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Oficina elabora Projeto Político Pedagógico da Formação Avançada Indígena do Rio Negro

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O destaque principal girou em torno dos desafios do processo de criação de um programa de pesquisas interculturais que visa promover e gerar soluções para o bem viver e o desenvolvimento sustentável da Amazônia
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Entre 15 e19 de julho, a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn) e o ISA realizaram um encontro em São Gabriel da Cachoeira para aprofundar e sistematizar as discussões, iniciadas em 2009, do Projeto Político Pedagógico do Instituto dos Conhecimentos Indígenas do Rio Negro.

Esta é uma proposta construída ao longo de três anos, a partir de três grandes seminários e outras reuniões entre 2009 e 2012 na cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM), envolvendo pesquisadores, conhecedores, lideranças indígenas e convidados não indígenas, cientistas e representantes de universidades. Desse processo, resultou a proposta de um Programa de Formação de Ensino Avançado e Intercultural no Rio Negro, e a publicação de dois livros - Manejo do Mundo, em 2010 (Prêmio Jabuti 2011) e Rotas de Criação e Transformação, em 2012.

Participaram da oficina lideranças indígenas, diretoria da Foirn, departamento de educação/Foirn, Fundação Nacional do Índio, Diocese de São Gabriel da Cachoeira, Instituto Federal do Amazonas, assessores do Instituto Socioambiental e o Grupo de Trabalho do Programa de Formação Avançada Indígena. O grupo sistematizou os objetivos, atividades e metodologias dos eixos temáticos propostos para a primeira turma do programa: Narrativas de Origem e Rotas de Transformação, Manejo do Mundo e Economia Indígena Contemporânea.

Entre as reflexões destes cinco dias de debates, o destaque foi sobre os desafios do processo de criação de um programa de pesquisas interculturais que visa promover e gerar soluções para o bem viver e o desenvolvimento sustentável da Amazônia, ressaltando que o formato institucional em análise propõe que os conhecimentos dos povos indígenas do Rio Negro sejam a base na formação de todos os cursistas.

Formação deve se articular com gestão territorial

Implementar iniciativas de pesquisa para responder às expectativas do bem viver e do desenvolvimento local é uma proposta para levantar subsídios para as políticas públicas governamentais voltadas à gestão da biodiversidade, da agrodiversidade e ao fortalecimento dos conhecimentos tradicionais.

O aprofundamento da reflexão sobre os desafios foi apontado pelo padre indígena Justino Sarmento, da Diocese de São Gabriel da Cachoeira. “O Instituto dos Conhecimentos Indígenas do Rio Negro (Icirn) tem que ter um grupo de pensadores indígenas para responder questões: O que seria essencial para os indígenas do Rio Negro hoje? Como trabalhar os sentimentos, as emoções e as alegrias?”. Ele destacou ainda que os conflitos não são negativos, são positivos à medida que nos ajudam a amadurecer, a colocar em dúvida aquilo que consideramos como verdade e a arte do bem viver é a arte da criação humana, é a capacidade, a criatividade. “É importante discutir o que é o mal viver para melhor definir o bem viver”.

Os desafios são muitos na implementação de uma proposta de formação que se articule com novos modelos de gestão territorial. A preocupação do grupo de lideranças indígenas das comunidades, dos representantes da Foirn e do ISA, é formular uma proposta que congregue o interesse dos jovens indígenas, do governo brasileiro e das lideranças atuais, que estão preocupados com o futuro dos conhecimentos indígenas e da preservação da floresta em pé.


Interculturalidade é estratégia fundamental para a formação

A interculturalidade foi apontada como uma estratégia fundamental para promover as relações entre os conhecimentos indígenas e os conhecimentos de outros grupos, pois é por meio da interrelação de saberes que será possível fortalecer a gestão das Terras Indígenas e os conhecimentos indígenas. Esta é a proposta descrita na missão do Instituto dos Conhecimentos Indígenas do Rio Negro (Icirn):

“Promover e gerar soluções para o bem viver e o desenvolvimento sustentável com o fortalecimento da diversidade socioambiental da Aazônia, com base nos conhecimentos dos povos indígenas do Rio Negro e em um programa de pesquisas interculturais.”

A formação avançada dentro do Instituto visa implementar iniciativas de pesquisa e desenvolvimento para equacionar questões de mobilidade, energia, gestão de resíduos sólidos, saneamento, água potável, segurança alimentar, descentralização dos serviços sociais, voltadas às comunidades indígenas e às cidades ribeirinhas. Com o objetivo de “desenvolver a formação de jovens indígenas para a pesquisa intercultural, valorizando e fortalecendo contextos locais de produção e circulação de conhecimentos.”

O programa de formação propõe enfatizar os conhecimentos indígenas , focado nos eixos básicos (dois primeiros anos de formação): i) Narrativas de origem e transformação; ii) Manejo do Mundo e iii) Economia indígena contemporânea. E nos eixos de especializações profissionais (dois últimos anos de formação): i) Gestão territorial e manejo ambiental - formação de agentes indígenas de manejo ambiental (AIMAs); ii) Economia indígena - formação de empreendedores e gestores de projetos das associações, escolas e comunidades indígenas, e da Foirn; formação em tecnologias sociais e iii) Línguas e literatura indígena, tradução - formação de conhecedores tradutores das línguas indígenas do Rio Negro para a implementação da lei municipal 145 de 11/12/2002 de co-oficialização das línguas indígenas; assessoria para a promoção de políticas linguísticas adequadas à educação escolar.

Por fim, o grupo de discussão considerou que os participantes do curso deverão ser indígenas do alto e médio rio Negro que queiram inovar a realidade da região, que já sejam pesquisadores e participantes ativos dos projetos de suas comunidades ou associações. E ao concluir a formação, os jovens estarão preparados para serem bons tradutores; pesquisadores de ações estratégicas para o desenvolvimento regional; bons executores de projetos e gestores das relações de pesquisa intercultural.

Para saber mais sobre o processo de discussão e concepção do Instituto do Conhecimentos Indígenas do Rio Negro, acesse as notícias relacionadas:

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Laise Lopes Diniz
ISA
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