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Cheia dos rios Anauá e Jatapu destrói roças de famílias indígenas Wai Wai, em Roraima

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Colheitas de mandioca e abacaxi foram perdidas com o alagamento das áreas nas terras indígenas Wai Wai e Trombetas Mapuera
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Por Evilene Paixão



Famílias das terras Indígenas Wai Wai e Trombetas Mapuera, ao sul de Roraima, tiveram suas roças alagadas durante o inverno rigoroso deste ano na região amazônica, com as cheias dos rios Anauá e Jatapu. Com isso, a tradicional colheita da mandioca e o processo de produção da farinha e do beiju ficaram prejudicados.

Fernandinho Wai Wai, ex-presidente da Associação dos Povos Indígenas Wai Wai (APIW), contou que todos os anos as famílias plantam para sua subsistência alimentos como mandioca e abacaxi, mas tudo foi perdido nos alagamentos em 2021. “Neste ano, com as fortes chuvas, perdemos o nosso plantio, isso significa que no próximo ano não teremos alimentação, principalmente a farinha. Tudo a gente planta para comer”, lamentou.

A Terra Indígena Trombetas Mapuera foi a mais prejudicada. Lá, no período de junho a julho, 140 famílias ficaram no prejuízo com o estrago do roçado. Segundo o ex-presidente da APIW, na comunidade Jatapuzinho, todas as roças das famílias se perderam. “A minha roça também e no próximo ano não vamos ter como torrar farinha. Esse ano ainda vamos derrubar a roça de novo para plantar para o outro ano, então, isso é a nossa preocupação. Muitas famílias estão aproveitando para fazer as nossas últimas farinhas e vender na cidade para conseguir alguma renda”, explicou.

Na Terra Indígena Wai Wai, a família de Carlos Kahrusu Wai Wai, da comunidade Anauá, perdeu várias plantações. Ele disse que teve grandes prejuízos no cultivo de banana, cana de açúcar, abacaxi e mandioca em suas duas roças. Assim como ele, 64 famílias da comunidade Anauá também relataram danos. “Minhas duas roças foram todas alagadas e as roças dos parentes também. Agora não temos nem maniva para fazer farinha. Não tem mais nada”, disse.

Carlos contou que as famílias estão correndo atrás do prejuízo e começando novos roçados. Mas, as perdas se refletem também no comércio local de cidades próximas, como São João da Baliza, que consome a farinha das comunidades indígenas “Na comunidade Anauá acabou a farinha e não vamos mais vender no município. Até o dono do mercado está preocupado”, contou.

O Instituto Socioambiental (ISA), parceiro das comunidades indígenas Wai Wai, está em processo de avaliação, junto às lideranças e tuxauas, dos impactos causados pelas perdas das roças durante as cheias dos rios Anauá e Jatapu e da necessidade de apoio às famílias prejudicadas, conforme explicou o assessor do ISA, Felipe Reis.



“Estamos no momento de mensurar e qualificar melhor quais apoios podemos buscar para as famílias afetadas. Podem ser ferramentas e combustível para os agricultores renovarem os cultivos ou alimentação emergencial. A partir da informação qualificada das lideranças e famílias Wai Wai, vamos definir qual melhor estratégia a seguir até o fim do ano”, disse.

Chuvas

Segundo o meteorologista da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Femarh), Ramon Alves, o período de inverno este ano foi intenso devido ao fenômeno La Niña, que esteve bem atuante desde novembro de 2020. “Janeiro, fevereiro e março são os meses secos, mas este ano foram meses chuvosos. Em abril choveu muito e tudo isso se deve à La Niña e ao aquecimento do Oceano Atlântico. Nosso período chuvoso deve ser de abril até setembro, com valores acumulados de chuvas em junho e julho, historicamente.”

Ramon informou que, no mês de junho, choveu uma média de 300 milímetros, o que era esperado. O volume extra veio das chuvas dos meses que deveriam ser os mais secos e provocou cheias em diversos rios do estado de Roraima. Segundo ele, entre agosto e setembro o fenômeno La Niña deve novamente inverter a tendência natural e provocar fortes temperaturas no Norte do Brasil.

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