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Em discurso na ONU, Bolsonaro enfileira disparates e ataques a esmo, nega o ar que respira e comprova que deveria voltar à escola. Leia editorial do ISA.
Para quem acompanha o processo político brasileiro, o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira 24/9, foi uma sucessão redundante de distorções sobre a situação socioambiental brasileira. Mas a sua fala deve ter servido para que os observadores internacionais menos atentos tomem consciência do retrocesso civilizatório a que o governo brasileiro está submetido.
Bolsonaro não foi capaz de reconhecer, ou tratar objetivamente, nenhum dos problemas que afetam o país, sem esconder o seu desapreço pelos direitos dos índios e das demais populações tradicionais. Repetiu – agora em escala mundial – que as terras indígenas se destinam a manter os seus habitantes em condições “pré-históricas”, fazendo tábula rasa das relações de contato desses povos com a sociedade nacional e dos inúmeros projetos que eles desenvolvem, para justificar a abertura dessas terras para a atuação de frentes predatórias. O resultado é constatável nos casos em que elas já estão ilegalmente instaladas nestes territórios (e fora deles).
Bolsonaro insiste em brigar com os dados, inclusive oficiais, que indicam – reiteradamente - o agravamento do desmatamento e das queimadas na Amazônia e nos demais biomas do país. Até Brasília se encontra envolta em densa nuvem de fumaça, que piora os efeitos do período mais agudo da estação seca e despacha centenas de velhos e crianças para os hospitais da capital federal. Bolsonaro e ministros negam o ar que respiram.
Impressiona o fato de que, já estando na presidência há 10 meses, Bolsonaro não tenha recebido informações básicas sobre a questão mineral. Chuta valores improváveis para jazidas não pesquisadas e parece crer que o nióbio, bem mineral com limitados usos e valores de mercado, vai retirar o Brasil da estagnação econômica. Ele nem quer se informar sobre o que possa prejudicar o uso político e ideológico que faz dos seus "fakes mentais".
O presidente do Brasil revelou ao mundo a sua ignorância sobre o Brasil e o mundo. Bolsonaro escolhe como alvo de seus ataques o líder indígena Raoni, defensor inquebrantável da Amazônia e dos povos indígenas. A raiva que Bolsonaro destila contra ele demonstra um atraso cultural sobre a realidade de líderes indígenas, extrativistas, quilombolas e rurais de um modo geral, que ele afirma viverem na pré-história mas que, mesmo enfrentando dificuldades, lutaram extraordinariamente nas últimas décadas por sua escolarização e conhecimento sobre a sociedade envolvente. Bolsonaro precisaria voltar à escola.
Os disparates presidenciais na ONU alcançaram vários outros temas, dos direitos humanos à mudança do clima, da economia à política internacional, reiterando veladamente ofensas a chefes de estado e agravando o isolamento do país. É hora do Congresso Nacional, dos estados e municípios, dos empresários e líderes sociais atuarem em todos os foros internacionais relevantes para deixar claro para o mundo que quem se isola é o governo - não o Brasil.