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Os ribeirinhos dos Rios Xingu, Iriri e Riozinho do Anfrísio já estão imunizados. Em agosto e setembro de 2021, uma expedição de saúde subiu os três rios para levar a segunda dose da vacina contra a Covid-19 para as Reservas Extrativista (Resex) Rio Xingu, Rio Iriri e Riozinho do Anfrísio, todas elas na Terra do Meio, Pará. A viagem deu sequência ao trabalho desenvolvido em maio e junho deste ano. Além da segunda dose da vacina, a expedição ofereceu consultas médicas, vacinação de rotina para outras doenças e exames feitos em laboratório itinerante.
Algumas das comunidades atendidas estão a mais de três dias de barco de Altamira, a cidade mais próxima. Por isso, a expedição envolveu um desafio logístico e só foi possível graças a uma ampla parceria entre a Prefeitura Municipal de Altamira, Secretaria Estadual de Saúde do Pará, Universidade Federal do Pará (UFPA), ICMBIO, as organizações Instituto Socioambiental (ISA) e Saúde em Harmonia e as três Associações que representam os territórios: Amora, Amomex e Amoreri.
Nas Reservas Extrativistas, as famílias vivem distantes uma das outras, separadas por quilômetros de floresta e do rio. As casas são espalhadas ao longo do beiradão, que é como os ribeirinhos, ou beiradeiros, chamam as margens do rio. Em cada parada, vive uma família. Com uma geladeira embarcada, a voadeira da expedição foi subindo o rio e atendendo cada uma dessas comunidades. Foram duas viagens de 15 dias, uma pelo rio Xingu e outra pelos rios Iriri e Riozinho do Anfrísio. Ao todo, foram 400 vacinas aplicadas, 380 consultas médicas e 232 exames.
“A proposta dessa expedição foi trazer para a Terra do Meio, aqui para a Resex do Xingu, um laboratório móvel. Quando a gente consegue trazer o laboratório, a gente consegue fazer diagnósticos de maneira mais precisa e dar mais respaldo para o médico fechar esse diagnóstico”, disse Ozélia Santos, farmacêutica e professora da UFPA.
“É uma expedição que, além da vacina, traz atendimento médico, realizando alguns exames de sangue, porque fomos identificando que por morarem muito distante da cidade, os ribeirinhos levam muito tempo para fazer alguns exames que são importantes para a gente avaliar se eles têm um risco maior para problemas de coração, etc”, apontou Erika Pellegrino, médica da organização Saúde em Harmonia.
A imunização completa significa esperança para essas comunidades. Os ribeirinhos vivem a muitos quilômetros de distância da estrutura de saúde da cidade, com hospitais e leitos de UTI para casos mais graves da Covid-19. Em algumas épocas do ano, quando o rio Xingu está seco, o deslocamento de barco pode levar até uma semana. Em casos mais graves a remoção só pode ser feita por via aérea.
A ribeirinha Marinez Lopes de Souza contou com satisfação que, com a segunda dose da vacina, aos poucos a vida pode voltar à normalidade. “Antes a gente ia trabalhar todo mundo junto, mas com a pandemia ninguém pôde mais ficar junto, tinha que andar separado. A gente foi prejudicado mesmo. Estou feliz que já tomamos a vacina por que com tudo isso os professores já podem subir e começar as aulas para os nossos netos, para os vizinhos”, disse.
“A saúde é o mais importante, sem saúde nós não somos nada. Pessoal está vacinando, fazendo exames e consultas e estou achando tudo muito bom”, disse Maria de Lourdes Rosa da Luz, moradora da Resex Rio Xingu. “Estou feliz que tomei a segunda dose e se tiver outra tomo de novo”, finalizou rindo.
Os ribeirinhos da Terra do Meio vivem há mais de 100 anos nessa região da floresta amazônica no Pará. São descendentes de povos indígenas e de migrantes que chegaram para extrair látex durante os ciclos da borracha nos séculos passados.
Parte de seus territórios estão delimitados como Unidades de Conservação (UCs) - Reservas Extrativistas e Unidades de Proteção Integral. Ao lado dos povos indígenas da região, os ribeirinhos manejam a floresta para a produção de borracha, castanha, babaçu e mais de 15 produtos que hoje são comercializados por uma Rede de Cantinas.
Atividades ilegais prejudicam a integridade da mata e colocam em risco a vida não apenas dos guardiões, como de todo o planeta. [“Desmatamento no Xingu avança com governo Bolsonaro e põe em risco ‘escudo verde’ contra a desertificação da Amazônia”]
“A gente tem pensado numa perspectiva macro também, em relação à saúde planetária, de pensar que ao melhorar a saúde das pessoas que vivem na floresta estamos também ajudando a proteger mais o território, melhorar a preservação da floresta, a melhorar a saúde do planeta como um todo”, finalizou Pellegrino.