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Mulheres indígenas de 25 diferentes povos da Amazônia, do Brasil e do Peru, participaram de encontro no Acre, no Centro de Formação dos Povos da Floresta, em Rio Branco, capital do Acre. O intercâmbio aconteceu entre 29 e 31 de agosto e teve cerca de 100 participantes. Elas discutiram sua participação na gestão territorial, seu papel na manutenção da língua, questões de saúde, saberes e práticas tradicionais e os espaços de representação política.
Muitas delas participavam pela primeira vez de uma reunião com representantes de outros estados, como Maria de Jesus e Floriza da Cruz, Yanomami da região do Maturacá, no Rio Cauaburis, município de São Gabriel da Cachoeira (AM). “Foi a primeira vez que fiz um intercâmbio com etnias diferentes. Entendi que elas também estão fazendo o que a gente faz, representando seu povo e procurando soluções para a saúde, educação e alimentação tradicional”, disse Floriza da Cruz. Durante o encontro, as Yanomami partilharam com as demais o processo de criação da Associação das Mulheres Yanomami Kumirãyõma, voltada ao trabalho com artesanato, uma alternativa econômica para valorizar o conhecimento específico que elas detêm sobre os recursos da mata.
Diversas experiências sobre a produção e comercialização de artesanato foram relatadas pelas participantes. Elizângela da Silva, da etnia Baré, do Departamento de Mulheres da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), contou como as mulheres do Rio Negro reuniram forças para reconstruir a loja Wariró, em São Gabriel da Cachoeira, destruída por um incêndio criminoso em junho de 2014. Ela lembrou que as mulheres que ficam nas aldeias são também protagonistas, pois são elas que produzem o artesanato que será vendido na loja. “Nosso artesanato simboliza tudo: nossa cultura, o nosso costume”, explicou.
Outro tema de debate foi o aumento do consumo de alimentos da cidade, a piora na qualidade de saúde daí derivada e a busca por alternativas para recuperar alimentos tradicionais. Essa é uma questão que preocupa muito as mulheres Yanomami de Maturacá. Por isso, foram inspiradores para elas os relatos de Lucila Wapixana sobre a criação da Casa da Memória na TI Tabalascada (RR) e os trabalhos que desenvolvem na produção de remédios com plantas medicinais.
Para a diretora da Foirn, Almerinda Ramos de Lima, da etnia Tariana, a experiência foi marcante e possibilitou uma visão mais ampla do que as mulheres rionegrinas podem construir em suas comunidades. Além de ser a primeira diretora mulher da Foirn, Almerinda foi também a primeira presidente mulher da federação.
Os retrocessos nos direitos indígenas foram abordados a partir dos exemplos locais e transnacionais que ameaçam a integridade dos territórios indígenas com grandes projetos de infraestrutura e exploração de recursos naturais. Para enfrentar tais ameaças, as mulheres lutam para assumir cada vez mais espaços políticos. Floriza e outras participantes relataram que as mulheres estão quebrando regras ao deixar as comunidades e se preocupam em fazer com que os homens entendam que a participação em eventos como esse melhora a vida de todos. Elizângela lembrou ainda que o pensamento das mulheres é diferente dos homens, mas que ambos fazem parte da mesma coletividade. “O trabalho das mulheres deve ser “levar o que é da aldeia para fora e trazer o que é de fora para dentro, que não seja contra a nossa terra, mas a nosso favor”.
Apesar das diferenças culturais, as semelhanças entre as participantes se fizeram mais fortes ao reconhecer as dificuldades comuns partilhadas entre elas. “Quando uma mulher de outra etnia compartilha todo seu conhecimento e a forma como ela mantém esse conhecimento tradicional que é transmitido de geração em geração, pra gente é muito enriquecedor. Espero participar mais vezes representando o Rio Negro e também levar outras mulheres das comunidades”, disse Almerinda.
Uma comissão de mulheres sistematizou as propostas encaminhadas elaborando um documento para nortear ações de políticas públicas voltadas a mulheres indígenas a ser publicado pela Comissão Pró-Índio.
O Encontro de Mulheres Indígenas foi promovido pela Organização dos Professores Indígenas do Acre (Opiac), Associação do Movimento dos Agentes Agroflorestais Indígenas do Acre (AMAAIAC) e Comissão Pró Índio do Acre (CPI-Acre) em parceria com a RCA - Rede de Cooperação Amazônica. Acesse a página do Facebook da RCA para ver o álbum completo de fotos.
Do Brasil, estavam representantes das etnias Arara Shawãdawa, Katukina, Arara do Rio Amônea, Yaminawá, Shanenawa, Puyanawa, Yawanawá, Kaxinawá, Nukini, Nawa, Manchineri, Tariana, Baré, Wajãpi, Kawaiwete, Yanomami, Mayoruna, Macuxi, Wapichana, Apalai e Tiriyó. Do Peru, mulheres das etnias Kichwa Runa, Yine, Shibiru, Harakmbut, Esse Eja e Shibipo, do departamento de Madre de Dios, na fronteira do Acre. Também estavam presentes autoridades do Governo do Estado do Acre e representantes da saúde.