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No Alto Rio Negro, cartilha em idiomas indígenas orienta combate à Covid-19

O material, elaborado em português e em quatro línguas indígenas, vai apoiar profissionais de saúde na conscientização contra o novo coronavírus
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Proteger as comunidades indígenas do Alto Rio Negro da pandemia do coronavírus mobilizou esforços urgentes da equipe do Instituto Socioambiental (ISA) baseada em São Gabriel da Cachoeira (AM) para a elaboração de cartilhas informativas nas línguas Baniwa, Dâw, Nheengatu e Tukano a serem levadas para as Terras Indígenas pelos profissionais de saúde do DSEI-ARN (Distrito Sanitário Especial Indígena do Alto Rio Negro).

O material tem versão em português e também será usado em contexto urbano pelos profissionais da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), assim como por outros multiplicadores da área de educação, meio ambiente e saúde, como os agentes indígenas de manejo ambiental (Aima’s), lideranças e comunicadores indígenas.

“As cartilhas chegam em um momento excelente. Justo quando nossas 25 equipes multidisciplinares de saúde vão entrar em campo para trabalhar a prevenção ao Covid-19. Educação e saúde caminham juntas e a conscientização sobre essa nova doença, feita de forma adaptada ao contexto cultural, é fundamental para o trabalho dar certo”, afirmou Sediel Ambrósio, enfermeiro e responsável pelo núcleo II de Planejamento, Gestão do Trabalho e Educação Permanente do DSEI-ARN. Sediel fará a entrega dos materiais aos 25 pólos base de saúde que existem na área do DSEI-ARN.

As ações de comunicação, educação e informação estão previstas no Plano de Contingência para Infecção Humana pelo novo Coronavírus em Povos Indígenas do DSEI-ARN, que abrange os municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, com total de aproximadamente 30 mil indígenas atendidos.



Neste plano, os especialistas alertam para a vulnerabilidade dos índios da região em relação à Covid-19, uma vez que 10% dos aldeados são maiores de 60 anos, considerado grupo de risco da doença. Além disso, também alerta para o alto índice de morbidades ligadas à Influenza (gripe) e pneumonia, além de doenças relacionadas ao aparelho respiratório e circulatório. Em 2018, 7,4% dos óbitos registrados no DSEI-ARN foram relacionados a doenças respiratórias, aponta o Plano de Contingência (anexo abaixo).

O material informativo será disponibilizado em um livreto de papel reciclado e também formato digital. Além disso, a partir deste conteúdo serão distribuídos ainda podcasts educativos pelos comunicadores da Rede Wayuri para serem compartilhados via celular nas línguas indígenas. As equipes do DSEI-ARN e Semsa também já vêm usando a rede de radiofonia da Foirn para informar às comunidades indígenas sobre o agravamento da pandemia no Brasil e na região amazônica.

Mobilização

Poucos dias após a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarar situação de pandemia, foi criado por decreto municipal em São Gabriel da Cachoeira – município mais indígena do Brasil – o Comitê de Prevenção e Enfrentamento ao novo Coronavírus. Interinstitucional, o comitê está integrando esforços para prevenir a chegada do Covid-19 no Alto Rio Negro, assim como buscar melhorias urgentes para o sistema de saúde da região em caso da proliferação da doença. O ISA, junto com a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), participa deste comitê e assessora os trabalhos de comunicação, educação, assessoria jurídica e defesa de direitos (advocacy).



O secretário municipal de saúde de São Gabriel da Cachoeira, Fábio Lobato Sampaio, esteve em Manaus para articular recursos e insumos para serem levados ao município com urgência até ontem. Sampaio chegou nesta quarta-feira (01/04) de volta a São Gabriel com materiais adquiridos junto à Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (Susam), entre os quais 300 testes rápidos de Covid-19 e kits de EPIs (equipamentos de proteção individual, como luvas e máscaras). “Continuaremos nossos esforços integrados dentro do comitê para enfrentar essa pandemia. É muito importante para o município ter a união das instituições nesse momento tão difícil”, disse.

Os municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel também receberão recursos emergenciais do Fundo de Fomento, Turismo, Infraestrutura, Serviços e Interiorização do Desenvolvimento do Amazonas), segundo anunciado pelo governador do Amazonas, Wilson Lima.




Ao todo serão R$ 70 milhões deste fundo destinados ao interior do estado. Barcelos e Santa Isabel receberão R$ 360 mil (cada um) e São Gabriel ficará com R$ 515 mil, que serão aplicados de acordo com o plano de contingência dos municípios, sendo 70% para custeio das operações e 30% em investimentos, segundo Sampaio.

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Uma das maiores preocupações no Rio Negro é o fato de os municípios não terem Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) ou respiradores mecânicos. Em casos graves, os pacientes precisarão ser removidos para a capital, Manaus, distante cerca de mil quilômetros. Dessa forma, os esforços neste momento da pandemia no Brasil estão voltados ao isolamento dos municípios e a fortes campanhas de educação e informação para que a população evite a circulação e permaneça em isolamento social.

No caso dos moradores das Terras Indígenas, a indicação é que permaneçam em suas comunidades até o fim da crise. “Precisamos que os nossos parentes fiquem em suas casas nas comunidades e só venham para a cidade em casos de necessidade urgente. O ideal agora é se proteger ficando em suas casas”, recomendou o presidente da Foirn, Marivelton Barroso, do povo Baré.

Juliana Radler
ISA
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