suas casas, consigam buscar as respostas da natureza às mudanças climáticas junto aos mais velhos, trazendo para o grupo uma perspectiva local do que vem acontecendo com os ciclos. Ou seja, a proposta do curso vai além da pesquisa, ela fortalece o engajamento do jovem na sua comunidade e a troca intercultural entre os jovens da Rede de Sementes do Xingu”, explica Raíssa Ribeiro, técnica do ISA.
O atual cenário de pressões sociais imposto pelo modelo de desenvolvimento predominante leva à um processo progressivo de êxodo rural, principalmente dos jovens que necessitam buscar oportunidades de estudo, profissionalização e trabalho em ambientes urbanos. Ao mesmo tempo, a juventude indígena enfrenta a imposição de modelos da cultura ocidental no sentindo do ser, pensar, produzir e existir, desde a forma como se propõe a educação escolar até os meios de se alimentar que acompanham políticas de Estado.
Diante dessa realidade, a Rede de Sementes do Xingu identificou a relevância de fortalecimento da participação dos jovens, reconhecendo possibilidades de ação da juventude nos grupos de coleta do Parque Indígena do Xingu e nas comunidades rurais do Xingu Araguaia. “Como a Rede tem em sua maioria adultos e idosos, todo o conhecimento que eles têm precisa ser passado adiante. Aí é que os jovens entram em ação”, diz a jovem coletora, Milene Alves, 17 anos, do município de Nova Xavantina. A integração dos jovens na iniciativa garante não apenas o futuro da Rede, mas pode impulsionar novas oportunidades para o fortalecimento da agricultura familiar e das comunidades indígenas xinguanas, como alternativas para profissionalização e inserção social.
Francisco Gonsales, diretor executivo do Instituto Bacuri, um dos apoiadores da Rede de Sementes, está assessorando o trabalho com os jovens, baseado em sua experiência em arte e educação. Sua contribuição nesse processo foi estabelecer, desde o primeiro encontro em novembro do ano passado, um método de trabalho, uma metodologia de apresentação dos conteúdos ambientais. "É olhar para os conteúdos a serem trabalhados numa perspectiva lúdica e artística, contribuindo por meio de dinâmicas de grupo para a motivação e o envolvimento dos jovens", explica.
Em busca da sabedoria dos mais velhos
A Rede também contempla boa parte das atuais demandas dos jovens, sendo uma oportunidade para fortalecer os conhecimentos tradicionais sobre a floresta, levando-os a buscar a sabedoria dos mais velhos.
“A juventude impulsiona caminhos criativos, tecnológicos e inovadores com integração ao conhecimento local. Para isso ganhar força, é fundamental construir processos juntamente com os jovens para entender o que eles desejam dos seus territórios e como os seus sonhos podem interagir com a Rede”, explica Danilo Ignácio de Urzedo, assessor técnico da Rede.
Veja abaixo como está estruturado o plano de ação em seus quatro eixos.
A ferramenta da comunicação, transversal a todos os eixos, consiste em componentes audiovisuais e por isso, os jovens contaram com uma formação básica sobre operação de equipamentos de audiovisual para a produção de vídeos e fotografias. Dessa forma, eles poderão registrar o trabalho de pesquisa em suas comunidades como instrumento de compartilhamento das percepções das mudanças climáticas. Todos os módulos subsequentes incluirão atividades de desenvolvimento de técnicas audiovisuais, visando potencializar essas habilidades nos jovens.
Estão previstos mais três módulos até o fim deste ano, abordando temas relacionados com a produção de sementes, a gestão, a restauração e o manejo florestal no cenário de mudanças climáticas. Os jovens se reencontrarão para o segundo módulo na primeira semana de junho, em Nova Xavantina (MT), e trarão consigo os resultados iniciais de uma ampla pesquisa sobre a influência das mudanças climáticas nos ciclos da natureza.
Em novembro acontecerá a II Gincana Cultural da Rede de Sementes do Xingu, onde outros jovens participarão e os jovens pesquisadores do Curso Sementes Socioambientais terão a oportunidade de apresentar os resultados finais de sua pesquisa. Todo o material de pesquisa produzido pelos jovens coletores será incluído em uma página especial interativa, disponível em breve no site da Rede de Sementes e no site do ISA.
O projeto com os jovens da Rede conta também com o apoio do Manos Unidas, do Environmental Development Fund (EDF), da Fundação Moore, do Fundo Vale e do Fundo Amazônia.