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As maiores articulações de povos indígenas, quilombolas, comunidades tradicionais e extrativistas do país lançaram, hoje (11), um manifesto contra o relatório do deputado Neri Geller (PP-MT) sobre o Projeto de Lei (PL) nº 3.729, da Lei Geral do Licenciamento Ambiental. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), incluiu o projeto na pauta de votações do plenário desta terça.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), a Coordenação de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) e o Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), além de mais 24 redes e organizações, inclusive o ISA, divulgaram uma nota em que condenam a proposta ruralista e bolsonarista.
"O Projeto, se aprovado, ainda mais sem a participação dos povos e comunidades impactados, constituirá frontal violação aos direitos constitucionais dos povos indígenas, especialmente de seus direitos territoriais. Seu objetivo é impor severos impactos às Terras Indígenas, assim como aos Territórios Quilombolas, Unidades de Conservação e áreas de proteção, bem como ao patrimônio histórico e cultural, sem que sequer sejam objeto de avaliação de impacto ou de medidas de prevenção, mitigação e compensação", afirma a nota dos movimentos e organizações.
Geller não divulgou seu texto publicamente. Portanto o parecer pode ser votado no plenário da Câmara sem nenhum debate, dentro e fora do Congresso. O documento foi elaborado a portas fechadas, com a bancada ruralista, a Casa Civil e lobbies de grandes indústrias e empresas de infraestrutura.
De acordo com o relatório, 297 Terras Indígenas ou 41% do total de áreas com processos de demarcação já abertos na Fundação Nacional do Índio (Funai) seriam transformadas em terra de ninguém para efeitos de avaliação, prevenção e compensação de impactos socioambientais de obras e atividades econômicas. Isso porque o texto de Geller prevê o licenciamento apenas para territórios já homologados, isto é, com demarcação já concluída, ou com restrição de uso para grupos indígenas isolados. O número foi levantado pelo ISA.
Algo semelhante aconteceria com os territórios quilombolas. Conforme a proposta de Geller, apenas áreas com processo de titulação concluído fariam jus ao licenciamento. Isso excluiria da análise dos órgãos ambientais 87% dos mais de 1.770 processos de oficialização de quilombos já iniciados em âmbito federal no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Trata-se da pior proposta sobre o assunto já elaborada no Congresso, na avaliação das organizações da sociedade civil que tiveram acesso a ela. O projeto generaliza isenções e a chamada licença por adesão e compromisso (uma licença autodeclaratória sem análise prévia dos órgãos ambientais), ao ponto de, na prática, acabar com o licenciamento ambiental para a maioria dos empreendimentos e atividades econômicas. O parecer de Geller chega a isentar 13 atividades com impacto ambiental (veja quadro e vídeo abaixo).
A expectativa de ambientalistas, movimentos sociais e pesquisadores é de que, se aprovado, o PL 3.729 deve fazer o desmatamento explodir, em especial em zonas de influência de grandes obras de infraestrutura e avanço da fronteira agrícola na Amazônia. Eles também temem que novos grandes desastres e crimes socioambientais, como os de Mariana e Brumadinho (MG), possam tornar-se mais comuns.
No final de 2018, alterações realizadas pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais na legislação estadual do licenciamento permitiram reduzir a classificação do porte poluidor de todo o complexo de mineração Paraopeba, da Vale, que tem uma série de estruturas, inclusive o reservatório de rejeitos da mina do Córrego do Feijão, cujo rompimento provocou a catástrofe em Brumadinho. A medida é apontada como uma das razões do desastre. Se os controles e parâmetros da legislação nacional tornarem-se menos rigorosos, aumentam os riscos de catástrofes como essa.
Geller é uma das principais lideranças ruralistas no Congresso e vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Chegou a ser preso numas das operações vinculadas à Lava Jato, em 2018. Também foi citado em investigações contra a invasão de terras públicas no Mato Grosso, em 2014, quando era ministro da Agricultura.
1. Pretende dispensar de licenciamento nada menos que 13 tipos de atividades que comprovadamente geram impacto ao meio ambiente, dentre elas: obras para distribuição de energia; outorga sobre uso da água e sistemas e estações de tratamento de água e de esgoto sanitário; ampliação ou obras de manutenção em estradas e hidrelétricas; cultivo de espécies agrossilvipastoris, de silvicultura e pecuária extensiva (mesmo que a propriedade tenha pendências ambientais!).
2. Brecha para uma disputa desleal entre estados e municípios: governadores e prefeitos, com o objetivo de atrair empreendimentos para suas localidades, poderão estabelecer regras de licenciamento menos rígidas do que outras unidades da federação (pior para o meio ambiente e prato cheio para a corrupção).
3. A licença autodeclaratória (chamada de Licença por Adesão e Compromisso), emitida automaticamente sem qualquer análise prévia pelo órgão ambiental, passa a ser a regra do licenciamento no país. Na prática, isso tornará o licenciamento exceção ao invés de regra e se aplicará a empreendimentos como barragens de rejeitos, como Brumadinho e Mariana.
4. Passa a restringir gravemente a participação popular no processo de licenciamento, inclusive das pessoas impactadas por empreendimentos, o que implica em violação de direitos dos povos indígenas e comunidades tradicionais, como as quilombolas.
5. Ameaça às Unidades de Conservação, terras indígenas não demarcadas (41% do total) e terras quilombolas não tituladas (87% do total), porque a análise dos impactos dos empreendimentos sobre tais áreas não será mais obrigatória. Isso deixará as populações e esses territórios, ricos em biodiversidade, ainda mais reféns da destruição.
6. Restrição à participação de órgãos fundamentais, como ICMBio, Funai, Iphan, Ministério da Agricultura e Ministério da Saúde, o que é inconstitucional e coloca em risco direitos dos povos indígenas, tradicionais e das populações locais afetadas pelas obras;
7. Bancos e outras instituições que financiam os empreendimentos não terão mais nenhuma responsabilidade socioambiental (prevista na Lei nº 6.938/1981), ou seja, caso haja danos ao meio ambiente ou tragédias como a de Brumadinho, elas poderão dizer que não têm nada a ver com o problema;
8. O PL não trata de qualquer questão ligada às mudanças climáticas.
O trator ruralista está atropelando nossos direitos e decretando a morte da Amazônia e de outros biomas, mas não iremos permitir. Precisamos para-los já! Escreva para o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e pressione para que retire imediatamente o PL 3.729/2004 da pauta.
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